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sábado, 25 de maio de 2024


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Frederico Amaro Haack

COLUNISTA

Frederico Amaro Haack

BINGEN, UMA CIDADE ALEMÃ EM PETRÓPOLIS.  I

O Quarteirão Bingen é, ao lado do Quarteirão Mosela, o que talvez guarde ainda a maior herança dos colonizadores germânicos, no tipo físico de muitos de seus moradores, nas casas térreas de cumeeiras e telhas francesas com pequenos jardins. Vamos considerar aqui, como início do Quarteirão a foz do riacho Paulo Barbosa, início também do Quarteirão Mosela. Seria difícil fazer entender, que o Hospital de Santa Teresa esteja no Quarteirão Ingelheim, conforme a demarcação dos prazos na Companhia Imobiliária Petropolitana. Porém. oficialmente o Bingen, começa na Curva do Gióia terminando na entrada da rua Cel. Duarte da Silveira, localidade conhecida por 17.

Por esses limites, segundo a planta de Reymarus, existiam no Quarteirão duas praças: a Praça do Bingen e a do Ingelheim, além das de Wisbaden, no limite com o Quarteirão Mosela e a de Kreuznach, no limite com o Quarteirão Darmstadt. A Praça do Ingelheim situava-se na barra do rio Delamare no lado esquerdo da rua Bingen, par da Rua Duque de Caxias, exatamente onde temos o prédio da garagem da Secretária de Obras do Município. A Praça do Bingen situava-se entre os prazos 1.207 e 1.208 do Quarteirão Bingen, onde hoje temos o entroncamento das ruas Afrânio Peixoto e Dr. Henrique Cunha com a Rua Bingen. Naquele tempo todas não passavam de pontos nos mapas, esquecidos entre prazos, ainda cobertos pela Mata Atlântica original. Não é de estranhar que tenham sido esquecidas pelas gerações posteriores e pelas autoridades, embora estas tenham se lembrado de as incluírem entre os bens municipais. O Bingen tornou-se parcialmente industrial em meados do século XX, diminuindo um pouco seu bucolismo primordial, que perde, definitivamente, com a abertura da Rodovia do Contorno em 1962, quando passa a ser via de um dos acessos à cidade. Embora houvesse residências de veranistas em suas paragens, não foi um Quarteirão especialmente escolhido para o descanso dos forasteiros, em termos de Petrópolis era muito longe o Bingi, no dizer petropolitano simples, tinha cheiro de hospital e som de apito de fábrica.

A Deliberação nº 2720, de 29 de novembro de 1968, só veio confirmar e oficializar o nome do caminho central do Quarteirão, que seguia pela margem esquerda do rio Piabanha até a foz do afluente Ave-Lallemant, no início da Rua Paulo Hervé. Atualmente seu lado par começa ao final da Rua Carlos Gomes e seu lado ímpar ao final da Rua Paulino Afonso e ambos terminam na Rua Paulo Hervé.

Bingen é uma pequena cidade alemã, às margens do Reno, nome de origem latina Bingium, fundada pelos romanos no ano 70 da nossa era. À época da fundação de Petrópolis situava-se no território do Grão-Ducado de Hesse, do qual Darmstadt era a capital.

O caminho colonial levava através do Quarteirão Bingen aos Quarteirões Darmstadt e Woerstadt, terra batida às margens do qual instalaram-se em 1845 vinte e oito famílias de colonos, entre homens, mulheres e crianças, espalhados em doze prazos, sendo os primeiros arrendatários: Andréas Schweikart, Jacob Friderich Zerban, Anne Marie Schweikart, Paulus Rheisnfeld, Bernard Pitzer, Heindrich Hoffman, Bernard Waldhelm, Wilhelm Philippi, Christobal Capallo, Susanne Boller, Johannes Straub I e Balthazar Linden. Muitos dos quais, a exemplo de outros quarteirões, alguns anos depois, já haviam deixado o quarteirão ou até mesmo a Imperial Colônia. Os que aqui permaneceram, desbravaram as matas, construíram suas moradas com o que encontravam na natureza, pouco recebiam de ajuda, criam gado leiteiro, porcos e cultivam pequenas hortas de subsistência. Houve fome nos primeiros tempos, principalmente entre as famílias daqueles colonos não habituados aos labores agrícolas em sua terra natal e que também não possuíam conhecimentos que permitissem serem aproveitados nas obras tanto do Palácio Imperial quanto nas vivendas de outros membros da corte.

Em 1857 a diretoria da Colônia manda capear com areia grossa e pedrinhas miúdas o caminho do Bingen, onde residem entre os prazos coloniais, o comendador Bernardes, membro da corte, o engenheiro topográfico Adriano Henrique Münsen. O colono Wilhelm Philippi vende um touro holandês, conforme anúncio em jornal de 1858. Exemplos da, digamos, invasão, de não-colonos e das atividades dos imigrantes. A Fábrica Werner, pioneira na industrialização do Quarteirão, foi erguida a partir do prazo 1.236-C, adquirido ao professor Frederico Stroelle em maio de 1904, pelos irmãos Maxim e Hilmar Bernard Werner, a pedra fundamental foi colocada em 22 de junho de 1904, o apito da fábrica soou pela primeira vez a 20 de outubro do mesmo ano, às 7 h. Possuía a fábrica em sua inauguração 20 teares mecânicos e 10 manuais.

Na fábrica, propriamente, havia apenas dois ou três manuais, os demais ficavam nas residências dos tecelões, uma prática que por muito tempo foi utilizada, não só pela Werner, porém por quase todas as fábricas têxteis da cidade e tornou-se uma atividade feminina, realizada pelas donas-de-casa, para ajudarem no orçamento familiar. Uma atividade que, certamente, é uma das raízes da posterior e ainda atual indústria de confecção e malharia caseiras em Petrópolis.

O transporte coletivo, por meio de auto-omnibus, como se dizia à época, foi inaugurado em primeiro de outubro de 1926, a concessão pertencia à Companhia Brasileira de Energia Elétrica (CBEE), mas não partia do centro da cidade, mas sim da Rua Piabanha, até onde chegavam os bondes.

No carnaval deste ano, cujo sábado gordo caiu no dia 23 de fevereiro, a sra. Maria Stumpf, residente à Rua Bingen, teve sua filha Maria Luíza, órfã de pai, com apenas 17 anos, raptada por indivíduo conhecido por alemão, segundo contou na delegacia.

No dia 8 de setembro de 1926 foi assassinado um idoso negro, conhecido como pai Adão, morador em um barraco à margem do caminho do Bingen. Foi seu assassino João Theobald, de 23 anos, casado com Dna. Christina Theobald. Acreditando ter o velho enfeitiçado sua esposa, tomado de um acesso de fúria, João investiu contra o pobre velho com uma espingarda de dois canos e os disparou sobre o negro, matando-o, instantaneamente. O comissário Oliveira, policial responsável pelo quarteirão, prendeu o assassino, que não ofereceu resistência.

CONTINUA...

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