COLUNISTA
A Fábrica de Sedas Bingen, nome fantasia da firma H. B. Werner e Cia. já estava no nº 1.737 da Rua Bingen, e seu telefone em 1926 era 155. Os ventos do 2ª Guerra Mundial chegaram ao Bingen, como a toda Petrópolis, com a intimidação de descendentes de imigrantes alemães, culminando em 18 de agosto de 1942, quando a massa inflamada por oradores patriotas, mas um tanto irresponsáveis, trocaram as placas dos ônibus do Bingen, rebatizando-o de Araraquara, nome de um dos mercantes nacionais, torpedeados por submarinos alemães. O povo, na verdade, jamais adotou este nome.
As fortes chuvas de 26 de março de 1945 fizeram transbordar o Piabanha por quase toda a extensão da Rua Bingen. As enormes toras de madeira, que ficavam empilhadas no pátio da Carpintaria Winter, na curva do Jóia, foram levadas pela correnteza, causando enorme destruição por onde passavam, pontes e muros destruídos, algumas foram parar na ponte do Retiro, no final da Wesphalia. Devo esclarecer que a curva do Jóia tem essa denominação popular devido ao tradicional armazém e bar pertencente a um membro da conhecida família Gioia, italiana. Também foi muito atingido pela forte chuva, sofrendo, digamos, sérias avarias, o navio, curiosa construção em forma de uma lancha com chaminé e tudo mais, construído na década de 1940, localizada dentro do Piabanha, em pequena ilha, fronteira às ruas Afrânio Peixoto e Henrique Cunha. Restaurante e bar que teve seus dias de glória, com histórias curiosas, como a de que o falecido e famoso ator Grande Otelo teria sido atirado ao rio, após desentendimento com uma namorada. O navio foi demolido em 1986. Reclamações dos vizinhos, que se diziam incomodados pelo barulho, durante as noites de fim de semana e a duplicação da rua, foram as causas de seu desaparecimento.
Em 22 de dezembro de 1959, a tragédia chega à Rua Bingen. Davam-se os últimos retoques a um loteamento, classe média, às margens da rua, próximo ao n° 844, denominava-se Vila Maria José. Uma cisterna, poço, já estava com 25 m de profundidade, quando o Sr Guilherme Noel, um dos proprietários, juntamente com o Sr. Guilherme Blezer, resolveu descer ao fundo do poço, que aguardava apenas a análise da água encontrada. O Sr. Guilherme desceu e ficou, pois o fundo do poço estava impregnado de gás carbônico, conforme se soube depois. O Sr Guilherme Blezer, preocupado com a demora do sócio, desceu em socorro e teve igual destino. Surgiu então o operário Manuel de tal que, estranhando que os dois homens não saíam, desceu e teve a mesma sorte.
Chamado o Corpo de Bombeiros, por moradores das redondezas, prontamente atenderam. Sem perda de tempo, o sargento. Guilherme Paula de Lima (o 3° Guilherme da história) Desceu ao fundo do poço e, desapareceu, causando pânico entre os bombeiros. Seguiram-no na descida os soldados Hercílio Tardelli, Mário Cantor e Manoel dos Santos, os dois primeiros também morreram.
O último soldado a entrar, Manoel, foi retirado e levado para o Pronto-Socorro e posto fora de perigo. Também foram chamados soldados do 1° BC, comandados pelo capitão Belmont e o sargento Alcebíades, e a Radiopatrulha com o comissário Sílvio de Carvalho. Os soldados do Exército utilizaram-se de máscaras contra gases, que foram ineficientes. Somente com a chegada, já à noite, de trabalhadores da CBEE (Empresa de Eletricidade), que trouxeram balões de oxigênio, foi possível chegar ao fundo do poço e resgatar os mortos. Também compareceram políticos, como o secretário de Saúde da época, o Dr. Paulo Hervé, e houve grande concentração de populares. O herói da tragédia foi o funcionário da CBEE Pedro Estácio, o qual, munido de máscara de oxigênio desceu ao poço e com grande dificuldade conseguiu retirar os corpos, um a um. Os soldados do Exército, bombeiros e policiais estavam aterrorizados, a ponto do sargento-bombeiro Manoel dos Santos desmaiar, não pelo efeito do gás, mas sim pela emoção da tragédia.
Hoje as ruas do loteamento ostentam os nomes das vítimas dessa tragédia. Quanto ao poço, foi aterrado. Não existindo atualmente qualquer vestígio, ficou no imaginário popular que o poço tenha sido fechado permanecendo um ou mais corpos em seu interior, o que não se pode afirmar, pois o fato foi amplamente divulgado pela imprensa petropolitana, e não há nenhuma menção a esse fato.
De barro no século XIX, macadamizada nos anos de 1850, a Rua Bingen foi sendo progressivamente calçada a paralelepípedos a partir dos primeiros anos do século XX, calçamento que no início da década de 1940 estava feito até ao início da então Rua Darmstadt (Paulo Hervé). Com a inauguração da Estrada do Contorno de Petrópolis, em 1963, tornou-se passagem de maior fluxo de veículos, o que tornou a sua duplicação e asfaltamento necessários e inevitáveis, obras que foram inauguradas em 1987 e a Rua Bingen, antigo caminho do Bingen, tornou-se a movimentada via de hoje.
FIM...
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