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Frederico Amaro Haack

COLUNISTA

Frederico Amaro Haack

MOSELA

O quarteirão abrange todo o vale do rio Paulo Barbosa e seus afluentes. Partindo-se de sua foz, no rio Piabanha temos primeiro o riacho Simonsen, que desce do chamado Quarteirão das Bananeiras, Rua Álvaro Lopes de Castro. Adolpho Simonsen era cidadão dinamarquês, amigo do major Koeler e foi um dos fundadores, em 1840, da Sociedade Germânia, na cidade do Rio de Janeiro. A seguir, o riacho Porto Alegre, que deságua à esquerda do Paulo Barbosa, à altura da Rua Batista da Costa e seu trecho final é canalizado desde a década de 1930. Manoel de Araújo Porto Alegre, também conhecido de Koeler, era artista, pintor. Ainda das montanhas do Bataillard e das Pedras Brancas descem, respectivamente, dois córregos, ambos totalmente canalizados, desde as décadas de 1960/70. O riacho Paulo Barbosa, homenagem ao mordomo da Casa Imperial, Paulo Barbosa da Silva, considerado um dos fundadores da cidade, nasce nas alturas da atual Rua Alberto de Oliveira e deságua no Piabanha, atravessando todo o quarteirão.

Na Planta de Koeler apareciam duas praças no Quarteirão Mosela, a Praça de Wiesbaden, logo no início do quarteirão, entre os prazos 644 e 670, ainda no Quarteirão Nassau, à margem esquerda da confluência dos rios Paulo Barbosa e Piabanha e a Praça Trier, a qual estava em um meandro, não mais existente, do rio Paulo Barbosa, na altura das atuais ruas Major Sérgio e Professor Monken, em partes dos prazos 807 e 808, cedidos aos colonos Estephan Gehren e Christian Keupper, respectivamente. Tais praças já não se encontram na planta de Reymarus (1854). Outras duas praças existem hoje, em locais diversos, no quarteirão.

As primeiras famílias que receberam prazos no Quarteirão Mosela, ainda em 1845, foram as de: Peter Lochen; Johannes Adan Joechen; Johannes Dupré; Friederisch Hannemann; Peter Andreas; Johannes Bury; Karl Weber; Wilhelm Monken; Christian Kolling; Karl Scherer; Heidrisch Peter Flaeschen; Mathias Thess; Phillipe Blaten; Johannes Noel; Daniel Dohn; Peter Lorang; Bahbra Fecher; Johannes Peter Mees; Johannes Burger; Johannes Mosch; Peter Kronemberger; Christian Keuper; Nicholas Gorins; Adan Janz; Johannes Conrad Pfeifer; Nicholas Herres; Magnus Kling; Phellipe Martini; Johannes Jacob Merker; Johannes Georg Tannein; Mathias Biehl; Steban Gehren; Phillipe Molter; Paulus Schitz; Friederich Karl Stumm; Suzanne Frideriches; Phillipe Eiffeler; Jacob Pfeifer; Franz Mahler; Friederich Karl Lischt; Mathias Klingel; Magnus Heuper; Johannes Friederich Wildberger; Johannes Peter Wilbert e Franz Blatt.

Das Moselthal (O Vale do Mosela), como os primeiros colonos diziam, é um substantivo masculino, pois se refere ao rio Mosel, dos alemães ou rio Moselle, dos franceses. Apresentava, segundo o relatório do escrivão Frederico Damcke, em 31 de dezembro de 1846, a seguinte realidade: 56 famílias, com um total de 242 colonos, sendo 118 homens e 124 mulheres. Deste total, 223 haviam chegado em 1845 e 19 no ano seguinte. Existiam ainda sete habitantes não colonos, três brasileiros, duas portuguesas e dois alemães. Segundo a religião, eram 164 católicos e 78 evangélicos, dos sete não colonos, cinco eram católicos e dois evangélicos. Pelas profissões havia: um marceneiro, seis carpinteiros, dois sapateiros, um tecelão de meias, um carvoeiro, um vidraceiro e 52 sem profissão definida. Neste ano de 1846, no Quarteirão Mosela morreram 20 pessoas e nasceram sete, realizaram-se oito casamentos. 64 prazos já haviam sido distribuídos e 42 casas construídas. Para se fazer uma comparação, em 1962 a Prefeitura tinha em seu cadastro 1.587 construções.

As primeiras casas coloniais eram de madeira e telhados em folhas de zinco, a cozinha era o cômodo central da residência, os homens trabalhavam, a maior parte deles, como nos outros quarteirões coloniais, nas obras do Palácio Imperial e em casas da aristocracia. Os demais, mulheres e crianças, trabalhavam em pequenas hortas e criação de gado leiteiro, confinado em cocheiras, criação de porcos e aves. Produzia-se também carvão vegetal aproveitando a vegetação vigorosa, que em poucos anos foi devastada, plantando-se capim em seu lugar para a criação de gado. A caça, indiscriminada, tradição alemã nas primeiras décadas da colônia, dizimou a fauna: pacas, preás, tatus, gatos-do-mato e até onças desapareceram por completo. A vegetação, em boa parte, se regenerou, com passar dos tempos, porém a fauna jamais, mesmo pássaros hoje são muitos poucos, em relação à variedade primordial que encantava os colonos e a corte.

A vida era muito dura, de sol a sol se trabalhava, homens, mulheres e crianças, sem descanso, a produção era vendida no Quarteirão Vila Imperial, as crianças, principalmente, eram encarregadas do comércio. Bem cedo passavam carrocinhas transportando verduras, leite, queijos, geléias e carvão, muito carvão que se produzia no Alto Mosela e Pedras Brancas, para abastecer fogões e aquecedores da aristocracia imperial, que gostava de realizar passeios em suas carruagem pela Mosela e se sentir na Europa, vendo as crianças loirinhas, as moças vigorosas e faceiras, como as aldeãs românticas das óperas e balés. Essas mesmas mulheres, mães e filhas de imigrantes alemães, um dia se revoltaram, um pouco pela vida que lavavam e mais por desagravo ao padre Wiedmann, por conta de uma caixa de esmolas que ficava na Praça da Confluência, local de culto e missas campestres. O padre se desentendeu com o diretor da Colônia sobre a forma como eram tratados os colonos, conterrâneos seus e a caixa de esmola foi estopim. Expulso pelas autoridades da Colônia, se refugiou na Mosela. Armadas com as espingardas e garruchas seus homens, as mulheres do quarteirão rechaçaram o pequeno destacamento policial da Diretoria da Colônia, enviado para capturar o padre. A 2 de março de 1855 a revolta é contida pela Guarda Nacional, enviada pelo presidente da Província. A operação não foi divulgada, pelo contrário, procuraram as autoridades encobrir o episódio, pode-se apenas conjeturar. Com carinho foi abafada a rebelião, com certeza, e uma passividade congênita, parece, tomou conta de todos os colonos.

Entre as lendas do Quarteirão Mosela está uma sobre um escravo negro fugido, que foi encontrado por um caçador vagando pelas matas próximas. Preso, teria sido exibido em uma jaula e despertado a curiosidade de todos aqueles que jamais haviam visto um homem de pele negra, até que a polícia o veio levar. Contam que o local de exibição de tão curioso troféu tenha sido próximo ao local onde hoje se ergue a Igreja de São Judas Tadeu.

Em 1926, mais precisamente, em 5 de agosto deste ano, aconteceu o primeiro acidente com avião em Petrópolis, precisamente no Quarteirão Mosela. Um avião AVRO, da Marinha Brasileira, pilotado pelo segundo-tenente Jorge Kfuri, que seguia para Juiz de Fora e sofreu uma pane no motor. Como conhecia a cidade, o tenente resolveu pousar em campo aberto na Mosela, mas ao se aproximar percebeu haver várias pessoas neste espaço, sendo obrigado a dirigir a aeronave em direção a um bambuzal localizado entre as residências da viúva Thereza Stumpf e a do tenente Frederico Carlos Stumpf, porém, mesmo assim atingiu o senhor Paulino Garcia, carpinteiro, que sofreu escoriações. Ao piloto nada aconteceu e a aeronave, bastante danificado, foi levado e guardado por militares do 1º BC. O tenente Kfuri desceu para o Rio de Janeiro no trem das 15h55h do mesmo dia. Posteriormente, o AVRO, desmontado, foi levado pela Estrada de Ferro até sua base, na então Capital Federal (Rio de Janeiro).

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