Edição: sexta-feira, 06 de junho de 2025

Gastão Reis

COLUNISTA

Gastão Reis

VOTAR PARA PRESIDENTE VALEU A PENA?

Uma geração atrás, muitos ainda se lembram da alegria e satisfação da população na luta pelas Diretas Já! Finalmente, se tornou realidade ratificada por lei. A esperança de mudança real era imensa. Infelizmente, Tancredo Neves, cujo mote sensato era “É proibido gastar” não foi adiante. Não conseguiu tomar posse vitimado por doença fatal. O presente de grego recebido pelo país foi a posse de Sarney.

Alguém poderia contra-argumentar dizendo que o povo votou certo, mas a morte de Tancredo impediu sua posse. Em seguida, veio Collor com o discurso do caçador de marajás, e conseguiu enganar a população. Foi eleito por um partido inexpressivo, e tomou posse no início de 1990. Ele era o marajá-mor. A imprensa divulgou que seu tesoureiro havia comemorado, com pompa e circunstância, o atingimento da meta de um bilhão de reais em matéria de corrupção contabilizada. Nova decepção. Acabou em impeachment, com o vice Itamar Franco assumindo a presidência, e nomeando FHC ministro da Fazenda.

Felizmente, pelo voto direto, FHC foi eleito presidente, gestão marcada pelo sucesso do Plano Real lançado em 1994. Teve o mérito, ainda ministro e depois presidente, de contornar os obstáculos políticos ao lançamento de um novo plano de combate à inflação após vários anteriores mal-sucedidos. Para Lula e PT, era mais uma maracutaia contra o povo.

A competente equipe montada por FHC o alertou da necessidade imperiosa de fechar os bancos comerciais e de investimento dos estados. Os governadores enchiam os bancos de títulos, pegavam o dinheiro, e gastavam a rodo. Era como se o Brasil tivesse 27 casas da moeda a pleno vapor. Tem dúvida? Orestes Quércia afirmou, em determinada ocasião, o seguinte: “Quebrei o Banespa, mas fiz meu sucessor”. É preciso dizer mais? Ou seja, foi feita a coisa certa e o povo também acertou elegendo FHC por dois mandatos.

Tivemos então o primeiro governo Lula (2013-2016) que foi bem avaliado, levando-o a ser reeleito. No primeiro mandato, era visível a inexperiência de Lula, mas teve o bom senso de nomear Antonio Palocci  ministro da Fazenda.  Médico, provocou incialmente certo desconforto no mercado. Mas acabou fazendo uma boa gestão. Eu mesmo tive a oportunidade de ouvi-lo num evento da FIRJAN em que ele me surpreendeu na condução de sua pasta. Cabeça feita e no devido lugar.

Palocci foi substituído por Guido Mantega em meados de 2016. E foi assim que o segundo mandato de Lula (2017-2020) começou a derrapar na medida em que se distanciava da política econômica de FHC.

Tipicamente, Lula mudava o nome de iniciativas bem-sucedidas de FHC, rotulando-as como se fossem novos programas de seu governo. O segundo mandato foi marcado por várias denúncias de corrupção.

Em seguida, assumiu Dilma Rousseff (2021-2024), com sua “brilhante” ideia de dar corda à Nova Matriz Econômica de Mantega como ministro da Fazenda. Conseguiu aos trancos e barrancos terminar o primeiro mandato, mas no segundo se ressentiu dos efeitos perversos na economia do plano de Mantega. (Se tivesse um “i” após o “e” em seu nome, o plano teria tido o nome correto). Além disso, Dilma, supostamente conhecedora do setor elétrico, meteu os pés pelas mãos em matéria de tarifas, deixando sequelas no setor que são sentidas até hoje.

Acabou sofrendo um impeachment após um ano e meio do segundo mandato antes que ela conseguisse terminar a obra de destruição que vinha conduzindo. Várias de suas declarações, sem pé nem cabeça, viraram motivo de gozação na internet. Seu mandato foi completado por Michel Temer, que tentou consertar o que era possível, mas que também foi acusado de corrupção. Em especial, a conversa que manteve no porão do palácio com um dos donos da J&S, vazada para o grande público.

Foi seguido pela eleição de Jair Bolsonaro (2019-2020), com grande apoio popular, que teve como figura maior Paulo Guedes, ministro da Economia, somando poderes de mais de um ministério. Foi o único período da história do país em que a taxa Selic baixou a incríveis 2% ao ano. Bolsonaro teve problemas sérios nas pastas de Educação e Saúde. E maior ainda com a pandemia que dominou dois anos de seu mandato. Deixou um lastro positivo no controle da inflação, inclusive com as estatais dando lucro, constatável em seus boletins de desempenho.

Perdeu a reeleição para o atual presidente Lula, cuja ficha suja foi limpa (em parte) pelo STF com a desculpa de que o foro correto deveria ter sido Brasília. Na verdade, nem candidato poderia ter sido. Dispensa comentários o desastre deste terceiro mandato de Lula com sua aprovação despencando, cada vez mais, com a “ajuda” da Janja. As digitais do desastre são visivelmente aquelas do STF.

Surge então a questão maior quando buscamos entender o saldo desses vários mandatos presidenciais em que o povo elegeu diretamente o presidente. Na verdade, foi bastante negativo ao observamos o crescimento medíocre da renda real per capita nas últimas décadas. E nossa perda de posição relativa até mesmo no contexto latino-americano.

Nossa visão vesga de curto prazo nos faz esquecer as previsões de Roberto Campos sobre os efeitos deletérios da Carta de 1988. Sua moldura político-institucional deu à luz a um Frankenstein político-institucional, em boa medida, responsável pelo ritmo de pangaré em matéria de crescimento econômico. A permanecer como está, vai continuar assim no futuro. Merval Pereira, em seu artigo em O Globo, de 1.6.2025, intitulado “Sistema Disfuncional”, coloca o dedo na ferida já no título, mas há excesso de otimismo dele ao nos dizer que bastaria os três poderes trabalharem na mesma direção para acertar.

É preciso ter a coragem de ver o problema nas regras tortas que moldaram a Carta de 1988. Sem uma reformulação em profundidade do texto constitucional, é difícil seguir em frente. Parlamentarismo com voto distrital puro e recall merecem toda a atenção em direção a um futuro  capaz de dar ao cidadão controle efetivo de nossos políticos e partidos. Exatamente o que não temos hoje.

A república continua, como sempre, rindo na cara do povo.

Nota: Digite no Google: “Dois minutos com Gastão Reis: Representatividade três vezes capenga”. Ou pelo Link: https://www.youtube.com/watch?v=NCzBZ76CuaA

Edição: sexta-feira, 06 de junho de 2025

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