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Gastão Reis

COLUNISTA

Gastão Reis


O GESTO DE MORAES E A IRRESPONSABILIDADE DOS POLÍTICOS

O gesto grosseiro do Ministro Alexandre de Moraes ao ser vaiado pelo estádio a que foi ver o jogo do Corinthians no último domingo é emblemático do que o ministro sente pelo povo brasileiro. O dedo médio em riste com os demais   dobrados é mais que revelador. Do ponto de vista estatístico, o sentimento de indignação do público, por ser uma amostra representativa, onde temos ricos, remediados e pobres na plateia, traduz o repúdio do povo brasileiro ao ministro Moraes. E respalda o que disse o desembargador aposentado Sebastião Coelho sobre o clima de ódio da população em relação aos membros do STF.

Mas não é só isso. Além do evidente pendor autoritário de Moraes, para não dizer ditatorial, traduz ainda o pouco caso do ministro em relação a quem lhe paga os proventos de membro do STF, ou seja, o Povo, assim com letra maiúscula. Nessa linha, ele se irmana ao que foi dito pelo ministro Barroso no Festival Literário Internacional de Petrópolis, cuja primeira edição se deu em maio de 2004, ao fazer uso da palavra como convidado.

Barroso, ao falar, depreciou em certo momento a colonização portuguesa, o que bate de frente com as últimas pesquisas, em especial a dos Professores Bacha, Tombolo & Versiani, a ser publicada, em setembro próximo, no Journal of Iberian and Latin American Economic History. O ministro estava, e está,  desatualizado em relação à História de seu próprio país a despeito de ocupar posição de relevo na estrutura de poder do Patropi. Afinal, seu nome completo, Luís Roberto Barroso, é revelador de sua ascendência de origem portuguesa.

As últimas manifestações populares ocorridas, em várias cidades, no domingo e na própria segunda-feira, 04/08/2025, em Brasília, esta convocada pelo mesmo Sebastião Coelho, põem à mostra o fato de que a paciência da população brasileira está se esgotando face aos desmandos de Moraes e à cumplicidade da maioria dos membros do STF. Esta mesma maioria vem lhe permitindo tomar decisões monocráticas graves que exigiriam a manifestação do plenário da Corte. Tudo leva a crer que a voz rouca das ruas vai aumentar de tom e volume.

Vejamos agora, neste contexto, os últimos e conturbados acontecimentos envolvendo Trump, Bolsonaro e Moraes versus omissão vergonhosa do senado. A ocupação, nos dias 5 e 6 de agosto corrente, das mesas da câmara federal e do senado pela oposição vem sendo vista por seus respectivos presidentes como um ato arbitrário da oposição. Curiosamente, o senador Alcolumbre mantém vale repetir! vergonhosa omissão quanto às arbitrariedades do ministro Moraes denunciadas por juristas e advogados de renome nacional.

A reação contra o tarifaço de 50% de Trump, já amaciado por isentar cerca de 700 produtos que exportamos, vem sendo visto, como de fato é, como ato indevido de intervenção de Trump em assuntos internos do Brasil. Reagir, como Lula vem fazendo, na base de atiçar os brios patrióticos da população encobre sua incompetência em agir com a cabeça fria em defesa dos reais interesses do País ao invés de buscar se cacifar com vistas às eleições de 2026.

A aplicação da Lei Magnitsky contra Moraes é sintomática da elevação da temperatura política entre o Brasil de Lula, sem respaldo popular, e os EUA sob Trump. Para colocar mais lenha na fogueira, Lula afirma que vai ficar mais ‘esquerdista e socialista’, novamente sem maior apoio popular. Afinal, a população brasileira está muito bem-informada quanto às carências brutais dos povos venezuelano e cubano sob a batuta da inepta esquerda socialista sul-americana.

Em entrevista recente, Roberto Azevedo, renomado ex-presidente da agora fragilizada OMC Organização mundial do Comércio, afirmou que o primeiro requisito a ser atendido para avançar nas negociações é que as partes queiram conversar. Segundo ele, Washington e Brasília (no caso, Lula) não querem negociar. Estariam sendo queimadas as pontes que poderiam tornar possível algum tipo de solução benéfica para ambas as partes.

Mas seria apenas implicância de Trump com as posturas de Lula? Esta é uma visão um tanto simplista dos fatos. Na verdade, o Brasil nos EUA é visto hoje como uma democracia disfuncional em que nossa crise política tem efeitos econômicos concretos prejudiciais ao País. Para os americanos, o símbolo mais evidente desta disfunção é o STF. A Carta de 1988 abriu espaço para aquela jabuticaba jurídica que permitiu ao Judiciário se sobrepor aos demais poderes. E é este diagnóstico quase unânime que vem sendo feito aqui na terra brasilis.

Em artigo recente, chamei a atenção para a disfunção do Trump em matéria de teoria e prática econômicas. Guerras tarifárias não têm histórico de acabar bem. O caso do ministro Moraes, por sua vez, já assumiu proporções internacionais como alguém que não respeita práticas jurídicas consagradas, passando mesmo por cima da constituição em determinadas situações. Sair em defesa de Moraes é passar por cima das arbitrariedades cometidas por ele.

Uma delas, gravíssima, levou à morte um preso do 8 de Janeiro em que Moraes ignorou as diversas petições de seus advogados solicitando a liberação de seu cliente para tratamento médico.

O lado patético (e humilhante) nos últimos entreveros em torno do tarifaço foi a omissão dos políticos em torno do óbvio: a necessidade de tomar providências quanto às arbitrariedades cometidas pelo ministro Moraes. Foi necessário que um presidente estrangeiro batesse nesta tecla, que é exata-mente a mesma cobrada pela população brasileira. A prova cabal está no percentual da última pesquisa Datafolha. A percepção de 78% dos entrevis-tados é que os parlamentares atuam em favor de seus interesses pessoais, sem  espaço para o interesse público.

Fica claríssima a irresponsabilidade dos políticos brasileiros, com as hon- rosas exceções de praxe. É a cara de uma república que nunca levou a sério o bem comum. Nossa brutal desigualdade é a prova do crime de lesa-povo.

Nota: O livro bem documentado do deputado federal Luiz Philippe de Orleans e   Bragança, intitulado “Império de Verdades”, presta um grande serviço ao Brasil

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