COLUNISTA
A pior atitude que se pode tomar diante de um adversário (ou inimigo) é subestimar sua capacidade de nos causar danos. E danos severos. Pois é exatamente isso que o (des)governo Lula, aqui incluso o STF, vem fazendo ao reagir às pressões americanas com uma receita que mistura incompetência com patriotada. É hora de usar cabeça fria e senso de realidade diante do adversário. E não continuar a brincar com fogo, como vem fazendo o presidente Lula em reiteradas declarações de provocação a Trump em prejuízo do Brasil. A curto prazo pode parecer o oposto, mas a longo prazo quem perde somos nós.
Não obstante não acreditar em Freud (nem em Marx), talvez seja apropriado recorrer ao instrumental freudiano de análise para tentar saber o que vem ocorrendo com a cabeça do sr. Lula. Ele sabe, perfeitamente, que seu terceiro mandato foi uma armação do STF, que reabilitou sua candidatura a presidente sem antes dar um veredito final quanto aos crimes por que foi julgado, condenado e preso com base no pífio argumento de que o foro deveria ter sido Brasília, e não, Curitiba.
Mas não é só isso. Ele perdeu a eleição nas quatro grandes regiões geo-gráficas do País, só tendo sido vitorioso no Nordeste. Elas compõem cerca de 75% da população brasileira, onde nasceu uma oposição vigorosa que passou a ser majoritária, após as eleições, na câmara federal e no senado. É mais um episódio da disfuncional esquizofrenia presidencialista em que o presidente assume sem ter maioria no Parlamento, coisa que jamais ocorreria no parlamentarismo, tradição nossa, de quatro séculos, na colônia e no Império.
Quando examinamos as pesquisas de aprovação e desaprovação do governo Lula pelas grandes regiões geográficas, a rejeição por desaprovação continua a ser maior em quatro delas e menor só no Nordeste.No total, a aprovação melho-rou, mas a desaprovação continua na casa dos 51%. A impressão que fica, e aqui entra Freud, é que Lula se ressente dessa rejeição oriunda da maior parte do País. E parte para uma vingancinha, rindo na nossa cara, sempre que pode.
Além de várias catucadas em Trump, a última foi um primor de inépcia. No jardim do palácio do Planalto, ele se deu ao luxo de plantar uma videira. E aproveitou a ocasião para mandar um recado a Trump sutil como um touro numa loja de cristais. Disse que estava plantando comida e não ódio. Era um soco no estômago, justo em quem busca pôr termo à guerra da Ucrânia ao passo que Lula mal esconde seu apoio à Rússia e à China. Chegou mesmo afirmar que a Ucrânia, invadida, era a culpada pela guerra. Pode?
Para piorar tudo, o desinformado ministro do STF, Flavio Dino, afirma que que sanções de outros países não valem no Brasil. Os EUA sabem disso, mas deram o troco contra a defesa subjacente de Moraes, deixando claro que “Moraes é (inclusive para a opinião pública brasileira, digo eu) tóxico para todas as empresas e indivíduos legítimos que buscam acesso aos EUA e a seus mercados” e que “nenhum tribunal estrangeiro pode invalidar as sanções dos EUA ou poupar alguém das consequências graves de violar a Lei Magnitsky (LM).
Em 01/08/2025, Alexandre de Moraes, disse que ia ignorá-la, e foi apoiado pelos ministros Gilmar Mendes, Luís Barroso e Flávio Dino, revelando profunda ignorância das consequências sinistras para o País de tal postura.
As armas da guerra financeira de que dispõem os EUA são as seguintes: (i) corte das artérias de comunicação dos bancos brasileiros com os bancos internacionais; (ii) aplicação do protocolo automático de escala que vai num crescendo de sanções contra o Brasil; (iii) apagão digital em que as empresas Amazon, Microsoft, Oracle, Cisco e WWare interromperiam seus serviços no Brasil, ou seja, morte digital; (iv) transformação das commodities brasileiras em produtos tóxicos por difamação; e (v) pressão contra o Brasil junto a seguradoras internacionais, que controlam 95% dos seguros feitos pelo país em suas transações comerciais internacionais, praticamente inviabilizando-as.
Vamos imaginar agora, caro(a) leitor(a), que você estivesse em plena selva africana, desarmado, e notasse que estava sendo perseguido por um tigre. Certamente, a última coisa que faria era provocá-lo em sua direção. Ou então munir-se de um rifle que pudesse matar o tigre. Mas não parece ser o que está ocorrendo com as reações do atual governo federal brasileiro e do STF. Estão acenando para o tigre sem se dar conta do canhão de medidas listadas acima à disposição de quem pode dispará-lo. Parece disposição de terra arrasada contra o Brasil por parte de quem deveria defendê-lo.
Em contraposição, tomemos o caso do México. Um velho ditado local, muito citado, era o seguinte: “Pobre México. Tão longe de Deus e tão próximo dos EUA”. Não obstante as afrontas americanas sofridas pelo México ao longo de sua história, a atual presidente do México, Claudia Sheinbaum, não se deixou levar por rancores velhos de guerra. E tomou decisões práticas ao se sentar e conversar como o presidente Trump, conseguindo chegar a um acordo.
A defesa da soberania nacional é compreensível, mas precisaria ser usada de modo muito mais habilidoso do que Lula&(má)Cia. vêm fazendo. Imagino o Barão do Rio Branco se revolvendo na cova diante de tamanha incompetência. Nessas horas, ainda que em situação diferente, é reconfortante relembrar a competência dele ao tratar de uma questão de fronteira com a Argentina. O presidente dos EUA na época foi aceito como árbitro.
O representante da Argentina, Estanislao Zeballos, resolveu comprar o presidente Cleveland e os delegados americanos com jantares e festas na embaixada argentina em Washington. O Barão, por sua vez, trancou-se em seu gabinete na embaixada brasileira, e trabalhou duramente na peça de defesa da posição brasileira. E saiu-se vitorioso. As explosões posteriores de raiva de Zeballos de nada adiantaram diante da derrota.
Tempos de competência sem patriotadas, que nos deixam saudades.
Nota: Digite no Google “Gastão Reis: Quando o Brasil perdeu o rumo da História”, ou link: https://www.youtube.com/watch?v=gtg4NGdjBbQ&t=19s
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