COLUNISTA
Dias atrás, resolvi me atualizar investigando em que pé está o QI (Quociente de Inteligência) médio dos habitantes do Patropi. Qual não foi a minha surpresa quando constatei que ele havia diminuído nos últimos 10 anos. Decresceu de 87 para 83. E ficou abaixo da média mundial de 100. Fiquei intrigado com a situação e resolvi dar tratos à bola para entender mais a fundo o que realmente está acontecendo com a inteligência nacional. Tenho más e boas notícias a dar.
Contrariamente ao usual, vou começar pelo lado negativo. Diferentemente do que se pensava, o QI não é uma fatalidade genética, aquele atributo com que você nasce e morre com ele. Nesta concepção fatalista, durante muito tempo, foi usado para a defesa de posicionamemtos racistas, em especial nos EUA. O objetivo era colocar os negros em patamar inferior ao dos brancos. Genética tem seu peso, mas não pode ser vista como determinante. Pessoas saudáveis tendem a ter uma prole saudável, por exemplo. Mas pessoas em más condições de saúde podem ser tratadas e reconqueitar o satus de saudáveis.
A tradição inglesa, herdada pelos americanos, de respeitar os números é bastante positiva. Vai na linha de os números não mentem. Claro, quando medidos adequadamente, sem qualquer tipo de viés, sempre presente em quem está movido por más intenções. Respeitado este quesito de honestidade intelectual, os números são amigos da verdade dos fatos. Inclusive permitem observar mudanças importantes e desabonadoras de certos preconceitos ao mudarem ao longo do tempo.
Foi exatamente isto que aconteceu com o QI medido ao longo do tempo. Exemplos abundam com o caso de diversos países cujos QIs tiveram avanços significativos ao longo da linha temporal de medição. No caso de Portugal, houve ganhos significativos dos alunos e alunas. Obviamente, isso decorreu de um esforço do governo português no sentido de melhorar a qualidade da educação nos níveis fundamental e médio. Existe uma forte correlação entre qualidade do ensino e avanços no QI médio da população. E seria surpreendente que não houvesse.
No passado, os números referentes a escolas só de negros comparados aos das escolas exclusivas para brancos mostravam um melhor desempenho para estas últimas. Isto levou governos estaduais e federal dos EUA a tomar medidas favoráveis à elevação da qualidade do ensino ministrado nas escolas negras. E não foi só na linha de melhorar a qualidade dos professores negros, mas indo também na direção de ter maior integração racial entre os professores, ou seja, abrir espaço para professores brancos qualificados darem aulas em escolas negras e vice versa.
Vejamos agora, neste contexto, como se encaixa a queda do nosso QI. É fato público e notório que a qualidade do ensino fundamental e médio nas escolas públicas brasileiras deixa muito a desejar. O desempenho das escolas privadas é razoavelmente melhor. Pesquisas realizadas comprovam que mais tempo de permanência nas escolas tem peso significativo na melhoria do desempenho dos alunos. E o Brasil está muito atrasado em implementar o ensino em tempo integral para todos.
A diferença entre as escolas públicas e privadas tem explicação. No ensino privado, a cobrança por resultados da direção da escola aos professores, sob pena até de demissão, é bem mais rigorosa do que nas públicas. No ensino público, os parâmetros de desempenho não são perseguidos com o mesmo rigor em função de uma estabilidade precoce de que gozam os mestres. Ainda me recordo de um caso de um professor desnaturado que dava uma aula medíocre na escola pública e, depois, atravessava a rua, e dava uma aula decente numa escola privada. Claro que não é um exemplo generalizável. Mas a cobrança mais suave nas escolas públicas não ajuda a melhorar a qualidade.
[C O N T I N U A]
Antes que você , caro(a) leitor(a), pense que estamos diante de uma fatalidade, está na hora de abordarmos o lado ensolarado da calçada. Uma pesquisa da Profa. Carmen Flores Mendonza nos traz boas notícias em relação ao desempenho brasileiro quando medido por pessoas que tiveram acesso à educação de nível superior. Ela nos informa que o capital humano destas pessoas compete em magnitude e qualidade com o de países desenvolvidos.
Por outro lado, ela faz uso equivocado ao afirmar que o Brasil teria tido um dos maiores crescimentos do PIB ao longo do século XX para explicar o referido crescimento excepcional do País com efeito positivo sobre nosso QI. Embora seja um lugar comum, não parece ser o caso quando recorremos à pesquisa dos Profs. Bacha, Tombolo & Versiani sobre o crescimento do Brasil no século XIX em que o Império teve um aumento da renda real per capita semelhante ao do resto do mundo de então em torno de 0,9% ao ano.
Na verdade, o Prof. Edmar Bacha contesta, de modo fundamentado, esse desempenho excepcional do Brasil em artigo recente, publicado em O Globo, em 06.10.2025, intitulado Nova História Econômica. Na verdade, teria sido menor do que o anunciado aos quatro cantos. O que ocorreu foi que, no final do Império, o Brasil vinha acompanhando o crescimento do resto do mundo. E tomou um tombo violento na última década do século XIX com a chegada da república implantada com um golpe militar em 1889.
O retrocesso havido na última década do século XIX, já na república, levou a uma redução significativa do PIB brasileiro, cujo desempenho havia sido muito bom na década de 1880. O que aconteceu foi que o PIB, medido a partir de um patamar de queda significativa, saiu de um nível muito baixo, permitindo que a medição feita parecesse extraordinária na virada do século XIX para o XX, e ao longo deste último.
A conclusão final é que a república não levou a sério o esforço necessário para que o Brasil desse um salto qualitativo na educação pública de qualidade no ensino básico. E foi assim que nosso QI pedeu fôlego, abrindo mão de ter sido bem maior do que é hoje face ao descaso em relação à educação pública de boa qualidade.
Nota: Digite no Google “Gastão Reis: O desrespeito aos professore(a)s”, ou pelo link: https://www.youtube.com/watch?v=wUel-PmuI3c&t=8s
Autor: Gastão Reis
Economista, palestrante e escritor . E-mails: gastaoreis2@gmail.com
Contatos: (24) 9-8872-8269 ou (24) 2222-8269
Veja também: