COLUNISTA
A Ministra Marina Silva em entrevista ao jornal O Valor Econômico de segunda-feira, 23 de setembro de 2024, ao ser perguntada se era otimista ou pessimista a respeito do futuro do planeta, respondeu apenas que era persistente, deixando a nós, leitores, a impressão que se referia à luta que empreende contra incendiários de florestas, que chama de criminosos ambientais e de outros integrantes do governo do qual faz parte que advogam a exploração do petróleo na Amazônia. A estes segundos poupa a designação de criminosos, embora em outro trecho da reportagem aponte que lhe parece essencial o fim da utilização de combustíveis fósseis, posição que seria enfatizada pelo presidente Luís Inácio no discurso recente efetuado na ONU.
Tanto as declarações da Ministra quanto a do Presidente da República são suficientemente escorregadias para acomodarem fatos como a exploração do petróleo na margem equatorial, o financiamento do BNDES ao grupo JBS, o maior produtor de carne bovina do mundo, e a vista grossa à turbinagem da exploração de minérios em áreas protegidas, o que até já provocou uma inusitada manifestação do STF.
Para ser eficaz na sua persistência, a ministra poderia se inspirar em exemplos como a operação follow the money, adotada na repressão ao tráfico ou no singelo fechamento dos ferros-velhos do Centro do Rio que se alimentavam do roubo de cabos das concessionárias ou de pedaços das estátuas de bronze que ornamentavam os parques públicos. No caso de se adotar este tipo de ação contra os lucram com os malfeitos, além de corretamente prender os tais criminosos ambientais, no tocante às queimadas, duas medidas parecem essenciais: 1 - desestimular por todos os meios possíveis a pecuária bovina, responsável diretamente pela expansão das pastagens, desmatamentos e incêndios. O boi é um péssimo conversor de proteína vegetal em proteína animal e o uso da terra no Brasil é responsável por cerca de 60% das emissões de gases do efeito estufa. Há que se focar nos frigoríficos, nos transportadores de gado em pé, na limitação progressiva das exportações de gado bovino e outras medidas que, no atacado, combatam estas causas que enfrentar no varejo não têm mostrado sucesso; 2 - Há um enorme trabalho de pesquisa, informação e divulgação para substituir o grande desperdício de energia e degradação do solo causado pelas queimadas, o que pode ser feito pela restauração das florestas nativas, reflorestamento e incentivo à produção do biometano e dos combustíveis da biomassa. O Brasil oferece oportunidades excepcionais para o uso destes combustíveis renováveis e poderia promover maior uso de veículos híbridos, movidos a tais combustíveis, o que dispensaria a mineração em grande escala de terras raras e outros escassos minerais.
O que chama a atenção no discurso oficial é o primarismo das ações sugeridas em contraposição aos nobres objetivos e metas anunciados. O governo trombeteia grandes ações, mas não adota medidas inteligentes que possam vir a produzir os efeitos desejados. Infelizmente, esta enganação do público, que pode possuir um componente de autoengano, evita o progresso das medidas necessárias que, aqui e ali, são levantadas por alguma empresa ou universidade.
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