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José Luiz Alquéres

COLUNISTA

José Luiz Alquéresz

UMA LEITURA ALTERNATIVA DO RESULTADO DAS ELEIÇÕES


Domingo, dia 6 de outubro de 2024, o Brasil foi dormir com uma sensação diferente. As eleições para prefeito e vereadores nos quase 6 mil municípios nacionais haviam se realizado com tranquilidade e foram processadas e publicadas, tendo seus resultados sido aceitos pelos candidatos concorrentes.

Pode parecer pouca coisa, mas não é, haja visto exemplos recentes dos Estados Unidos da América e também na Venezuela de Maduro, este tiranossauro que resiste à extinção da sua espécie. Os resultados surpreenderam também pela mudança do perfil dos eleitos, se comparado com o das eleições precedentes. Se em 2022 a eleição apontava para uma grande esperança em que um modelo diferente de gestão da coisa pública poderia resolver ou mitigar algum dos principais problemas brasileiros, na eleição de 2024 o que se viu foi um deslocamento da esperança quanto a mudança da ação de governo para ação das pessoas.

Eu explico, uma recente pesquisa realizada em São Paulo ouviu algumas centenas de pessoas, homens e mulheres, que haviam progredido economicamente e socialmente na última década. A pergunta básica era à que atribuíam o seu sucesso. As respostas se concentraram, em primeiro lugar, no esforço próprio em superar dificuldades de diferentes tipos. Em segundo lugar, foi apontado o apoio da família. Em terceiro lugar, o apoio de amigos e associações de proximidade, como de vizinhos, colegas profissionais e outros grupos de adesão voluntária. O recebimento de apoio do Estado, em suas diferentes formas, ficou relegado a um sexto ou sétimo lugar.

Vamos imaginar, à luz dos resultados da pesquisa acima, que tipo de candidato ou de programa de partido político estas pessoas votariam: a conclusão que parece bastante clara é que candidatos com promessas mirabolantes de criação de programas assistenciais que contemplem todas as necessidades de alimentação, transportes e saúde de seus eleitores não estão encontrando mais a recepção que tinham no passado. Pode ser que esta eleição de 2024 comece a marcar o fim de uma confiança ilimitada que o estado e seus melífluos políticos, doutores em “conversinha mole”, resolverão a vida de 200 milhões de habitantes.

Parece, felizmente, que a população começou a se convencer que a superação de suas dificuldades repousa em seu trabalho e em sua maior participação na vida política, escolhendo propostas mais realistas e menos milagrosas. Um ponto de destaque foi a reeleição ou ida com vantagem para o segundo turno de administradores que se mostraram razoavelmente capazes de gerir as enormes máquinas municipais, em vez do povo eleger críticos de problemas ou arrivistas milagreiros com bons diagnósticos, mas sem experiência alguma na gestão de entidades complexas.

O futuro da democracia brasileira exige não apenas a melhoria do padrão dos candidatos como também o melhor exercício da capacidade de votar. Quem vota precisa perguntar mais, se informar melhor, debater as opções e abandonar vínculos de simpatia, sedução de promessas irrealizáveis e escapismo no duro enfrentamento das dificuldades inevitáveis que a construção de um futuro melhor impõe. Que cada um entenda que o seu futuro é uma construção individual e não uma dádiva do estado ou do céu.

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