COLUNISTA
Quem olha para a evolução da história do pensamento político constata que desde as eras mais primitivas os homens se enfrentam em busca de uma situação que lhes dê poder e riquezas para si e para seu respectivo grupo de seguidores. Durante séculos estas lutas se caracterizaram pelo enfrentamento de clãs, tribos ou nações, sempre envolvendo domínio econômico e, às vezes, territorial dos derrotados. Ocasionalmente ocorriam, dentro de cada clã ou país, lutas internas ou mesmo as chamadas guerras civis, quando um grupo tentava alijar os detentores do poder e tomá-lo para si.
Em meados do século XIX, Karl Marx e Friederich Engels procuraram evidenciar que a real disputa, desde tempos primitivos, era dos escravizados contra seus senhores e que esta luta, a partir de então, deveria se concentrar no confronto entre empregados e patrões, em busca de uma sociedade sem classes. Na realidade, desde a Revolução Francesa, a ideia de uma sociedade mais fraternal vinha sendo pensada por diferentes filósofos. Esta sociedade ideal, sem classes e sem guerras, marca o debate político desde o final do século XVIII. A proposta de Mark e Engels falhou em todos os países onde foi adotada levando-os à tirania e pobreza.
Atualmente se vive uma situação no plano mundial de radicalização de posições tendo a luta interna das sociedades se centrado na questão de regimes autoritários versus regimes democráticos. A história mundial mostrou que regimes exclusivamente autoritários ou democráticos dificilmente se sustentam, acabando por prevalecer regimes mistos, nos quais o exercício de direitos humanos por todos os homens e mulheres possui grandes variações. Isto levou à paradoxal situação do autoritarismo, antes associado aos regimes de direita e extrema direita, ser claramente adotado não só por estes regimes mas também pelos regimes de esquerda que, herdeiros de antigos conceitos como “ditadura do proletariado” e outras formas de concentração de poder em grupos privilegiados, exercem o mais total e completo despotismo. Exemplos abundam no atual contexto
mundial e a “manutenção da Ordem”, conforme definida pelo grupo detentor do poder, é a justificativa para a privação de direitos dos cidadãos.
Os regimes democráticos baseados no Estado de Direito, que tiveram, desde 1689, com a Revolução Gloriosa, na Inglaterra, sua moderna definição, sustentando-se na difusão do poder econômico entre uma quantidade
apreciável de pequenos proprietários rurais e comerciantes, têm se enfraquecido nos últimos anos pelo processo de concentração em grandes grupos econômicos de uma significativa parcela da produção global. Em nome
de economias de escala e conceitos extremados de custo-benefício, que desprezam o valor das externalidades negativas que produzem, as democracias vêm se tornado vulneráveis ao peso de interesses econômicos e
financeiros.
No xadrez da política internacional, onde novos temas já estão influindo na configuração dos regimes políticos, dentre os quais eu destaco o problema da sustentabilidade ambiental e o da revolução digital dos meios de produção, a ideia da cooperação multilateral entre países e entre civilizações precisa ganhar corpo, uma vez que as formas tradicionais de administrar conflitos entre nações, como as guerras de Israel e Ucrânia estão demonstrando, não mais levarão a ambientes resilientes e pacificados.
A questão da paz entre as nações deve, portanto, ser a prioridade absoluta da Humanidade. Uma paz que não procure expressar uma posição centrista, mas uma posição plural, com respeito às diferenças entre nações, tendo como base a redução das desigualdades, os Direitos Humanos e a preservação do planeta para as futuras gerações. Este desafio somente será factível com uma profunda alteração nos modos de vida e uma espiritualização ou humanização das relações entre os habitantes do planeta.
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