COLUNISTA
José Luiz Alquéres, membro do Instituto Histórico de Petrópolis
Tristes, revoltantes e indicadoras de que a história, por vezes, não é suficiente para ensinar os povos sobre o que evitar, as guerras no Oriente refiro-me à região que vai do Egito até as margens do Mar Negro se sucedem desde a mais remota antiguidade.
Os motivos permanecem semelhantes: disputas pelo controle dos grandes vales férteis do Nilo, da Mesopotâmia e dos rios que desembocam no Mar Negro áreas que, no passado, produziam a abundância de grãos que sustentavam as populações mediterrâneas. Com o tempo, os interesses econômicos se ampliaram, incluindo as rotas de comércio com a Índia e a China e, mais tarde, o petróleo. Isso tudo combinado a uma explosão populacional na região, que agravou uma crise hídrica sem precedentes.
Nesse contexto, inúmeras guerras oportunistas têm sido travadas, como as disputas em torno do Canal de Suez, a expansão do Estado de Israel, o conflito entre Irã e Iraque, a invasão do Kuwait, além de outros conflitos próximos, como a intervenção da Rússia no Afeganistão e o embate do Ocidente com os talibãs.
São guerras internas a uma civilização predominantemente islâmica, embora com contingentes populacionais significativos e autóctones de cristãos e judeus, representando diferentes confissões religiosas abrigadas sob essas denominações. Todas essas religiões, por sinal, são chamadas de "povos do Livro", pois compartilham na Bíblia uma narrativa em comum e a crença em um Deus único e todo-poderoso.
Na cobertura jornalística desses conflitos, o aspecto religioso tende a caracterizar os contendores como mutuamente intransigentes, sejam judeus seculares, judeus ortodoxos, muçulmanos xiitas, sunitas, alauitas, drusos, cristãos maronitas, cristãos melquitas, jihadistas, entre outras denominações.
As religiões monoteístas, historicamente, tendem a ser mais inflexíveis com seus dissidentes. Em contrapartida, as religiões panteístas, conforme nos ensinou a história, mostraram maior capacidade de acomodar, sob um mesmo domínio político ou convivência pacífica, povos de diferentes culturas e tradições. Momentos de grande florescimento cultural e intercâmbio ocorreram, por exemplo, no império comercial ateniense e no império otomano.
O espírito de tolerância, no que se refere ao respeito às diferenças e à convivência baseada no amor ao próximo, tem no Papa Francisco sua maior expressão mundial atualmente. É importante observar que a Igreja Católica aprendeu lições valiosas com a história, seja por influência dos acontecimentos ou pela Revelação. Os últimos papas têm sido campeões mundiais de causas seculares, como a derrubada de muros físicos e ideológicos e o respeito aos direitos humanos de cidadãos de todas as crenças, etnias, orientações sexuais ou condições econômicas. O Papa Francisco ampliou essa visão para incluir a responsabilidade conjunta pelo futuro sustentável do planeta, como expresso na encíclica "Laudato Si".
Nesse contexto de superação das diferenças humanas, é essencial que, neste sexto lustro do século XXI, os líderes das diversas religiões promovam uma sonhada unidade espiritual do mundo, como idealizado por Stefan Zweig em tempos de guerras cruéis e desumanas. Sem um comprometimento espiritual em torno de princípios e valores, dificilmente se concretizarão as medidas práticas necessárias para pôr fim a tanto sofrimento.
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