COLUNISTA
José Luiz Alquéres, engenheiro e urbanista.
O que seria um bom presente de Natal para os petropolitanos? Certamente, todos gostariam de viver em uma cidade melhor e mais humana.
Em poucos dias uma nova administração municipal assumirá a responsabilidade pela gestão e desenvolvimento da cidade. É hora que nossos novos gestores pensem em soluções inovadores para problemas que têm provocado grandes transtornos na cidade.
A circulação é obviamente um deles e ela deve ser pensada a médio prazo para o conjunto da malha urbana sem que se deixe de tomar medidas urgentes para corrigir algumas situações tópicas em pontos que provocam enormes congestionamento e perda de tempo dos moradores. Estes pontos são bem conhecidos e um olhar atento pode conceber soluções econômicas ora uma rotatória, ora uma duplicação de ponte ou mesmo um simples semáforo que discipline o fluxo de veículos.
A repensagem da malha viária deve, além dos benefícios para o tráfego, proporcionar a recuperação de culturas individualizadas que, no passado, tanto caracterizaram os bairros de Petrópolis.
Há que se ter em conta que famílias apreciam morar próximo de seus parentes, assim como certos segmentos de comércio procurarem uma proximidade entre seus agentes, como malharias na Rua Teresa e as carpintarias no Bingen de outrora. Tudo isso provoca a sensação de pertencimento e responsabilidade do cidadão em relação ao espaço público.
Está na hora que a iniciativa de valorização dos bairros promova investimentos públicos e privados em centros cívicos administrativos de educação e de lazer. Um adensamento habitacional nessas regiões é importante, criando mais espaços verdes e maior presença de equipamentos sociais, além de beneficiar a organização dos distritos escolares, da segurança pública, dos hospitais e postos de saúde em bairros carentes.
Uma possível entidade para liderar este movimento de repensagem da cidade, influência sobre o poder público e realização de algumas ações tópicas, poderia ser um fórum das concessionárias de serviço público.
Estas entidades, citando aqui nominalmente a Enel, a Águas do Imperador, as concessionárias de transporte, limpeza urbana, serviços de comunicação e outras, sofrem pesadas perdas ou têm custos aumentados. Aos problemas citados deve se adicionar a crescente necessidade de modernização de toda segurança pública e defesa civil municipal, cada vez mais necessários.
O que proponho é uma ação coordenada onde medidas de caráter urbanístico, além de um ilhamento regionalizado dos serviços de tais concessionárias, crie grandes subunidades urbanas nos quais uma ação concentrada delas recupere condições de civilidade, cidadania e orgulho de viver em cada um desses bairros. O estado, evidentemente, é essencial, mas deve ouvir e apoiar o esforço consensual definido pelas concessionárias, secretarias estaduais e municipais especializadas e as organizações sociais de cada uma dessas comunidades.
Os resultados visados, basicamente uma cidade de comunidades diversificadas com expressões culturais próprias e sem situações de habitação sub-humana ou infraestrutura deficiente, poderão ser observados no prazo de quatro a oito anos de trabalhos bem planejados.
Pode ser que isso seja um sonho, mas é também uma necessidade de sobrevivência para uma cidade que, além dos seus problemas não resolvidos, vai receber uma carga adicional decorrente dos eventos extremos causados por mudanças climáticas. Eventos que não pouparão alguns de seus bairros com habitações populares e favelas situadas em áreas de deslizamento ou de inundações.
A automação, a digitalização de processos e a disseminação da Inteligência Artificial causarão adicionalmente mudanças em grande escala nos hábitos de vida da população, o que deve ser levado em conta no planejamento.
É importante que nossas lideranças políticas e empresariais corajosamente se lancem na implantação desta cidade adequada a um futuro que já está se tornando presente e que pensem grande.
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