Edição: sábado, 18 de janeiro de 2025

José Luiz Alquéres

COLUNISTA

José Luiz Alquéresz

Um caso de aggiornamento de cidade brasileira


José Luiz Alquéres

O último censo demográfico mostrou que sete das dez mais populosas cidades brasileiras perderam população no último decênio. O planejamento urbano tem que mudar seu foco da expansão para a humanização das cidades e ampliação do seu potencial econômico. Como exemplo, falarei de Petrópolis, uma cidade com uma rica história e um papel único no contexto brasileiro. Nas últimas décadas, consolidou-se como um importante polo residencial e de serviços devido ao seu clima ameno, da proximidade ao Rio de Janeiro e segurança pública. Essa combinação torna Petrópolis um destino procurado por turistas, veranistas e frequentadores de fim de semana, reforçando sua vocação como cidade de serviços.

Além de seus atrativos naturais e culturais, a cidade carrega um legado histórico singular. Petrópolis foi, durante grande parte do Império Brasileiro, a residência de verão da corte imperial. Por aproximadamente sete meses do ano, Petrópolis era, na prática, a capital do Brasil, recebendo o imperador, sua corte e diversas legações diplomáticas que ali também mantinham residências.

Esse período conferiu à cidade um status especial e moldou seu desenvolvimento urbano e arquitetônico. A presença da corte impulsionou a construção de palacetes, praças e jardins que ainda hoje encantam os visitantes. Apesar do fim do Império em 1889, a relação de Petrópolis com o poder central do país continuou. O Palácio Rio Negro, por exemplo, foi transformado em residência de verão para os presidentes da República que lá veraneiam até 1960. Visando oferecer condições de vida nos meses ao longo do ano, uma intensa atividade fabril também se desenvolveu na cidade neste período.

Essa continuidade contribuiu para preservar a relevância política e social de Petrópolis ao longo do tempo. Entretanto, com a transferência da capital federal do Rio de Janeiro para Brasília em 1960, houve uma mudança no papel estratégico da cidade, que precisou se reinventar. A dependência econômica das atividades ligadas ao poder central deu lugar à diversificação baseada no turismo, na prestação de serviços e no comércio.

Hoje, a situação demográfica apontada indica que novas soluções devem ser buscadas para os problemas contemporâneos. O peso das atividades urbanas do Rio de Janeiro, aliado às mudanças nos padrões econômicos e turísticos, impõe à cidade a necessidade de se reposicionar.

A valorização de sua história imperial não é suficiente para sustentar a intensidade e diversidade das ocupações que a cidade passou a enfrentar. Neste artigo apontamos alguns vetores para incrementar seu  reposicionamento para o século XXI.

O primeiro é um intenso programa de retirada de moradias em áreas de risco e inundação, conjugado a iniciativas que proporcionem infraestrutura e condições habitacionais dignas. O segundo é valorizar a vida na serra no século anterior à fundação da cidade. Temos três testemunhos históricos/arquitetônicos que poderiam mostrar bem este aspecto. São eles: a Fazenda Santo Antônio, a casa do Padre Corrêa e a Fazenda Samambaia. Essas casas ligadas aos antigos sesmeiros Manuel Goulão e seu genro Manuel Corrêa que cem anos antes da fundação da cidade aqui habitavam, constituíram o núcleo populacional, comercial e produtivo que veio a dar origem à cidade de Petrópolis. A casa do Padre Corrêa, por exemplo, poderia ser transformada em um Museu que destacasse seu papel logístico no século XIX.

O terceiro vetor de interesse seria a revitalização de Corrêas como um importante centro médico de expressão regional, resgatando seu papel histórico. No passado, a região abrigou até dez sanatórios, incluindo o hospital Alcides Carneiro e o sanatório Oswaldo Cruz. Propomos a criação de um grande parque voltado para idosos e jovens, com foco em práticas esportivas e reabilitação. Este projeto poderia ser implantado com custo reduzido
nos antigos terrenos da Montreal.

O quarto vetor de interesse seria transformar Petrópolis em um centro universitário de excelência. Esse objetivo poderia ser alcançado através do fortalecimento e funcionamento em rede das instalações acadêmicas já existentes, complementadas pela criação de museus e centros de pesquisa dedicados a áreas estratégicas como têxtil, metalurgia, química e ótica.

O quinto vetor seria o replanejamento funcional de praças e logradouros públicos, utilizando parcerias público-privadas como estratégia de viabilização. Esse tipo de iniciativa é especialmente necessária em locais como a Praça de Nogueira, a Praça de Corrêas, a Praça de Cascatinha e o centro do Vale das Videiras, entre outros espaços ao longo do território urbano que apresentam grande potencial de revitalização e uso comunitário. Além
de se transformarem em núcleos de disseminação de uma cultura de sustentabilidade e proteção ambiental.

Em suma, seja em Petrópolis ou em qualquer outra cidade de porte brasileira, não dá para se administrar apenas com olhos no passado. O nosso povo merece usufruir dos benefícios que o progresso e a cultura podem trazer para todos.

Edição: sábado, 18 de janeiro de 2025

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