COLUNISTA
José Luiz Alquéres, engenheiro e urbanista
O início de novos mandatos de prefeito municipal e vereadores é sempre a esperança de uma sacudidela em procedimentos tradicionais que tragam, com criatividade, novas maneiras de melhorar a vida dos cidadãos de uma cidade.
Nem sempre estas ações demandam grandes recursos. A seguir darei alguns exemplos nas cidades de Petrópolis e Rio de Janeiro, com as quais tenho muito ligação, tendo em ambas residido por muitos e muitos anos. Apesar de diplomado em Engenharia Civil com especialização em Planejamento Urbano, as minhas observações são fruto de um olhar de cidadão comum. Um cidadão que fica pasmo com a quantidade de recursos gastos com obras monumentais sem que se aproveite o potencial de melhoria que pequenas intervenções urbanas podem produzir.
Um primeiro ponto importante a ser destacado é a possibilidade de repaginação em praças públicas, eventualmente com algum investimento dos departamentos de vias urbanas ou com a sensibilização de moradores da vizinhança e comércio local para que aportem algum recurso junto ao das prefeituras.
Darei aqui um exemplo em cada uma das cidades mencionadas: No Rio de Janeiro, na esquina da Rua Alexandre Ferreira com a Rua Maria Angélica, entre a Lagoa e o Jardim Botânico, está a Praça Sagrada Família. É uma pequena pracinha procurada por crianças e idosos locais. Ela é circundada por estas ruas em dois lados, sendo os outros dois por pequenos trechos de rua que dão acesso à garagem de um edifício residencial e a via de acesso a umas poucas lojas. É um caso típico onde, respeitando o tráfego reduzido dos automóveis que acessam este edifício e lojas, poderiam ser incorporados ao espaço da praça a área desses trechos de ruas. Com isso, a praça ampliaria a área à disposição do público em cerca de 40% e um equipamento moderno melhoraria suas condições de uso. É rápido e barato.
Na mesma linha de ampliação do uso de praças públicas, em Petrópolis, a praça da vila de Corrêas, no segundo distrito da cidade, igualmente poderia ser remanejada com o fechamento ao tráfego de dois lados, nivelamento geral, criação de um acesso direto à nova ponte já existente e, assim, sem que se derrube uma árvore sequer, criar um espaço público para o qual se abrem um pequeno comércio local, alguns bares, com um ganho proporcional de área ainda maior que o do exemplo precedente.
Outro tipo de situação que se encontra em qualquer cidade brasileira é a necessidade de eliminação de alguns pontos de estrangulamento do tráfego de veículos, o que, muitas vezes, pode ser conseguido com um aumento da largura de algumas pontes ou o simples recuo de calçadas e remanejamento de postes, situações simples do ponto de vista de engenharia e que melhorariam substancialmente a vida de quem usualmente tem que passar por estes pontos.
Em Petrópolis, a velha estrada União e Industria tem há 180 anos os mesmos pontos de estrangulamento: a ponte de Itaipava, a ponte de Bom Sucesso, o cruzamento da via na altura das pontes de acesso à Nogueira, Corrêas, Carangola e Retiro, dentre alguns outros. A exemplo do efetuado no acesso à ponte de Samambaia, ajustes pequenos na via de escoamento e, eventualmente, a criação de rotatórias e ampliação da largura das pontes podem proporcionar enorme redução de tempo no deslocamento de pessoas entre o Centro e Itaipava.
No Rio de Janeiro, sendo aí a solução mais cara, é incompreensível que não exista uma passagem elevada que elimine o congestionamento no cruzamento da rua Visconde de Albuquerque com as pistas que ligam a Autoestrada Lagoa-Barra com as avenidas Borges de Medeiros e Epitácio Pessoa, na orla da Lagoa Rodrigo de Freitas. É uma obra que pode ser subterrânea, ou mesmo sob a forma de um elegante viaduto o que muito contribuiria para desafogar o trânsito e melhorar a vida de centenas de milhares de pessoas que diariamente perdem o seu precioso tempo em esperas injustificáveis.
O século XXI é o século da inovação e da criatividade, que não precisam estar restritas a soluções de alta complexidade tecnológica, o bom senso, o bom urbanismo humanizado e a prudente gestão dos investimentos públicos podem produzir efeitos fantásticos.
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