Edição: sábado, 15 de março de 2025

José Luiz Alquéres

COLUNISTA

José Luiz Alquéresz

O FUTURO X O PRESENTE


José Luiz Alquéres, conselheiro do Clube de Engenharia


“O futuro que tome conta de si mesmo. Vamos usufruir do nosso presente.” A frase acima parece resumir o dilema entre duas formas de administrar a vida corrente. O que ela expressa é o enorme peso das necessidades presentes com que se defrontam administradores públicos e gestores de empresas privadas para enfrentar os seus respectivos desafios. Tanto os administradores públicos, mandatados pela população por períodos de 4 anos, quanto os gestores de empresas, pressionados por resultados financeiros e acionistas ávidos de lucros, tendem a se focar no curto prazo. É uma lógica perfeitamente compreensível, afinal uns têm que se garantir eleitoralmente e outros não perderem os seus empregos. A lógica do curto prazo é especialmente perversa no tratamento a ser dado a grandes questões que afligem as grandes cidades.

Em um mundo que necessita de enormes investimentos para efetuar as mudanças necessárias nas formas de produzir e viver, a sucessão de medidas quase sempre desconexas entre essas administrações “curto-prazistas” vai criando um ambiente econômico social e físico absolutamente insustentável, o que pode se comprovar pela mera observação do que se passa no Brasil.

De forma diversa às entidades citadas, as concessionárias de serviço público têm concessões outorgadas pelo período de 25 até 30 anos, ou seja, elas devem se planejar para serem sustentáveis não só economicamente, mas, também, politicamente, ao longo de todo esse tempo, o que as torna as únicas entidades para as quais o futuro é um dado importante para sua tomada de decisões e, portanto, contrariamente à frase que abre esse artigo, não pode ser deixado para se resolver por conta própria. Ele demanda análise de projeções de crescimento demográfico e de mudanças tecnológicas e uma profusão de estudos de cenários alternativos, combinando múltiplas variáveis, para que as concessionárias desenvolvam estratégias robustas para terem sucesso.

As concessionárias, para as quais o futuro não pode ser abandonado, têm que criar um fórum de coordenação de suas atividades operacionais e de expansão. Esse fórum também deve se constituir em um centro de debates e interação com as agências reguladoras no sentido de harmonizar as suas visões sobre o papel que cada entidade deve cumprir. A primeira tarefa desse fórum deve ser a formulação de um projeto de adequação da cidade até, digamos, 2050, aos desafios mencionados.

Tudo indica que os 6 milhões de habitantes do Rio devam ser tratados na forma de 30 sub-regiões de 200 mil habitantes cada, tanto quanto possível, autônomas em termos de serviços públicos, de forma que as típicas atividades sociais e de regulação sejam sempre referenciadas a estas sub-regiões e eventuais problemas de cada uma delas sejam adequadamente endereçados pelos agentes responsáveis pela sua solução, sejam eles de segurança, educação, saúde, eletricidade, água, acessos viários etc. Essas sub-regiões poderiam no futuro ser o embrião do voto distrital em uma eventual reforma política.

A esta abordagem de ilhamento de sub-regiões para melhor caracterizar suas necessidades e as prioridades de investimento que elas demandam, há que se dar início imediato a muitas ações, coerentemente a essa proposição de planejamento, para que desastres ambientais ou convulsões sociais não desvalorizem e acabem inviabilizando a vida no Rio de Janeiro. Nesse fórum, evidentemente, o poder público necessita ter assento, mas é preciso se ter em conta que os orçamentos agregados de investimentos das concessionárias são tão importantes quanto o do governo, e o atual “cada um por si” não pode permanecer sem que suas consequências nefastas comprometam a vida na cidade.

Edição: sábado, 15 de março de 2025

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