COLUNISTA
A profissão de arquiteto/urbanista estava em evidência nas décadas de 60 e 70 do século XX. As obras de profissionais como Oscar Niemeyer, Marcos Konder, Joaquim Guedes, Lucio Costa, Paulo Mendes da Rocha, Sergio Bernardes, Afonso Eduardo Reyd, Arthur Lício Pontual e dos irmãos Roberto projetavam seus nomes no Brasil e no cenário internacional da arquitetura.
Nas décadas seguintes, a pressão imobiliária, a padronização das construções e a rigidez dos Códigos de Obras foi provocando um aspecto mais uniforme nas construções de uso coletivo e soluções mais criativas ficaram restritas a imóveis individuais para a população de alta renda e um ou outro edifício de uso público ou comercial.
O urbanismo igualmente pressionado pela enorme expansão da utilização do automóvel e do seu significado como “bem de maior expressão da identidade de uma pessoa ou família” povoou as ruas concebidas para uso mais restrito e para as vias expressas de acesso a bairros mais distantes de uma cidade que se expandia vigorosamente no plano horizontal.
A cidade sustentável do futuro não é compatível, nem fisicamente nem socialmente, com a cidade que resultou dos processos acima, que evoluíram paralelamente à incapacidade de o poder público discipliná-los. Chegamos ao atual Rio de Janeiro com um contingente de 20% de seus habitantes residindo em condições sub-humanas e cerca de 40% ainda desprovidos de saneamento básico. Praticamente todos sofrendo as agruras de longo tempo em seus deslocamentos entre residência, trabalho, escola e serviços.
Esta situação se traduz em altos índices de consumo de energia, stress pessoal, tempo perdido em inevitáveis reparos em vias públicas e em uma grande insegurança pública pois vastas áreas da cidade são literalmente inacessíveis para policiamento e prestação de serviços públicos dentro de padrões adequados. Abre-se, portanto, uma nova era de oportunidades para arquitetos e urbanistas que pensem a cidade segura e sustentável que o Rio precisa se transformar em duas ou três décadas. Para isso, em sua formação profissional, temas de ciências sociais, legislação, economia de energia, sustentabilidade deverão estar muito mais presentes dos que os atuais currículos desta profissão.
Apenas para brincar com alguns números, o Rio de Janeiro tem uma densidade habitacional de 5.000 habitantes/ km2. A densidade habitacional de áreas compostas por edifícios de 6 pavimentos, ruas arborizadas, áreas internas a quarteirões com parques, playgrounds e outros equipamentos de uso público e boas vias de acesso é de 20.000 habitantes/ km2. Em outras palavras, caso uma legislação adequada e incentivos variados direcionassem o crescimento e a reconstrução da cidade para este objetivo, poderíamos ter uma cidade onde as construções e vias urbanas ocupassem apenas 25% da superfície total e a natureza voltasse a estar ao alcance de todos os seus habitantes. Uma outra conta simples mostra que se esta densidade de 20.000 habitantes/km2 fosse alcançada em um círculo de 600 metros de raio, portanto o comprimento de 3 quarteirões, em torno das atuais 150 estações do metrô e da Supervia, 3 milhões de habitantes (aproximadamente metade da população da cidade) disporiam de transporte eletrificado passível de ter alta qualidade, com redes já implantadas.
Temos os bairros litorâneos de alta densidade, o BRT, facilmente eletrificável, o VLT e tendências novas como home office, predomínio do setor de Serviços sobre o Industrial, automação e trabalho à distância mudando os padrões de vida, sem falar na compulsoriedade da economia de combustíveis fósseis para redução das emissões de gases de efeito estufa e outros condicionamentos que virão nas próximas décadas.
É, portanto, a hora do Rio passar a ter um planejamento urbano a altura de suas futuras necessidades, o que vai exigir, ao lado do poder público, uma forte participação dos concessionários de serviço público de transporte, eletricidade, gás, redes digitais, água, esgoto e uma prática de audiências públicas organizadas para que suas sugestões possam ser consideradas e eventualmente incluídas nos objetivos deste ou daquele planejamento.
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