COLUNISTA
Quando se constrói um edifício de porte médio, a complexidade e o prazo da construção exigem cerca de 200 empregados trabalhando entre 2,5 a 3 anos. Com pessoas especializadas dirigidas por engenheiros experientes e contando com um suporte de escritórios técnicos para cálculos, orçamentos e controle da execução. Quando se constrói uma fábrica também se necessita a mesma estrutura embora a diversidade dos produtos a serem fabricados, frequentemente exijam um maior número de especialidades - caldeiras, tornos, máquinas de solda e coisas do gênero. Uma vez construídos, os edifícios residenciais, em vez dos 200 empregados, normalmente conseguem ser administrados e mantidos por cerca de 3 ou 4 porteiros e zeladores que executam tarefas de manutenção. Analogamente, as fábricas, uma vez construídas, possuem gerentes, empregados em suas diversas seções, desde a recepção de matérias primas até a entrega do produto final. De qualquer maneira, são tarefas repetitivas embora já impliquem em certa complexidade de controles e de uso de tecnologia muito superior à de manutenção de edifícios residenciais.
Esses dois exemplos são para pontuar que uma cidade na unidade da federação, ou mesmo um país é algo muito mais complexo pois abriga não apenas edifícios e fábricas, mas milhares de pessoas - cidades com seus sistemas viários, sistemas de transportes, sistemas de limpeza urbana, suas infraestruturas de saneamento, de energia elétrica - e que devem funcionar a tempo e hora, muitas delas continuamente ao longo de 24 horas. Além disso, na gestão da cidade o próprio acompanhamento da segurança pública é um desafio porque trata de gerir e acompanhar o comportamento público de diversos segmentos populacionais, residentes em diferentes bairros e trabalhando em diversas outras áreas. Se deslocando e no exercício dessas suas atividades, criando inúmeras situações de cooperação e também de conflitos. Conflitos no trânsito, no trabalho, no interior das famílias - sem contar na situação existente em toda sociedade que são os indivíduos/grupos que se dedicam de forma criminosa a tirar proveito dos seus concidadãos. Então furtos, roubos à mão armada, assassinatos, violência de todo tipo são comuns, infelizmente, e cabe ao administrador público coibi-las, o que demanda organizações extremamente mais complexas do que aquelas ligadas a gestão de edifícios residenciais ou fábricas.
Existem, portanto, simplificadamente, dois grandes momentos na vida de empresas e de cidades: o de construção, com grandes equipes temporárias e o de manutenção, ou operação com equipes menores, permanentes e vinculadas ao ambiente que as envolve. Vê-se assim que a administração pública deveria ser comandada por pessoas extremante experientes qualificadas e que tivessem acesso a melhor formação técnica e ética para conduzir com competência e honestidades as suas funções. A mera observação dessas profissões demonstra que elas requerem um tempo prolongado de formação, treinamento e ajustamento entre equipes, criação de confiança pública para que estas tarefas possam ser bem organizadas. Assim, escolas especializadas, liderança, capacidade criativa e capacidade e usos das melhores tecnologias, combinadas com uma formação técnica e humanista são absolutamente necessárias no mais alto nível da administração pública e mesmo sua profissionalização face os requerimentos para que os serviços sejam bem prestados e sejam controlados através de indicadores públicos, possam ser cobrados e seus profissionais reconhecidos pelos concidadãos, pois frequentemente no exercício das tarefas públicas são submetidos a riscos que normalmente os outros trabalhadores não são. Eles exigem, portanto, formação, treinamento, salário, enquadramento em normas de segurança e requisitos adicionais a qualquer emprego civil.
Ora, o que se vê? O que se vê é que a cada mudança de prefeito, governador, ou mesmo nos mais elevados níveis de governo - em suma, a cada troca de gestão, substitui-se os dirigentes, na maioria absoluta das vezes por pessoas desqualificadas do ponto de vista técnico, ainda que com muitas exceções possam haver pessoas até honestas e com boas intenções. Mas, como diz o velho provérbio, de boas intenções o inferno está cheio e a gestão pública não se satisfaz apenas com a intenção. Ela exige os requisitos acima enumerados e, do jeito que estamos fazendo, não se pode mesmo esperar grandes coisas de nossas administrações públicas. E aí, por consequência, vem todos os problemas que estamos sofrendo. Problemas de orçamentos inflados de baixa produtividade, de falta de credibilidade, corrupção e todos os outros. Se precisamos enquadrar as despesas num orçamento para que ele não seja constantemente crescente, ha que se recomeçar de baixo para cima com orçamentos para as diferentes repartições de governos, com a utilização de orçamento e tecnologia para que tudo seja feito com muita eficiência, e o que encontramos na prática: filas enormes no atendimento da saúde, problemas sérios nas escolas e na sua manutenção, problemas seríssimos na segurança publica, incapacidade de definir responsáveis pelas situações de que a pratica mostra de falta de harmonia de órgãos públicos entre diferentes níveis da federação e assim por diante. A necessidade de empreendermos uma verdadeira cruzada em prol da eficiência da administração, da retirada de privilégios, da padronização dos regimes de trabalho na área publica é fundamental - porque sem isso jamais seremos um país moderno que possa eliminar as enormes causas de desigualdade social com as quais convivemos. A eficiência é a prioridade nacional a ser buscada e ela deve ser encarada de frente pelos órgãos públicos.
Veja também: