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José Luiz Alquéres

COLUNISTA

José Luiz Alquéresz

UM OLHAR DISTANTE


José Luiz Alquéres, engenheiro


Un regard eloignée é o título de um belo livro do antropólogo Claude Levi-Strauss, que sugere a leitura dos fatos a partir de um distanciamento físico e temporal. O livro se baseia na sua rica experiência de vida, que incluiu uma passagem pelo Brasil como professor da Universidade de São Paulo, na época em que os nazistas tornaram a vida de intelectuais judeus impossível na Europa.

Seguindo esse exemplo, passo a comentar alguns episódios transcorridos na época da II Guerra Mundial e como a adoção de comportamentos desprovidos da preocupação com o julgamento dos tempos e da história pode ser prejudicial a memória dos homens públicos.

Não resta dúvida que Winston Churchill, Primeiro Ministro da Inglaterra entre 1940 e 1945, encarnou a inaceitabilidade do regime nazista ao qual dedicou em uma etapa já adiantada da sua vida um grande esforço de trabalho e mobilização. Neste afã começou cortejando a Itália e a Turquia para aderirem ao apoio que estava dando à França. Quando esta se rendeu e os demais países ou aderiram ou foram conquistados pela Alemanha conduziu sozinho a resistência a Hitler, apontando que ela não decorria de interesses econômicos, mas sim de um repúdio aos princípios e valores do nazismo, intoleráveis para a civilização ocidental.

A situação da Inglaterra somente melhorou e passou a ter expectativas de vitória com a entrada dos Estados Unidos na guerra, após este ser atacado pelo Japão. Pouco antes, a Alemanha havia rompido seu tratado com a antiga aliada Rússia e invadido aquele país.

Quem estuda história ficará impressionado com as atitudes dos comunistas franceses, de início apoiando a Rússia e, por conseguinte, a Alemanha, que havia invadido o seu país e, mais tarde, mudando de lado. Na Itália houve algo semelhante quando, após quatro anos de guerra, o rei Vitório Emanuelle demitiu seu ministro Mussolini e mudou-se para o lado dos aliados, já no final dos conflitos, tentando com isso salvar seu trono, o que não conseguiu.

O Brasil, no início da II Guerra, demonstrou grandes simpatias com a Alemanha, tendo o general Góis Monteiro advogado forte apoio aquele país, além de termos negado passaportes a inúmeros judeus que para aqui queriam emigrar. Talvez, o episódio mais dramático, mas também mais esquecido da nossa história, seja o patético telegrama de congratulações que Getúlio Vargas enviou para Hitler após a tomada de Paris pela Alemanha, onde exalta o promissor futuro que aquele acontecimento traria para a humanidade. A transcrição do telegrama consta das memórias de Getúlio editadas pelo CPDOC da Fundação Getúlio Vargas.

Felizmente, com o desenrolar dos acontecimentos, o nosso país se alinhou com o Ocidente.

A situação atual no Oriente Médio, onde uma guerra entre judeus e palestinos provoca comoção mundial e ocorre, simultaneamente, a invasão da Ucrânia pela Rússia demonstra que estamos longe de uma paz duradoura mundial. Posicionamento do Brasil em matérias internacionais têm uma longa tradição de se basear em fundamentos éticos e morais e não em eventuais vantagens econômicas no curto prazo que o País possa retirar da situação. Existe, portanto, no caso dessas duas guerras recentes enormes preocupações pois a linha histórica da diplomacia brasileira não está sendo respeitada.

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