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José Luiz Alquéres

COLUNISTA

José Luiz Alquéresz

Subida da Serra ou Descida aos Infernos?


Sou carioca, filho e neto de petropolitanos e, desde o ventre materno, passava os fins de semana em Petrópolis. Mais tarde, as férias inteiras na casa da minha avó. E, depois de casado, morei na cidade por quase 20 anos. Subia e descia a serra diariamente. Dependendo da época do ano e das condições das estradas, usava a subida da Serra Velha, calçada de paralelepípedos sobre o traçado original de Julio Koeller. Muito mais frequentemente, como ainda hoje se faz, utiliza-se a rodovia Washigton Luiz, inaugurada em 1928, e que já foi de piso de concreto armado, mas hoje é quase todo recoberto por asfalto. Quanto ao “novo” traçado utilizado atualmente para a descida, lembro do dia da inauguração, em 1961. Eu tinha cerca de 16 anos. Era um sábado e eu subia para Petrópolis ao lado do meu pai, quando o trânsito, na altura do Bar das Onças, foi desviado para a nova estrada. Pouco depois paramos em um grande engarrafamento e vimos passar a comitiva presidencial de Juscelino Kubitscheck. Ele descia a serra liderando um longo cortejo. Passada a comitiva, subimos pelo novo traçado que por anos ficou funcionando no regime de mão e contramão.

Bons tempos de Juscelino. JK recebeu o país com menos de 800 kms de estradas pavimentadas. Ao final de seu governo, empossou democraticamente seu sucessor, eleito pela oposição, tendo o país 14 mil kms pavimentados. É uma reflexão interessante como alguém que tantas obras fez não conseguiu fazer seu sucessor...

O feito de JK se mostra ainda mais significativo, seja pela época estamos falando de algo que ocorreu há 64 anos quanto pela celeridade em que aquelas obras foram realizadas. Não há como furtarmo-nos a pensar na atual situação dessas ligações rodoviárias entre o Rio e Petrópolis, que são o acesso entre a segunda e a terceira cidade de porte no Brasil. Como é possível que após tanto tempo interrompida a construção desta referida nova subida da serra seja agora anunciada que a concorrência para a sua execução preveja para 2031 a data de entrega? Ninguém precisa ser engenheiro, basta consultar alguns feitos recentes da engenharia em outros países e mesmo de obras significativas como os túneis na Rodovia dos Tamoios para estimar que uma obra utilizando viadutos, cortes e túneis já iniciados em gestões governamentais anteriores não deveria consumir mais do que um ano para sua
execução. Alguns dirão que o problema é a falta de orçamento público, mas a obra será executada com recursos de pedágio. Ora, o que se supõe é que o concessionário adiante os recursos investindo na obra e, depois, se remunere ao longo do tempo e não fique fazendo caixa durante 6 anos para se autofinanciar. Neste caso, não deveria se cobrar pedágio uma vez a obra construída.

A subida da serra de Petrópolis pela rodovia Washington Luiz e a descida da Serra das Araras, na rodovia Rio-São Paulo, com traçado inaugurado em 1950, são mostras de uma grande incompetência e de um desprezo pela economia das atividades produtivas e segurança de passageiros que trafegam por estas duas grandes artérias do nosso sistema rodoviário. É inacreditável que todos que demandam não só Petrópolis como também Juiz de
Fora, Belo Horizonte, Brasília e ramificações para o enorme interior do Brasil, continuem condenados aos engarrafamentos quase diários causados por acidentes com caminhões e carretas na subida da serra de Petrópolis.

Eu me lembro, por fim, com que alegria, eu menino, via o carro passar pelo monumento ao Cristo e pouco depois o Hotel Quitandinha e chegar ao sonhado destino. Hoje, embora Petrópolis já não seja o céu que foi, ainda é um local de refrigério em relação ao calor abrasador que as mudanças climáticas estão provocando na cidade do Rio de Janeiro.

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