COLUNISTA
No última dia 1 de julho O Globo publicou o artigo Uma Marca Para o Centro do Rio, de minha autoria, no qual defendo a ideia de uma ocupação acelerada do Centro do Rio por unidades da Universidade Federal do Rio de Janeiro ao mesmo tempo em que se daria a disponibilização de áreas na Ilha de Fundão criando com isso a possibilidade de um bairro novo, planejado para as necessidades e imposições humanísticas do século XXI. Tendo recebido mensagens encorajadoras de altas autoridades municipais, da Secretaria de Ensino Superior do Ministério da Educação e de alguns membros da nata dos urbanistas cariocas, volto ao tema com um maior detalhamento para facilitar a concretização da ideia.
Eu convido o leitor a se imaginar em um passeio pelo novo Centro idealizado. Ele pode começar por visita à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo que estaria no Palácio Gustavo Capanema, antiga sede do MEC e o mais icônico símbolo da cooperação entre os arquitetos modernistas brasileiros e o seu “Papa”: Le Corbusier. Próximo a este edifício, a antiga sede da ABI Associação Brasileira de Imprensa, projeto dos irmãos Roberto, também renomados arquitetos, poderia abrigar a Escola Nacional de Belas Artes, convenientemente próxima do Museu Nacional de Belas Artes.
Alguém poderia imaginar local mais apropriado para a Faculdade Nacional de Economia do que o Edifício do antigo Ministério da Fazenda? Por ali passaram grandes Ministros que zelaram ao longo do último século pelo desafiador comportamento das contas públicas brasileiras. Algo que deve estar sempre na lembrança, não só dos economistas, mas de toda sociedade. Nada melhor do que o imponente prédio para isso afirmar.
Não temos no Brasil algo que se compare com o Lincoln Center em Nova Iorque, mas o polígono formado pelo Theatro Municipal, Escola Nacional de Música, Sala Cecília Meireles, Teatro Municipal Carlos Gomes, Fundição Progresso conjugado a alguma das dezenas de edifícios disponíveis nesta região facilitaria muito o intercâmbio artístico e a formação de novos talentos nestas áreas.
Assim também a articulação entre Biblioteca Nacional, a Biblioteca Parque Estadual, belo projeto de Glauco Campelo, o Real Gabinete Português e outras notáveis bibliotecas existentes no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, no Museu da Marinha, no Tribuna de Justiça e em outros órgãos públicos favoreceria enormemente a formação multidisciplinar na área de História, Literatura e Ciências Sociais, que poderiam contar com imóveis praticamente vazios, como o edifício do IHGB e outros que hoje penam desocupados, vítimas da decadência do Centro.
Outra entidade a fazer parte deste complexo cultural poderia ser o Palácio Itamaraty e sua Fundação Alexandre de Gusmão, devidamente restaurado no seu primeiro pavimento, residência e palácio de despachos do Presidente Floriano Peixoto. Pode ser um autêntico museu da República Velha, deixando-se o Catete para ser exclusivamente o Museu da Era Vargas. O edifício histórico da Santa Casa de Misericórdia, cujas enfermarias foram a escola da
Faculdade Nacional de Medicina voltaria ao antigo esplendor dos grandes mestres que por lá passaram, como Pitanguy, Magalhães Gomes, Clementino Fraga, que tanto elevaram o nome da medicina brasileira.
São vários os exemplos, mas, para terminar esta relação, não posso deixar de saudar o eventual retorno da escola de Engenharia para seu berço no Largo de São Francisco, com a possível ocupação sob a forma de aluguel de vários pavimentos vazios do Clube de Engenharia. Nesta área de tecnologia, edifícios como a sede histórica da Light, onde um grande Museu de Tecnologia, nos moldes do Deutsches Museum, poderia ser instalado tendo
patrocínio da Petrobras, da Eletrobras e Vale do Rio Doce. Recursos alocados em projetos de pesquisa dariam vitalidade a necessária formação tecnológica para este século da informática e da inteligência artificial, para o qual estamos tão mal preparados.
As unidades da UFRJ transferidas para o Centro se somariam às de outras universidades que já estão por lá, como a UniRio, a Estácio de Sá e outras. Este novo Centro, além do mais, representaria um grande negócio imobiliário que o Rio tanto necessita. Em um próximo artigo falarei da moderna cidade socialmente justa que poderia abrigar cerca de 60 mil habitantes no espaço da Ilha Fundão. Seria uma cidade inteligente, ambientalmente sustentável, com habitações e centros sociais integrando desde residências adequadas aos técnicos e pesquisadores dos centros de pesquisas já por lá instalados, como CENPES e CEPEL, e projetos sociais que dignificassem a vida de seus ocupantes de rendas mais baixas. Muitos transferidos do próximo Complexo da Maré, equalizando as densidades ocupacionais entre estes bairros vizinhos e viabilizando um transporte público de qualidade.
Eu concluo lembrando a sugestão do artigo anterior: uma autoridade interinstitucional, com a participação de governo estadual e federal, sob a liderança da prefeitura, promovendo o início imediato de ações para concretizar este projeto que, além de ocupar adequadamente o Centro do Rio, valorizaria os imóveis de toda a região e redefiniria a vocação maior da cidade do Rio de Janeiro como capital cultural do país no século XXI.
José Luiz Alquéres é consultor emérito do Centro Brasileiro de Relações Internacionais
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