COLUNISTA
Estamos acostumados a tratar dos assuntos constantes do título deste texto como temas sem relação entre si. Isso induz a discussões intermináveis sobre aspectos particulares, vantagens ou desvantagens de algumas soluções que, ao longo da história o homem inventou para tratar problemas surgidos da boa gestão de cada um deles e, especialmente, simular cenários futuros como se fossem variáveis absolutamente independentes. A primeira questão que devemos levantar é que o uso de energia é consequência de um modelo de ocupação da terra. Este modelo vem evoluindo há séculos na direção de um alto grau de urbanização das populações expresso em uma taxa de urbanização já superior a 50% da população global.
Podemos desta taxa de urbanização já deduzir duas conclusões: 1 é essencial o uso mais racional possível da energia de fontes não renováveis, como as fósseis, uma vez que, de certa forma, metade da população mundial ainda não usufrui dos benefícios e comodidades da chamada moderna vida urbana; 2 o uso de fontes renováveis deve ser incentivado em relação aos não-renováveis, especialmente as que poluem o ambiente por emissões de
carbono.
No tocante à primeira conclusão, não creio que haja grande discordância, desde que o progresso tecnológico sempre tenha apontado que os processos industriais de produção, a climatização de ambientes e outras formas de utilização de energia só teriam a beneficiar seus usuários caso demandassem menor quantidade de energia e, consequentemente, menor custo para eles. Ocorre, no entanto, um fenômeno moderno: uma consulta no Chat
GPT consome 40 vezes mais energia elétrica que a mesma consulta feita no Google. Os resultados são melhores no Chat GPT e, com o tempo, ninguém prescindirá de ter sempre estes melhores resultados. Há, portanto, uma tendência de uso mais intenso da energia se contrapondo a observável redução das taxas de crescimento demográfico.
Quanto ao uso das energias renováveis, algo que parece sempre louvável, inúmeros problemas estão presentes. O primeiro deles tem aflorado tanto na pauta da guerra entre Rússia e Ucrânia e, agora, na disputa tarifária entre Brasil e EUA: a utilização de jazidas limitadas de minerais raros essenciais na indústria bélica e também na de armazenamento de energia em baterias. Há que se considerar que as mais comuns energias renováveis -
solar e eólica caracterizam-se por sua disponibilidade, em média, da ordem de 30% do tempo, devendo os demais 70% serem preenchidas por baterias e outras formas de acumulação de energia que demandarão o dobro da capacidade instalada e utilizada ao longo do dia.
Essas questões já levantadas nos induzem pensar: nosso modo de vida e de ocupação do território é mesmo o mais racional? Não deveríamos repensar a chamada “Civilização do Automóvel e do Consumo”, com diferenciação entre as áreas industriais, comerciais e residenciais, transporte à longas distâncias de bens e mercadorias consumidas muitas vezes por mero modismo?
As duas perguntas acima são lastreadas pela disponibilidade de energia a preço competitivo. Esse preço competitivo de energia também implicou na alta movimentação de commodities agrícolas e minerais entre continentes com consequências terríveis para as emissões de carbono, no caso brasileiro, pois elas, conjugadas ao desmatamento e ao mau uso da terra, representam cerca de 75% das emissões de carbono aqui emitido o que faz
do habitante médio do Brasil alguém que emite individualmente 60% a mais do que o habitante médio do mundo.
Estas emissões são feitas às custas da devastação das florestas e da devastação dos mares sendo isso sim o que deveria mais nos preocupar.
José Luiz Alquéres é engenheiro.
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