COLUNISTA
José Luiz Alquéres, vice-presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
No sábado, dia 30 de agosto, após um esforço de superação de dificuldades negociais, administrativas de projeto e de construção, foi entregue ao público a reforma do palacete Barão do Amparo, antiga Casa de Saúde de Vassouras que abrigará um novo museu na cidade. Este trabalho fantástico do ponto de vista construtivo e arquitetônico se deve ao concurso de grandes arquitetos como Mozart Vitor Serra, Mauricio Prochnik e Marcos Sá, da construtora de Mauro Viegas Filho, além de várias empresas coadjuvantes. A ideia, a persistência em liderar este longo processo e os recursos financeiros se devem ao empresário e ex-deputado federal Ronaldo Cesar Coelho, homem que combina de forma harmoniosa sucesso no mundo dos negócios e comportamento exemplar como homem público nas diversas funções que exerceu ao longo da vida.
O museu poderia se chamar, com justiça, “Ronaldo Cesar Coelho”. Ele, acompanhado de seu irmão, Arnaldo, e seu filho, Guilherme, recebiam emocionados o governador do Estado Claudio Castro, o ex-governador Pezão, o ministro do STF Luis Roberto Barroso (natural de Vassouras - como também o foi o ministro Sebastião Lacerda) e umas quatro centenas de amigos, autoridades e moradores da cidade. Vassouras é uma cidade muito peculiar do Vale do café fluminense. Ela, pela distância do Rio de Janeiro e dificuldade de acesso, acabou construindo o mais diverso equipamento social no século XIX, incluindo um teatro, onde se apresentaram grandes artistas. Sua mais eminente moradora, cuja casa é hoje o Museu Casa da Hera foi Eufrásia Teixeira Leite, mulher ali educada que se tornou uma grande administradora da fazenda da família e, depois, investidora na Bolsa de Paris, para onde se mudou. Só voltou ao Brasil no fim da vida. Doou todos os seus bens para a cidade.
O terreno do novo museu abriga também o incomum túmulo de um casal de judeus negociantes e patronos da Santa Casa que, ao falecer, tiveram o seu enterro negado no cemitério católico. A Santa Casa de então os acolheu e hoje, restauradas as criptas, elas se mostram como um monumento à tolerância, também ressaltado nos discursos dos patronos do museu ora inaugurado, como a sua nova vocação: um espaço de convivência das artes e das manifestações civilizatórias que contribuíram para o passado e o presente de Vassouras. Neste novo museu estarão as lembranças não só dos barões do café, mas dos pretos escravizados, dos quilombolas, dos negociantes e
mascates que formaram a tradição da cidade e da região. Assim como vemos hoje nos Estados Unidos o Carnegie Hall, a Biblioteca Morgan, em Nova Iorque, e o Kennedy Center, em Washington, Ronaldo desponta na geração atual de homens de negócios do Rio de Janeiro como um exemplo e um referencial para todos aqueles que entendem que a maior glória de um homem está no compartilhamento com seus semelhantes daquilo que, com trabalho e dedicação, conquistou. Este museu, solidificado pela restauração, amparado por um conselho curador de nomes de alta expressão, apoiado pelo Instituto República, será, sem dúvida, um grande ponto de referência no Vale do Paraíba fluminense.
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