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José Luiz Alquéres

COLUNISTA

José Luiz Alquéresz

NOSTALGIAS


José Luiz Alquéres, membro titular do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro -IHGB


Quando eu era pequeno, por volta dos cinco ou seis anos de idade portanto, há três quartos de século , os ideais, a cultura, os hábitos e os comportamentos da classe média carioca eram bem diferentes. Começando pela música erudita: era comum as famílias fazerem assinaturas de temporadas de concertos ou, alternativamente, de óperas no Theatro Municipal. Quando se adquiriam frisas ou camarotes, era hábito levar algumas das crianças da família para que fossem apresentadas àquele ambiente magnífico e, assim, fossem sensibilizadas para as artes clássicas.

Sambas e modinhas eram ouvidos no rádio e, eventualmente, algum amigo ou amiga era levado, nos fins de semana, ao Clube do Guri, da Rádio Nacional ou da Rádio Mayrink Veiga. Nunca fui, mas nas voltas de carro de Petrópolis passávamos pela Praça Mauá e descíamos a Rua do Acre, quando algum adulto apontava o auditório da Rádio Nacional, instalado no porão do Edifício A Noite, ou da Rádio Mayrink Veiga, um pouco mais adiante, na própria Rua do Acre.

De tempos em tempos, as crianças eram levadas a aniversários de algum dos “velhos” ou “velhas” da família classificação que englobava todos com mais de 50 anos. Servia-se ali um ponche, bebida que variava conforme a receita peculiar de cada família. Era preparado em um grande balde de cristal e servido em pequenas canecas lapidadas, com auxílio de uma concha de sopa, também de cristal presente típico de casamento. Quando me casei, em 1970, ainda recebi um kit desses. Também se oferecia, em pequenos copos, o coquetel Alexander, feito com leite condensado, conhaque, licor de cacau e creme de leite. As crianças gostavam de dar uma bicada, pois
era docinho. Ao final, depois do bolo com a litúrgica distribuição de fatias segundo a hierarquia familiar , servia-se uma coupe de champanhe naquelas taças rasas que, segundo a tradição, Dom Pérignon teria desenhado inspirado no seio de Maria Antonieta. A história, porém, não explica como o bom abade teve acesso à famosa rainha.

A champanhe, que às vezes também era servida após cerimônias de casamento, ainda na sacristia, vinha acompanhada dos chamados “palitos franceses”, biscoitos compridos, vendidos colados em uma tira de papel, que exigiam cuidado ao serem destacados para não se esfarelarem antes de serem arrumados em travessas. Os mais famosos eram os da Confeitaria Colombo, que também fornecia doces de ovos, como o Pingo de Tocha, o
Ninho de Fios d’Ovos e uma deliciosa bala embrulhada em papel fino com franjas.

Havia ainda, para acompanhar o uísque, um biscoito salgado vendido em lata com a figura de um galo. Durante a semana, os doces, balas e biscoitos de padaria eram mais simples. Entre eles, os “legítimos rebuçados de Lisboa”, balas quadradinhas de açúcar queimado, embrulhadas em papel impresso, e as “cavacas”, espécie de biscoito de farinha branca coberto por uma massa também branca e açucarada.

Onde foram parar essas coisas?

Churrascarias, que eu saiba, existiam apenas três: a Gaúcha, na Tijuca; a Parque Recreio, no Flamengo, cuja especialidade era a maminha de alcatra fatiada; e uma terceira, em uma casa na Rua Paula Freitas, em Copacabana, cujo nome não me recordo.

Quando completei cinco anos, minha mãe me perguntou que presente eu queria ganhar. Certamente influenciado por alguma conversa em um desses eventos familiares, pedi para jantar fora, na churrascaria Camponesa, recém-inaugurada no último andar da Sears, na Praia de Botafogo. Meus pais riram muito daquele inusitado desejo, mas me levaram. Lembro dela, elegante; de meu pai, de terno, voltando do trabalho; e de mim, comendo um churrasco misto servido em bandejinha de aço inox, com compartimentos separados para molhos e acompanhamentos como farofa, arroz e batata frita. Ao final, meus pais perguntaram: “Você gostou?”. Respondi: “Gostei. Obrigado.”. Mas, para a grande risada deles, pronunciei errado: “os patos eram gossos” queria dizer que os pratos eram grossos, em comparação com a louça de casa, feita da finíssima porcelana alemã Rosenthal. Durante décadas me gozaram na família, dizendo que eu era metido a besta por causa disso.

A gente começa a pensar no passado e o texto vai ficando interminável. Deixo, então, outras memórias para uma futura ocasião...

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