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José Luiz Alquéres

COLUNISTA

José Luiz Alquéresz

EMPRESÁRIOS, EMPRESAS E SUSTENTABILIDADE


José Luiz Alquéres, vice-presidente do IHGB-Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro


Tenho defendido em outros artigos a ideia que avanços significativos no campo da sustentabilidade só ocorrerão com o comprometimento visceral das empresas em conduzir as suas atividades de forma coerente com este desiderato. No livro de minha autoria “Empresas Sábias” (Edições de Janeiro) apontei que empresas sábias são  aquelas que pensam o seu futuro a médio e longo prazo e que exigem de seu corpo diretivo empresários que aliem sua competência profissional a uma sólida visão humanística.

Em um excelente artigo publicado esta semana na Folha de São Paulo, Candido Bracher, um dos maiores empresários brasileiros deste início de século que já presidiu o conglomerado Itaú, onde colocou em prática tudo que se espera de uma pessoa comprometida com sustentabilidade, mostra a sua decepção com o retrocesso que estamos assistindo nas ações de várias empresas.

Bracher aponta que dos 140 maiores conglomerados financeiros que haviam se comprometido a só financiar empresas que adotassem as medidas de proteção ambiental e que não provocassem aceleração das mudanças climáticas, vários já se retiraram dos compromissos voluntários da chamada Net Zero Banking Alliance (NZBA). Isso não só para agradar o governo Trump, como para rechear os bolsos ávidos de dinheiro de banqueiros pouco escrupulosos.

É uma péssima notícia que deve ser mostrada em toda sua dimensão neste período que precede a realização da COP 30. As empresas, especialmente as médias e grandes, que recorrem a financiamentos bancários e à emissão de ações no mercado de capitais, são aquelas que foram responsáveis historicamente pela grande degradação ambiental que  sofreu e continua sofrendo nosso planeta. A medida anteriormente adotada pelos bancos de eliminar a sua colaboração financeira com estas empresas tinha o dom de incentivá-las a procurar recursos para projetos de produção limpa, que contribuísse para descarbonização tão necessária da nossa economia.

É uma questão inequívoca do ponto de vista científico: as atuais formas de produção e hábitos de vida extinguem continuamente milhares de espécies, ocasionam eventos extremos, como as tempestades que com grande frequência se repetem em alguns pontos do Brasil, as secas prolongadas que provocam movimentos migratórios na África, Ásia e Oriente Médio e muitos outros efeitos adversos.

Enquanto isto ocorre, o grande lobby das empresas petrolíferas, em vez de orientar sua produção para a mais cara, porém ambientalmente mais tolerável tecnologia de ampliar o índice de recuperação de petróleo e gás em campos já existentes, utiliza seu poder financeiro e uma migalha de recursos que oferece como royalties para governos complacentes para que autorizem a expansão de fronteiras de exploração de petróleo.

A situação descrita caracteriza um crime ambiental que espero venha implicar em responsabilidades análogas à que a indústria de cigarros foi condenada após manter  propaganda ostensiva de seus produtos, mesmo sabendo, melhor do que ninguém, os efeitos nocivos para a saúde pública e para a vida humana. Esta situação também demonstra da parte destas grandes sociedades anônimas o que Theodor Levitt denominou décadas atrás de “miopia em marketing” em memorável artigo publicado na Harvard Business Review, usando como argumento a recusa das estradas de ferro americanas em explorar gasodutos utilizando as suas servidões. Elas os trataram como
competidores e não complementos à sua tarefa de movimentação de cargas e graneis. O resultado foi a implantação autônoma de redes de dutos para múltiplas finalidades (gasodutos, oleodutos, minerodutos e outros) que acabaram com a economicidade de boa parte do transporte ferroviário americano.

Ser sustentável, portanto, além de ser racional é ser também, em um certo grau, visionário - não mais de um futuro distante, mas daquele que está batendo em nossa porta.

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