COLUNISTA
Uma das manifestações mais antigas da liberdade feminina foi um conjunto de poemas escritos por Sapho, no século VII AEC. Tal poesia de forte conteúdo lírico e excelente qualidade trata de vários temas, mas ficou rotulada como uma elegia ao amor homossexual entre mulheres e ao termo “lesbianismo”, porque Sapho viveu e escreveu na Ilha de Lesbos. Os maiores estudiosos são muito prudentes em considerar que os poemas, que se referem a declarações de amor a mulheres, possam configurar relações de natureza mais íntima do que um forte afeto pessoal.
Ainda na Grécia, é muito significativa a relação entre Péricles, que governou por mais de trinta anos Atenas em seu século de ouro, com Aspásia, sua companheira, frequentemente classificada como concubina. Na realidade, Aspásia era uma anfitriã e mulher de grande conhecimento que, muito além de uma parceira sexual era uma conselheira respeitada pelos convivas e dignatários daquela cidade que representou o apogeu da cultura grega no século V AEC.
Hipátia era filha de um bibliotecário, entenda-se como um diretor do museu de Alexandria, extremamente culta e conhecedora da matemática. Pelo fato dessas atividades serem consideradas incompatíveis com a de uma mulher virtuosa, fanáticos cristãos a apedrejaram até a morte. Isto se deu no século V DEC.
Após quase mil anos, a posição da mulher mereceu um destaque nas cortes medievais do sul da França. As cantigas dos trovadores e os romances do ciclo do Graal exaltaram o amor cavalheiresco, onde o homem se humilha ao extremo em dedicação à sua dama. Atenção: a dama poderia ser casada, pois não se esperava que o casamento traduzisse uma relação de amor conjugal. Frequentemente ele era visto, especialmente na alta nobreza, como uma transação patrimonial, ligada a posse de terras ou outras riquezas.
Cristina de Pisano, que viveu na França no século XV é considerada a primeira autora que se sustentava com proventos oriundos de suas obras literárias e filosóficas. Ela era crítica da proeminência masculina no mundo das letras e seu livro “A Cidade das Damas”, é uma alegoria do que poderia ser uma cidade onde as mulheres tivessem a importância que mereciam. Veronica Franco foi a mais famosa do grupo de cortesãs venezianas, mulheres
educadíssimas e refinadas que ditavam moda no século XVI de Veneza. Estas mulheres se correspondiam com os doges e nobres e, como ela, defendiam publicamente causas feministas em uma sociedade hostil aos direitos das mulheres. Denominadas “cortigiane oneste” eram famosas em toda Europa.
Shakespeare, que escreveu quase cem anos depois, inclui várias mulheres em papel de destaque em suas obras. Algumas das quais se disfarçam de homem naqueles momentos onde o enredo pede uma atuação mais forte. Possivelmente para não chocar o público. É o caso de Portia no “Medida por Medida” e de Rosalind na peça “Como Gostais”, duas obras primas do bardo.
A partir do século XVIII, a importância da presença feminina nos jogos de poder se faz notar nos salões e na política das principais cortes europeias. Como amantes de reis, como princesas que, por razões de estado, casam com herdeiros de países europeus, elas e sua entourage desempenham um papel crescente na diplomacia internacional e, de certa forma, no desenvolvimento das relações intelectuais entre os países. Na esteira desses relacionamentos o comércio internacional se desenvolve e mesmo algumas alianças importantes na colonização ou conquista de terras em novos continentes, como América do Sul e do Norte ou povos distantes do Oriente, como China, Índia e Indonésia. Embora este papel importante pouco tenha contribuído para a ascensão e igualdade de direitos da mulher antes do marco definitivo criado pela Revolução Francesa, é de se destacar o papel daquelas e de outras mulheres que vencendo todo tipo de resistência mostraram ao mundo que as mulheres são seres fortes, competentes e tão capazes quanto os homens.
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