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José Luiz Alquéres

COLUNISTA

José Luiz Alquéresz

LULA E TRUMP


José Luiz Alquéres é membro titular do IHGB Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.


Os Estados Unidos da América já influenciaram brasileiros preocupados ou atuantes em nossa independência desde a Conjuração Mineira. Textos daquela época que aqui chegaram e mesmo encontros ocorridos na Europa entre brasileiros com Thomas Jefferson em tempos que precederam o grito do Ipiranga representaram para nosso país um exemplo e mesmo um ideal moral a ser atingido.

Desde de meados do século XIX e primeiras décadas do século XX, os Estados Unidos foram se tornando cada vez mais presentes no cenário geopolítico mundial. Inicialmente no Pacífico, com anexação do Havaí e ocupação das Filipinas; e também na América Central, com a expulsão da Espanha de Cuba e construção do Canal do Panamá, a sua vocação de império comercial mundial se afirmou. Nesse período de expansão imperial, o geógrafo americano Mathew Fontaine Maury propunha uma anexação da Amazonia baseada no raciocínio que o Rio Amazonas e o Mississipi poderiam representar uma grande via de comércio transcontinental. O governo imperial brasileiro contra-atacou incentivando Mauá a criar sua lucrativa empresa Cia. de Navegação do Amazonas, cujos barcos trafegavam até Iquitos, no Peru.

Na última década do século XIX, quando Floriano Peixoto combatia a revolta da armada, o embaixador americano ofereceu a assistência da Marinha americana perguntando ao nosso presidente como receberia aquele reforço para ajudá-lo. Floriano respondeu: “à bala!” deixando claro que assuntos de soberania não são para ser resolvidos na base de uma “boa química” entre as partes, como se fosse uma briga de namorados. No início do século XX, em ação enfática, os Estados Unidos bloquearam a formação do chamado Pacto ABC (Argentina, Brasil e Chile) que seria uma espécie de precursor da ideia depois perseguida e mal sucedida do Mercosul de maneira a preservar seu peso preponderante em qualquer decisão continental. Era época da política consagrada no conselho de Teddy Roosevelt para seus embaixadores: “Speak to them in a soft voice, but show them a big stick”.
Na década de 40 do século passado, Getúlio Vargas negaceou bastante, mas acabou concordando com a instalação de uma base aeronaval em nossa cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, durante a Segunda Guerra Mundial. Como compensação, a U.S. Steel deu apoio técnico para a instalação da CSN Cia. Siderúrgica Nacional. Vinte anos depois, o embaixador Lincoln Gordon também pôs à disposição dos militares comandantes do golpe de 64 a Marinha norte-americana. Desta vez dispensada em termos mais cordiais, porque enfim “nunca se sabe...”

Esse breve resumo é para contextualizar que a nossa amizade histórica com o grande vizinho do Norte sempre passou por altos e baixos, felizmente mais altos do que baixos, porque as Américas do Sul, Central e do Norte já apelidadas no passado de “Novo Mundo”, trouxeram para a História Mundial um tipo diferente de civilização, que, especialmente nos últimos 100 anos, levou ao mundo o conceito de democracia, república e de ideais de liberdade, iniciativa, progresso e ascensão social de seus habitantes. No tocante a América do Sul, este processo se desenvolve de uma forma mais lenta do que acontece nos países de antiga colonização anglo-saxônica, embora haja entre nós, de um modo geral, não só uma maior assimilação dos povos originários como também, via mestiçagem, uma maior integração dos descendentes dos escravizados africanos e mesmo de contingentes menores de asiáticos, judeus e emigrados do antigo império otomano.

Em um mundo onde a palavra de ordem deveria ser “interdependência” e “ação comum” dos países contra desigualdades sociais e a ultrapassagem de limites planetários, em vez de se bravatear soberanias inexistentes, Brasil e EUA devem, mais do que nunca, cooperar respeitando suas diferenças e, dando um exemplo ao mundo, que é do continente americano que podem vir modelos pós-modernos de civilização quebrando as estruturas autoritárias oriundas de Europa e Ásia.

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