COLUNISTA
Confesso que procurei um termo melhor para denominar o que estamos assistindo no mundo inteiro e que, no Rio Grande do Sul, mostra uma consequência extremamente perversa. A ciência progrediu através da relação entre causas e efeitos dos fenômenos da natureza. Em outros tempos, os povos atribuíam ao castigo de Deus todo sofrimento causado por uma grande inundação. Hoje, Ele não se presta mais a ser o responsável por este tipo de mazela. A responsabilidade deve ser buscada em ações dos próprios homens.
Quem assiste à cobertura jornalística da tragédia no Sul, vê em cada jornalista a busca por um culpado. É uma procura, no entanto, muito burra, pois se foca na identificação de um político - ou de uma autoridade deste tipo, ou de algum partido que não seja o da sua preferência - para jogar o problema no colo destes. O que estamos assistindo é algo cuja culpa, em um plano, se pode atribuir à humanidade inteira, mas também, em outro, ao governo federal no tocante às ações que poderiam mitigar o efeito deste grande pecado da raça humana. Pelo menos desde 2015, quando se celebrou o acordo de Paris que definiu cotas, metas e estratégias para a redução até a total eliminação dos gases de efeito estufa que estão provocando as mudanças climáticas, não se tem visto coerência na cobrança de providência por parte de pessoas, empresas ou governos para implantar políticas eficazes.
Permanece um jogo de empurra sobre quem deve pagar, enquanto os lobbies de empresas petrolíferas, em total descaso com os efeitos negativos provocados por sua atuação (as chamadas externalidades), continuam a apregoar que o mundo não pode passar sem petróleo, carvão e outros combustíveis fósseis em razão de seu baixo custo.
Por outro lado, quanto aos sucessivos governos federais desde então, sua atitude só pode ser atribuída à burrice, teimosia, ignorância e descaso com a ciência. Enquanto promovem discurso de proteção da Amazônia e redução das desigualdades sociais, criam legislação de incentivo ao petróleo, gás natural, carvão e tentam impor a exploração da margem equatorial do oceano Atlântico, atitude com consequências ambientais nefastas para o clima e para a biodiversidade da Amazônia. O que é de se estranhar é a aliança efetuada com este propósito entre as grandes empresas petrolíferas, estatais como a PDVSA (venezuelana, por supuesto) e a nossa Petrobras.
O desarranjo institucional que vive a área de energia no Brasil é tão grande que os jornais anunciam que a empresa Itaipu Binacional, que deveria atuar exclusivamente para a geração de energia barata em sua usina, vai financiar sistemas de saneamento em Belém do Pará para dar uma boa impressão aos visitantes que, no próximo ano, virão para uma conferência da ONU sobre o clima.
Na crise costumam surgir grandes homens, como se viu na Segunda Guerra Mundial, quando Churchill, um político que então tinha baixa aceitação popular, cresceu frente ao povo britânico e ao mundo por se contrapor à ameaça constituída pelo abominável regime nazista. O Rio Grande do Sul é celeiro de grandes políticos e tem um governador jovem e corajoso. Esperemos que no processo de restauração das condições de vida naquele estado, ele possa demonstrar a capacidade de liderança tão necessária para superar essa triste situação.
Veja também: