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José Luiz Alquéres

COLUNISTA

José Luiz Alquéresz

NATAL DE ESPERANÇA


José Luiz Alquéres Membro Titular do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro IHGB Natal, Natal de Esperança/

Natal do Menino Jesus...

Há 2.025 anos o nascimento de Cristo ensejou uma doutrina que hoje constitui a mais numerosa religião do mundo. Na base dela três virtudes: a Fé, a Caridade e a Esperança. Esta última é a que nos anima para enfrentar a vida, pois somos humanos; e a morte, pois somos filhos de Deus.

Antes de buscarmos o significado profundo desta palavra luminosa Esperança vale deter-nos em outras que lhe fazem sombra, por vezes confundidas com ela, embora sejam de natureza diversa: Otimismo, Utopia, Probabilidade e Crença. São irmãs apenas na aparência; no espírito, seguem caminhos distintos.

Otimismo é o olhar que escolhe ver o melhor, mesmo quando o mundo insiste em mostrar o contrário. É o sorriso sereno do Doutor Pangloss, de Cândido, como retratado por Voltaire, para quem todo mal é apenas um bem incompleto, ainda em processo de desabrochar. Para os otimistas radicais, o universo marcha, cedo ou tarde, para finais felizes como se a História obedecesse a roteiros benevolentes.

Utopia, ao contrário, não se contenta com o real: inventa uma ilha, um céu possível. Thomas Morus a batizou de “Lugar Nenhum”, mas lhe deu substância ao imaginar uma sociedade perfeita, harmônica, onde nada ofende o espírito. Era 1516, às vésperas de Lutero afixar seu Manifesto na capela do castelo de Wittenberg, gesto que mudaria o destino religioso do Ocidente. Morus sonhava a paz num mundo prestes a incendiar-se. E, curiosamente, situou sua ilha ideal no vasto oceano que mais tarde abrigaria o Brasil metáfora involuntária de futuros improváveis.

A Probabilidade, invenção dos matemáticos, é a esperança comedida: não promete, insinua. Não afirma que algo ocorrerá, mas que pode ocorrer, segundo a dança invisível dos fatores aleatórios. É a ciência do talvez e, hoje, a do mundo quântico. A Crença, por sua vez, dispensa cálculos: afirma com a plenitude da Fé. Para o crente, o futuro não é possibilidade, mas certeza; não é construção, mas revelação. Os fatos não a sustentam é ela que sustenta os fatos.

E chegamos, enfim, à Esperança. Na tradição cristã, ela é virtude teologal: a confiança de que um bem futuro coroará a fidelidade do espírito. Foi ela que levou mártires a caminhar serenamente em direção ao sacrifício, certos de que além da fogueira lhes aguardava a eternidade. Sua força foi tamanha que abalou o Império Romano: quanto mais morriam, mais renasciam em novos fiéis.

O tempo, porém, lhe deu outras vestes. Hoje, a Esperança é menos promessa divina e mais teimosia humana. Ela inspira a perseverança mesmo quando o cenário é inóspito e ilumina causas terrenas: um planeta mais sustentável, uma sociedade menos desigual, um Estado de Direito que seja mais do que letra morta, uma fraternidade que resista aos escombros da discórdia.

Ariano Suassuna, com sua graça profunda, diria que a Esperança é de esquerda, para usar a memorável classificação contida em seu famoso livro “A Pedra do Reino”. Ela se rebela contra a lógica da competição e do triunfo sobre o outro. Prefere imaginar um amanhãcompartilhado, mais fraterno e mais justo. E, para isso, não recua diante do esforço: aceita a boa luta, o bom combate aquele que São Paulo proclamava.
Não é, portanto, uma virtude passiva. É construção, é movimento, é chama que insiste. A

Esperança não espera: convoca. E nos impulsa, sempre, em direção aos objetivos nobres, mesmo e sobretudo quando parecem difíceis.

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