COLUNISTA
José Luiz Alquéres, do IHGB
Petrópolis, que acaba de comemorar 181 anos da sua fundação, nasceu ligada ao Rio de Janeiro e assim tem vivido como se o cordão umbilical que as une jamais tivesse sido cortado. Podemos, assim, falar do seu futuro para a população e para os governos de ambas as cidades.
O vigoroso processo de desenvolvimento urbano que hoje inclui Rio e Petrópolis na mesma região metropolitana, com mais de 12 milhões de habitantes, produziu alterações funcionais na vida de ambos os municípios, o que impõe uma reflexão inclusiva no plano metropolitano sobre seu futuro.
O primeiro ponto a ser levado em consideração é nos despirmos da tendência muito comum de alimentarmos uma guerra entre o status do presente em ambas cidades e saudosas lembranças de um passado idealizado. Esse tipo de disputa sempre negligencia o futuro, para onde devem se voltar os nossos esforços, naturalmente sem negar nossas origens.
Uma visão de futuro, levando em conta que nós moldamos as edificações e os espaços urbanos das nossas cidades, mas, por outro lado, eles moldam a nossa existência e de nossos descendentes, deve privilegiar a manutenção e o bom uso desta herança edificada. No caso de Petrópolis, proponho a constituição de quatro conjuntos de testemunhos da sua existência pensando não só nas edificações restauradas, mas com usos compatíveis que favoreçam o desenvolvimento econômico da cidade.
O primeiro conjunto denominado Petrópolis Imperial visaria a memória do seu passado até a Proclamação da República. Dele constariam o Museu Imperial, o Palácio Grão-Pará, a Casa do Colono, a Universidade Católica, as casas do Barão de Mauá e do Barão de Rio Branco, o Palácio de Cristal, a Catedral, a Casa da Princesa Isabel, a Fábrica da Bohemia, os edifícios fabris da Companhia Petropolitana e da São Pedro de Alcântara e outras casas cujos proprietários aderissem a um programa de visitas guiadas.
A existência de uma sociedade de preservação de imóveis históricos que recebesse incentivos dos três poderes da República, poderia aumentar, e muito, esse patrimônio com a inclusão da Casa Tavares Guerra e o Parque Municipal fronteiro, a Casa da antiga embaixada inglesa, a casa do Monsenhor Bacelar - hoje Franklin Sampaio - e as fazendas Samambaia, Padre Corrêa e Santo Antônio.
O segundo conjunto que denominaria Petrópolis Belle Époque se estenderia até a transferência da Capital Federal para Brasília. É uma época marcada pela construção de belas casas de veraneio, que se iniciam por exemplares de arquitetura eclética e vitoriana e alcançam obras da arquitetura moderna brasileira que vicejam após os anos 30. É uma época de festas, lazer, jogo no Quitandinha, mas também de vilas operárias, sede do Banco do Brasil, dos Correios, do Fórum Municipal, edificações de estações ferroviárias em Cascatinha, Nogueira e outras localidades de alguns loteamentos bem implantados, além de ruas icônicas como a Av. Koeller, milagrosamente preservada de edifícios, sorte que não teve a Rua Roberto Silveira ou a Rua do Imperador.
O terceiro conjunto denominaria de Petrópolis Suburbano, avisando logo que não se trata nada pejorativo, apenas marcando o papel da cidade na região metropolitana. É uma época onde as linhas de ônibus diárias passam a comunicar a cidade com todas as cidades da Baixada Fluminense, em que passa a existir uma busca maior de serviços de Educação e Saúde de melhor qualidade em Petrópolis do que nos seus municípios vizinhos, em que de início a menor violência urbana da cidade atrai mais moradores, e que a classe média com a independência proporcionada pelo automóvel, mora e cria suas famílias aqui, mas trabalha no Rio de Janeiro. Há uma grande tendência da cidade se transformar em um dormitório do Rio e um esvaziamento de suas instituições culturais, redução de seus veículos próprios de comunicação e uma diluição da sua identidade histórica e do orgulho de ser petropolitano.
Nesse período, a velocidade de urbanização produz uma paisagem desordenada, de alto risco para a população, que se instala em encostas e nas margens dos rios, e mesmo a urbanização de Itaipava e arredores, voltada a uma população mais abonada, é feita sem critério, gerando os atuais engarrafamentos permanentes e uma desoladora coleção de edificações. É um tecido urbano a ser recuperado por corajosas intervenções públicas e privadas.
Por fim, temos a Petrópolis do Futuro, onde contrariamente ao seu plano original, traçado por um só homem - o Major Koeller - a sociedade civil e o governo devem formular um plano plurianual que valorizando a sua tradição e seus marcos históricos prepare a cidade para um futuro sustentável com indústrias verdes, de alta tecnologia, atividades soft power, com controle da sua densidade populacional, educação de seus habitantes para trabalhos de maior valor agregado e a valorização do orgulho de ser petropolitano.
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