COLUNISTA
A ignorância, o desconhecimento das coisas, uma atitude anticientífica, podem gerar uma enorme sensação de medo nas pessoas. É verdade que às vezes o conhecimento da ciência e, especialmente, o poder destrutivo de algumas de suas conquistas pode também proporcionar a mesma sensação.
Até meados do século XVI a natureza oferecia enormes enigmas para a humanidade. O pensamento predominante é que espíritos superiores, irados com as atitudes humanas, se vingavam através dos mais variados fenômenos naturais descontrolados.
Terremotos, inundações, secas, pragas de insetos, pandemias e muitos outros exemplos locais ou globais eram enfrentados pelo hipotético valor de sacrifícios, algumas vezes humanos, orações e rituais variados.
Pode-se dizer que, a partir da publicação do livro Principia Mathematica, de Isasc Newton, que apresentava uma explicação racional e demonstrável por repetição das razões do comportamento dos astros e dos corpos em movimento, propondo a lei da gravitação universal, uma nova etapa se descortinou. Era uma etapa já prenunciada havia séculos por estudiosos como Jean de Buridan, Roger Bacon e Guilherme de Ockham, cujos fundamentos filosóficos haviam sido consolidados no início daquele século por Francis Bacon.
Desde então, a ciência começou a tratar a Natureza com o olhar científico, ou seja, investigar as causas que produziam aqueles até então enigmáticos fenômenos. A humanidade passou a ter a preocupação de compreender a natureza e não a ver como uma inimiga sempre prestes a tentar destruí-la. É verdade que os homens entre si, por meio de suas guerras e seus meios de vida, acabavam produzindo destruições tão significativas quanto aqueles fenômenos naturais Embora esse sentimento da natureza ser uma inimiga tenha, desde então, se alterado e, com o auxilio da ciência, a humanidade tenha conseguido mudar o conceito de inimiga para apenas uma atrapalhadora dos seus propósitos, ou seja, uma promotora de eventos que exigia obras de grande porte para mitigar as suas consequências ou anos de caras pesquisas para desenvolver remédios e outros produtos químicos para enfrentar pragas e doenças, perdurou o sentimento dos homens estarem do lado contrário ao da natureza. Em outras palavras, longe de ser a mãe-natureza ela era a perversa madrasta dos contos de fada.
O desfio atual da humanidade é enfrentar a degradação do nosso planeta provocada pelas atividades humanas que ampliaram os muitos prejuízos a ele causados por fenômenos naturais, especialmente quando focados no que convém à nossa espécie humana. Muito se fala de projetos, acordos, investimentos e outras medidas objetivas para dar concretude a este enfrentamento, mas o maior dos desafios está na mudança de uma mentalidade que predominou durante todo este passado que é a de que seres humanos e natureza não fazem parte do mesmo sistema. Na realidade, os seres humanos se incluem no sistema maior da natureza terrestre e, por isso, seus projetos devem se iniciar pela compreensão que a natureza deve ser respeitada a qualquer custo, evitando-se agressões adicionais sobre um sistema que já dá mostras de estar profundamente afetado em seu funcionamento normal. Hoje, apesar de suas reações espasmódicas, a natureza clama por piedade e isso resultará em benefício do futuro da espécie humana.
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