COLUNISTA
1- Me fala um pouco da sua formação acadêmica e o porque das suas escolhas.
Nas minhas formações acadêmicas, fiz Zootecnia, Serviço Social, Pedagogia e Pós Graduação em Educação Comunitária. Fiz diversas especializações, em educação política, políticas públicas com a educação sempre na sua base. Tenho o pé em liderança feminina e essa é uma das minhas grandes paixões.
Minhas escolhas se devem à paixão por biotecnologia, por isso minha formação em zootecnia. Serviço social porque trabalhei com moradores de rua e mulheres em situação de vulnerabilidade e se você não tiver um olhar técnico, vc não pode só querer ajudar. Educação porque é a base de tudo, tem o poder transformador e de gerar culturas. Acredito demais numa educação não violenta e inclusiva que vai gerar uma cultura do enfrentamento à violência e ao combate ao feminicídio.
2- Como surgiu e o que é o Instituto Virada Feminina?
O Instituto Virada Feminina, surgiu em 2016 com o intuito de juntar todos os movimentos femininos pequenos, médios, lideranças de mulheres, liderança política, deputadas, senadoras, mulheres do judiciário, juízas e promotoras.
Criamos o Instituto para somar saberes e conhecimentos para que a gente saísse só da discussão, porque o problema é encontrar os caminhos e soluções para as demandas das mulheres. Criamos a Virada Feminina com base nos 17 objetivos do desenvolvimento sustentável, criamos grupos de trabalho, educação, saúde, meio ambiente, enfrentamento a violência, povos originários, com o objetivo de trazer propostas de soluções para as demandas que cada coletivo e que cada mulher conhece. O lema da Virada Feminina é saindo da discussão e partindo para a ação.
3- Quais são os seu projetos?
Tenho inúmeros projetos. Projetos efetivos em relação à soluções dentro da demanda feminina.
Mas a Virada Feminina tem um projeto muito sério que é a Mostra do Feminicídio, uma exposição fotográfica com os casos mais emblemáticos, como o de Elisa Samudio, Angela Diniz, Daniela Perez entre outras. É uma mostra itinerante no Brasil. Na verdade não é somente uma mostra fotográfica, são rodas de conversas em shoppings centers, nas comunidades, nos estádios, nos espaços públicos dentro das cidades, com expertises na área, como Dra Luiza Eluf, uma das autoras da lei do termo do feminicídio, a Dra Sueli Amoedo e algumas mães de vítimas que fazem parte dessa mostra. Existem debates com a população e familiares das vítimas, que é uma forma de não só não esquecer essas mortes e sim trazer à realidade a reflexão da importância que tem a prevenção, quando seu companheiro fala da sua roupa, da sua maquiagem o que é um caminho sem volta para os primeiros tapas e a violência física. A mostra do feminicídio é um dos projetos mais importantes da Virada Feminina. Mesmo com todas as política públicas, com todos os programas, disque 180, disque 100 para o assédio, o X na mão e sendo a terceira melhor lei do mundo, ainda vemos o aumento absurdo dos números do feminicídio e da violência. Outro projeto muito bom é o da Paulista Mais Verde, o plantio de árvores na Av Paulista pra acabar com o índice de calor. É um projeto realizado por mulheres. Temos também os projetos Costurando Sonhos e o Renda na Rua com mulheres em situação de vulnerabilidade, em parceria como Instituto Ruas. O Virando Páginas é um livro que mulheres contam suas trajetórias e cada mulher que é uma liderança ou uma mulher de expressão, patrocina uma mulher vulnerável, uma mulher invisível para estar dentro desses capítulos contando suas histórias de superação e assim trazemos a visibilidade de mulheres que não conhecemos, mas que estão nas ruas, mulheres quilombolas, de reservas indígenas, que precisamos trazer à luz. Com a população trans também temos um trabalho muito forte, inclusive a prefaciadora da primeira edição do Virando a Página, é Leonora Áquila que foi secretária da população Lgbtqia em São Paulo.
4-Quais são os seus maiores desafios na vida profissional?
Os meus maiores desafios são os mesmos de todas as mulheres em situação de liderança. Eu presido, além da Virada Feminina, o conselho superior feminino da FIESP, Federação da Indústria do Estado de São Paulo, a maioria são homens e qualquer mulher em qualquer situação, em cargo de liderança ou cargo de representatividade, enfrenta toda a realidade da diferença salarial, da cultura machista que ainda existe. Eu vivo o que todas as mulheres vivem. Mato dez leões por dia. Tenho que estar sempre mostrando competência e que estou acima de qualquer situação normal a uma mulher.
Não sou diferente de nenhuma mulher, mas com alto grau de resiliência e uma vontade muito forte e maior ainda de furar bolhas.
5- Fale um pouco sobre a origem das mulheres que foram beneficiadas com o seu trabalho.
Na sua maioria são mulheres em situação de vulnerabilidade nas ruas. Trabalhamos também com mulheres trans, indígenas, com a inclusão e a participação das mulheres negras não só na representatividade política mas nos cargos de liderança. Essa é uma das nossas grandes preocupações.
Temos também a Virada Feminina Itália, que é um dos grandes projetos e à frente dele, há dois anos, estão Daniela Castro, Elisa Pereira e Roberta Spadine desenvolvendo um trabalho muito forte de empoderamento de empresárias dentro do país.
6-O que foi pra você, como gaúcha, receber o título de cidadã paulistana?
Foi uma emoção indescritível. Quando se vive em São Paulo, entende-se a grandeza desse universo que é esse estado, a grandeza das oportunidades que se tem aqui. Tudo o que é feito em SP, vira case. Quando vim morar aqui e fui presidente do movimento Mulheres da Verdade da Dra Ivone Capuano, uma grande mulher, eu lembro que saíamos na rua no 9 de julho ou no 7 de setembro e eu queria levar a bandeira do Estado de São Paulo. Ele é um ponto de encontro de todo o país. Foi uma honra esse título de cidadã paulistana.
Semana passada recebi também o título de cidadã cuiabana, dentro do shopping quando apresentávamos a Mostra do Feminicídio. Foi muito emocionante, pois além das autoridades, também estavam os familiares das vítimas.
Quando eu recebo um título de cidadã sinto que é porque fiz alguma coisa séria e transformadora por aquele lugar.
Pra mim, os dois títulos, foram na mesma proporção e com o mesmo grau de amor, recompensa e honra.
7-Como você acha que as relações de trabalho afetam as mulheres?
Tenho falado muito sobre a questão da saúde mental. Teremos dois fóruns, agora em setembro, um dentro da FIESP pelo conselho superior feminino e outro na Assembleia Legislativa de São Paulo. As mulheres no trabalho sofrem, além das diferenças que são notórias, tem a questão do assédio também. Os números negativos da saúde mental tem crescido absurdamente e nós precisamos falar disso e entender o universo feminino dentro das relações do trabalho através da saúde mental efetivamente.
8-Quem é sua maior inspiração?
Tenho várias inspirações. As referências são fundamentais. Não tenho como falar todas, mas tenho uma paixão particular pela Michele Obama e pela Margaret Tatcher. Tenho pessoas perto de mim que tenho uma referência imensa pela Dra Dalva Christofoletti, primeira dama do municipalismo, enorme admiração pela Luiza Nagib Eluf, Marilia Parra, a vereadora Sandra Tadeu, Deputada Soraia Santos em Brasília , Érika Paes no Rio, e tantas outras por esse Brasil afora, tantas referências femininas. Marcia Pinheiro em Cuiabá, Celi Almeida em Cuiabá, Bruna Rossato, Marta Marques e tantas outras mulheres que são referências muito importantes pra mim.
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