COLUNISTA
1- Me fale sobre sua formação acadêmica.
Me formei há 10 anos em odontologia. Filha única. Com muita dificuldade, consegui fazer uma faculdade, graças aos meus pais. Eles trabalhavam todos os dias, incansavelmente para que eu pudesse estudar. Minha mãe chegou a perder os dedos em uma máquina de corte e vinco e uma semana depois já voltou a trabalhar junto com meu pai para que eu tivesse todo apoio nos estudos. Muitas vezes escolhia qual das refeições iria fazer. Foram tempos difíceis, mas me sinto muito orgulhosa por toda essa caminhada. Acredito que o fardo nunca é maior do que podemos carregar!
Após minha formação, busquei algumas especializações que não realizei com sucesso pois não me encontrei nelas. Estava bem desanimada com a profissão quando fiz a prova para residência em cirurgia e traumatologia bucomaxilofacial. Foi aí que me encontrei, eu atendia diretamente na porta de entrada de um hospital referência em trauma, casos absurdos que eu jamais achei que chegaria perto, aprendi muito, tanto com os pacientes como com os profissionais de diversas áreas que atuavam comigo. Foram os 4 anos mais intensos da minha vida. A paixão pela profissão voltou. Com muita luta consegui comprar meu próprio consultório. Foi daí que nasceu aquele sentimento de que eu deveria retribuir, fazer mais pelas pessoas, principalmente pelas mulheres. Nasceu uma nova paixão!
2- O que é Operação Lotus?
É um canal no youtube com mais de 1,3 milhões de seguidores, idealizado por uma mulher de fibra e caráter, minha querida amiga Sthefany Pinheiro. O nome é Operação Lotus porque a flor de lotus nasce da lama, algo lindo que nasce do lodo. Trata-se de um canal que aborda assuntos sobre segurança pública. A violência é o lodo e a flor de lótus é a comunidade se unindo. Não queremos mães chorando, não queremos pais de familia não retornando para casa, nós queremos paz. O Sub Tenente Cavalcanti, lenda viva da ROTA, é o comentarista policial do canal, um homem muito íntegro e que realmente se preocupa com a população. Recebi um convite para ser embaixadora da marca no início do ano e desde então a carrego comigo junto com esses dois seres humanos INCRÍVEIS, dentro do meu coração. Pessoas que acreditaram em mim e no meu trabalho e agora me acompanham de perto. Tenho muito amor pela OPERAÇÃO LOTUS.
3- Nengenharia. Qual a finalidade de uma arma a laser?
A NENGENHARIA é a ÚNICA empresa que tem a carta de exclusividade das forças armadas para produzir protótipos de armas para treinamento da segurança pública e privada. É minha segunda família, sem a marca nada seria possível. A BlueGun, popularmente conhecida por esse nome (seu nome técnico é SAFE GUN) é utilizada para INÚMEROS treinamentos, desde a fundamentação básica do tiro esportivo, até estratégias militares de combate. A SafeGun serve para treinamento do seu João, que faz o café em uma empresa privada, como de uma equipe especializada da polícia. Tudo depende da finalidade e para cada uma delas existe uma bluegun. Conseguimos, com nossos equipamentos, ensinar do zero, COM TOTAL SEGURANÇA para uma pessoa que nunca segurou uma arma nas mãos. Como empunhar, como fazer a visada, posicionamento, a melhor maneira de coldrear, inspeções de seguranca, locomoção etc Estamos dentro das principais forças de segurança do Brasil (exército, marinha, aeronáutica, polícia militar, guardas municipais, empresas privadas de segurança entre outras). Estamos também na Europa e com objetivo de alçar vôos cada vez maiores. Temos produtos novos, fresquinhos saindo do forno.
4- Sabemos que você se formou no Projeto IAT, como foi essa experiência ?
Foi desafiador! Eu tinha um certo receio, pois achava que o projeto não era pra mim (crenças limitantes). No primeiro dia de aula prática, quando entrei na sala de aula, me deparei com mais de vinte homens e eu a única mulher. Fiquei totalmente deslocada, mas só nos primeiros 5 minutos, depois fui acolhida por cada um dos colegas, que sempre me auxiliaram nas dificuldades, nunca tinha vivido essa experiência! Agradeço aos professores Mauricio Fedatto e Marcelo Adriano, que sabendo dos meus traumas e limitações, fizeram de tudo para extrair o melhor de mim, sempre com o maior respeito! Minha vida mudou muito depois disso. Me sinto mais segura e sinto que hoje, tenho uma rede de apoio. Serei a eterna aluna deles, com muito orgulho e confesso que sinto muita saudade dos meus colegas de turma!
Mulheres, se um dia pudessem, gostaria que sentissem o que eu senti, as alegrias, as superações, as amarras que quebrei fazendo esse curso! Além de dentista, sou instrutora de armamento e tiro e posso dizer que não me acovardo diante das pessoas que me criticam, pois sei que tenho uma rede de apoio gigantesca!
5- Hoje como IAT, o que você tem para contar da profissão?
É uma profissão linda e desafiadora, você precisa estar em constante aprendizado, pois as coisas se atualizam o tempo todo. Ainda é um universo dominantemente masculino, então, a função das mulheres nesse meio é perseverar e estudar. Não importa o que os outros falam (e sempre falam), o importante é dar ouvidos para quem te alavanca. Existem excelentes profissionais na área e eu conheço alguns, mas também existem profissionais que deixam a desejar. No início do curso de tiro esportivo, tive um péssimo exemplo que me atrasou a vida em alguns aspectos. Em toda experiência ruim que tive, absorvi somente o que NÃO fazer e hoje aplico o que aprendi de bom, inclusive dando alguns cursos de iniciação gratuitos para mulheres. Quero fazer algo por elas e desejo uma rede de apoio entre elas, cada vez maior.
6- Me Conta sobre sua história incrível de superação e o que você tem a dizer pra quem passa pelo que você passou.
Em 2015 sofri uma terrível tragédia, uma violência sexual que me deixou marcas físicas. Fui alvejada com 3 tiros após denunciar o criminoso. Eu tinha um medo terrível de armas, minha cabeça ficou bagunçada, nao tive apoio de amigos, muito menos de familiares, apenas dos meus pais. Logo após essa tragédia, minha mãe não aguentou e faleceu. Foram tempos terríveis! Eu nao conseguia mais viver com aquilo e já estava ficando louca, não dormia, não comia e só chorava. Me via como uma caça acoada e indefesa. Eu não podia mais viver daquele jeito. Tinha dois filhos pequenos e quando olhava para eles, pensava no que dar de exemplo, estando daquele jeito. O que eu passaria para minha filha? Viver acovardada? O que eu ensinaria para meu filho? Não ter coragem para enfrentar a vida? Meus filhos não mereciam aquilo, então decidi enfrentar o medo de frente e mostrar que o domínio era meu. Comecei a estudar sobre armas e o que elas poderiam fazer. Conheci, perdi o medo e após o primeiro disparo me apaixonei por esse mundo, que automaticamente me fez virar a chave. Muitas mulheres, infelizmente, nesse exato momento podem estar vivenciando essa mesma tragédia, pois não tiveram a oportunidade de se manterem vivas, como eu tive. Isso me dói, me corroe. Eu não posso estar presencialmente com cada uma delas, abraçá-las e levá-las para um lugar seguro e distante daquilo tudo, mas gostaria de estar dentro do coração de cada uma e dizer que há saida, há um recomeço, há uma maneira de não ser mais a caça, mesmo que sozinha, sem apoio e sendo julgadas o tempo todo. Esse mundo é nosso mulherada!!Somos responsáveis pelas nossas vidas, somos fortes e somos lindas. Deixemos o egoísmo do julgamento de lado, há algo maravilhoso planejado por Deus. Nao sejam apenas mais um número na estatística, força!! Vamos dar continuidade às suas histórias, sejam as heroínas que existem dentro de vocês.
7- O que gosta de fazer quando não está no trabalho?
Eu amo estar dentro do clube de tiro (risos), inclusive nas minhas folgas. Graças a Deus tenho locais incríveis para ir e que posso levar minha família, como o DRAGO, clube de tiro que é um dos lugares que eu mais amo. Sempre me recebem com muito carinho e respeito. Amo estar com minha família e amigos nos tempos livres, gosto de comer um bom churrasco com a minha galera. Amo fazer cócegas nos meus filhos até eles gritarem mamãe linda do meu coração, que é a senha para parar. Isso me faz flutuar, e a risada deles é o que realmente me recarrega para enfrentar tudo o que a vida traz. Graças a Deus tenho bons amigos e hoje construí uma rede de apoio fantástica, com amigos, família, professores, intrutores, advogados
A minha jornada de vida não foi fácil e ainda não é, mas hoje não permito determinadas situações e isso fui aprendendo com o tempo. A vida é linda e cheia de desafios durante o caminho e eu escolhi deixar um legado para minha família, já que minha base foram eles. Minha mãe que foi minha primeira e maior inspiração, meu pai, que nunca se acovardou diante das situações mais difíceis de nossas vidas e jamais nos deixou, nos deu um lar forte e seguro e meus filhos que são a razão da minha vida! Deus é bom o tempo todo, todo o tempo Deus é bom!
1- Me fala um pouco da sua formação acadêmica e o porque das suas escolhas.
Nas minhas formações acadêmicas, fiz Zootecnia, Serviço Social, Pedagogia e Pós Graduação em Educação Comunitária. Fiz diversas especializações, em educação política, políticas públicas com a educação sempre na sua base. Tenho o pé em liderança feminina e essa é uma das minhas grandes paixões.
Minhas escolhas se devem à paixão por biotecnologia, por isso minha formação em zootecnia. Serviço social porque trabalhei com moradores de rua e mulheres em situação de vulnerabilidade e se você não tiver um olhar técnico, vc não pode só querer ajudar. Educação porque é a base de tudo, tem o poder transformador e de gerar culturas. Acredito demais numa educação não violenta e inclusiva que vai gerar uma cultura do enfrentamento à violência e ao combate ao feminicídio.
2- Como surgiu e o que é o Instituto Virada Feminina?
O Instituto Virada Feminina, surgiu em 2016 com o intuito de juntar todos os movimentos femininos pequenos, médios, lideranças de mulheres, liderança política, deputadas, senadoras, mulheres do judiciário, juízas e promotoras.
Criamos o Instituto para somar saberes e conhecimentos para que a gente saísse só da discussão, porque o problema é encontrar os caminhos e soluções para as demandas das mulheres. Criamos a Virada Feminina com base nos 17 objetivos do desenvolvimento sustentável, criamos grupos de trabalho, educação, saúde, meio ambiente, enfrentamento a violência, povos originários, com o objetivo de trazer propostas de soluções para as demandas que cada coletivo e que cada mulher conhece. O lema da Virada Feminina é saindo da discussão e partindo para a ação.
3- Quais são os seu projetos?
Tenho inúmeros projetos. Projetos efetivos em relação à soluções dentro da demanda feminina.
Mas a Virada Feminina tem um projeto muito sério que é a Mostra do Feminicídio, uma exposição fotográfica com os casos mais emblemáticos, como o de Elisa Samudio, Angela Diniz, Daniela Perez entre outras. É uma mostra itinerante no Brasil. Na verdade não é somente uma mostra fotográfica, são rodas de conversas em shoppings centers, nas comunidades, nos estádios, nos espaços públicos dentro das cidades, com expertises na área, como Dra Luiza Eluf, uma das autoras da lei do termo do feminicídio, a Dra Sueli Amoedo e algumas mães de vítimas que fazem parte dessa mostra. Existem debates com a população e familiares das vítimas, que é uma forma de não só não esquecer essas mortes e sim trazer à realidade a reflexão da importância que tem a prevenção, quando seu companheiro fala da sua roupa, da sua maquiagem o que é um caminho sem volta para os primeiros tapas e a violência física. A mostra do feminicídio é um dos projetos mais importantes da Virada Feminina. Mesmo com todas as política públicas, com todos os programas, disque 180, disque 100 para o assédio, o X na mão e sendo a terceira melhor lei do mundo, ainda vemos o aumento absurdo dos números do feminicídio e da violência. Outro projeto muito bom é o da Paulista Mais Verde, o plantio de árvores na Av Paulista pra acabar com o índice de calor. É um projeto realizado por mulheres. Temos também os projetos Costurando Sonhos e o Renda na Rua com mulheres em situação de vulnerabilidade, em parceria como Instituto Ruas. O Virando Páginas é um livro que mulheres contam suas trajetórias e cada mulher que é uma liderança ou uma mulher de expressão, patrocina uma mulher vulnerável, uma mulher invisível para estar dentro desses capítulos contando suas histórias de superação e assim trazemos a visibilidade de mulheres que não conhecemos, mas que estão nas ruas, mulheres quilombolas, de reservas indígenas, que precisamos trazer à luz. Com a população trans também temos um trabalho muito forte, inclusive a prefaciadora da primeira edição do Virando a Página, é Leonora Áquila que foi secretária da população Lgbtqia em São Paulo.
4-Quais são os seus maiores desafios na vida profissional?
Os meus maiores desafios são os mesmos de todas as mulheres em situação de liderança. Eu presido, além da Virada Feminina, o conselho superior feminino da FIESP, Federação da Indústria do Estado de São Paulo, a maioria são homens e qualquer mulher em qualquer situação, em cargo de liderança ou cargo de representatividade, enfrenta toda a realidade da diferença salarial, da cultura machista que ainda existe. Eu vivo o que todas as mulheres vivem. Mato dez leões por dia. Tenho que estar sempre mostrando competência e que estou acima de qualquer situação normal a uma mulher.
Não sou diferente de nenhuma mulher, mas com alto grau de resiliência e uma vontade muito forte e maior ainda de furar bolhas.
5- Fale um pouco sobre a origem das mulheres que foram beneficiadas com o seu trabalho.
Na sua maioria são mulheres em situação de vulnerabilidade nas ruas. Trabalhamos também com mulheres trans, indígenas, com a inclusão e a participação das mulheres negras não só na representatividade política mas nos cargos de liderança. Essa é uma das nossas grandes preocupações.
Temos também a Virada Feminina Itália, que é um dos grandes projetos e à frente dele, há dois anos, estão Daniela Castro, Elisa Pereira e Roberta Spadine desenvolvendo um trabalho muito forte de empoderamento de empresárias dentro do país.
6-O que foi pra você, como gaúcha, receber o título de cidadã paulistana?
Foi uma emoção indescritível. Quando se vive em São Paulo, entende-se a grandeza desse universo que é esse estado, a grandeza das oportunidades que se tem aqui. Tudo o que é feito em SP, vira case. Quando vim morar aqui e fui presidente do movimento Mulheres da Verdade da Dra Ivone Capuano, uma grande mulher, eu lembro que saíamos na rua no 9 de julho ou no 7 de setembro e eu queria levar a bandeira do Estado de São Paulo. Ele é um ponto de encontro de todo o país. Foi uma honra esse título de cidadã paulistana.
Semana passada recebi também o título de cidadã cuiabana, dentro do shopping quando apresentávamos a Mostra do Feminicídio. Foi muito emocionante, pois além das autoridades, também estavam os familiares das vítimas.
Quando eu recebo um título de cidadã sinto que é porque fiz alguma coisa séria e transformadora por aquele lugar.
Pra mim, os dois títulos, foram na mesma proporção e com o mesmo grau de amor, recompensa e honra.
7-Como você acha que as relações de trabalho afetam as mulheres?
Tenho falado muito sobre a questão da saúde mental. Teremos dois fóruns, agora em setembro, um dentro da FIESP pelo conselho superior feminino e outro na Assembleia Legislativa de São Paulo. As mulheres no trabalho sofrem, além das diferenças que são notórias, tem a questão do assédio também. Os números negativos da saúde mental tem crescido absurdamente e nós precisamos falar disso e entender o universo feminino dentro das relações do trabalho através da saúde mental efetivamente.
8-Quem é sua maior inspiração?
Tenho várias inspirações. As referências são fundamentais. Não tenho como falar todas, mas tenho uma paixão particular pela Michele Obama e pela Margaret Tatcher. Tenho pessoas perto de mim que tenho uma referência imensa pela Dra Dalva Christofoletti, primeira dama do municipalismo, enorme admiração pela Luiza Nagib Eluf, Marilia Parra, a vereadora Sandra Tadeu, Deputada Soraia Santos em Brasília , Érika Paes no Rio, e tantas outras por esse Brasil afora, tantas referências femininas. Marcia Pinheiro em Cuiabá, Celi Almeida em Cuiabá, Bruna Rossato, Marta Marques e tantas outras mulheres que são referências muito importantes pra mim.
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