COLUNISTA
Pois é, na próxima semana o Brasil estará comemorando mais um 15 de novembro. Mas está muito calor para falar de Deodoro da Fonseca, que aliás não me consta que tivesse nenhuma aptidão gastronômica. Nem de D. Pedro II, que felizmente não herdou o apetite voraz dos Braganças e era moderado inclusive à mesa. Vamos trocar então por outro imperador bem mais badalado: Napoleão Bonaparte! E o mais importante para esta
coluna, a sua relação com o Champagne.
Napoleão e um garrafa de champagne
Napoleão nasceu na Córsega, uma ilha à cerca de 1.130 kms de Paris. Aos 10 anos, foi estudar na Academia Militar de Briènne, na região da Champagne e lá foi colega de sala de um jovem de família rica, Jean-Rémy Moët. Pois bem: nos fins de semana, todos os alunos iam para as suas respectivas casas, menos o pequeno corso que não tinha recursos para visitar os seus. Certa sexta-feira, no entanto, e com pena de saber que o companheiro iria ficar mais um fim de semana sozinho naquele pavilhão imenso, e deserto, convidou-o para passar o sábado e o domingo “chez lui”, em Épernay, capital da Champagne. Napoleão foi, provou, o célebre vinho espumante, gostou e ficou muito grato ao novo amigo. Voltou algumas vezes. Anos depois, já um general conhecido em toda França, foi visitar a vinícola.
quadro de Napoleão visitando as caves da Chandon
E mais: ao organizar as suas guerras de conquista, primeiro a Itália, a seguir o Egito e, depois, umas 60 batalhas das quais participou pessoalmente em toda a Europa, já como imperador, passou a iniciar a marcha com
seus exércitos por Épernay, para se municiar do precioso néctar. Aliás, Jean-Rémy mandou construir então um castelo, para homenagear o poderoso conquistador, que hoje é a sede da Maison Moët & Chandon.
A degola (com trocadilho)
Além de consumílo “na vitória e na derrota”, Napoleão desenvolveu a prática do “sabrage”, que como o nome indica é a degola do gargalo das garrafas de champagne, com o sabre. O imperador era sabidamente um homem impaciente e não gostava de perder tempo (com saca-rolhas, por exemplo).
o somelier Valmir Pereira e o sabrage
Um gole de história: essa arma branca, longa - o sabre - conquistou a Europa num tempo em que os cavaleiros ainda duelavam pela honra de sua dama. Ou pela própria. Mas, com o tempo, ela sofreu diversas modificações e, hoje, só é utilizada em escala ou na esgrima moderna, que é um esporte, ou em eventos vinícolas, como este, no caso. Até porque o chamado Sabre-Para-Abrir-Champanha, disponível no mercado, não possui fio de
corte. É feito artesanalmente em aço inox temperado e polido e o destaque é o seu punho forte, de metal bronzeado.
Homenagem: 10 anos após a morte de Napoleão, aos 51 anos, e em maio de 1821, portanto, a Chandon criou a categoria superior do “Brut Impérial”, para celebrar a memória do “amigo” que se orgulhava de ser imperador conquista obtida pela espada e, não, rei resultado de herança genética.
Epílogo: a única batalha em que Napoleão não começou por Épernay, foi a última, Waterloo (na região da atual Bélgica), quando foi derrotado por uma coligação dos exércitos inglês e prussiano. Será que se tivesse tomado
umas três taças seria diferente?
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