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sexta-feira, 07 de março de 2025


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Reinaldo Paes Barreto

COLUNISTA

Reinaldo Paes Barreto

O vinho, a vinha e a mulher

E já escrevi uma vez que o mosto fermentado da uva deveria se chamar “a vinha”, porque todos os substantivos do seu DNA são femininos: a vinha, a vindima, a uva, a colheita, a safra, a adega, a garrafa, a taça e a conta bancária!

O que não deveria surpreender o universo masculino, porque entre outras 13 mil virtudes, há no instinto de cada mulher um mantra:  não me ensine que eu aprendo. E como aprenderam! Haja vista que as quatro “revoluções” no mundo do vinho em séculos passados foram vencidas por mulheres.  Vamos lá.

A primeira: foi Maria, mãe de Jesus, que nas Bodas de Canãa vendo que ia faltar o elixir de uma boa festa, o vinho, pediu a Jesus para transformar a água em vinho. E ele então disse aos empregados: “Enchei as talhas!”. Cada talha tinha capacidade para cem litros e haviam seis, portanto, no total, foram seiscentos litros de vinho. Este episódio está narrado no Evangelho de São João. E eles lhe obedeceram.... foi o primeiro milagre de Cristo.

A segunda: na segunda metade do século 18, foi a Veuve Clicquot, uma jovem francesa do interior cujo marido morreu quando ela tinha 27 anos quem assumiu o comando da vinícola, e converteu o seu produto o champagne na bebida da celebração, do amor, do poder, do charme, do dinheiro e da ereção...tanto que as pessoas levantam as taças (e em geral se levantam, também) para brindar. Curiosidade: em 1826 chegaram ao Rio de janeiro as primeiras garrafas de Veuve Clicquot, encomendadas por carta escrita de próprio punho pelo imperador D. Pedro I.

Interrompe-se o ciclo francês e sobre ao podium a brava portuguesa, Antónia Adelaide Ferreira (1811-1896), nascida e criada na Régua, Região do Douro e, como as anteriores (à exceção d Maria) ficou viúva aos 33 anos. Foi assim: ela e o marido vinham num rabelo (aquelas barcaças que singram o Rio Douro) que naufragou. Ele morreu, mas ela sobreviveu graças às sete saias, que lhe serviram de boia. Mas não se salvou sozinha: salvou o vinho do Porto e os parreirais que escalam aquela paisagem bíblica, porque assumiu o comando da Casa Ferreirinha (que pertencia à sua família) e durante o ataque da phyloxera, “o fungo assassino” que devastou as vinhas do Douro, pagou do bolso durante anos a sobrevivência/manutenção dos seus empregados, até que a ciência dominou a praga e a vinícola pode voltar a colher a uva sadia, para produzir o vinho fortificado e os excelentes vinhos de mesa que produz e exporta até hoje.

Voltemos à França. Uma terceira viúva, Louise Pommery (1819-1890), promoveu a primeira pesquisa de opinião com os consumidores de seu champagne e constatou que o público masculino o grande comprador sobretudo os ingleses, preferiam bebidas secas (à exceção do Porto). Desenvolveu, então, o primeiro champagne brut. E para diferenciar a marca mundo afora, convidou artistas plásticos para desenhar os seus rótulos. Criou, também, caves subterrâneas, hoje 18kms percorridos por milhares de enoturistas que visitam a vinícola, anualmente, em Reims.

Bom, mas hoje (o seu dia são todos!), a mulher é uma consumidora exigente, quando não gestora dos “negócios do vinho”, porque tonou-se conhecedora do que quer - e do que não quer - mas, e sobretudo, uma aliada na luta pela qualidade de toda a cadeia produtiva do vinho: o produto certo, o preço justo, o jogo limpo. Ah, sim! E graças a elas temos o “by the glass”, (vinho em taça) porque foi graças à moderação feminina que os bares, os restaurantes, supermercados chiques, etc, bolaram a degustação nesse formato.

Por isso, a nossa homenagem e a nossa comovida saudação à MULHER e uma prece para que Baco nunca as desampare -- nem a nós!

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