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Reinaldo Paes Barreto

COLUNISTA

Reinaldo Paes Barreto

O Descobrimento: curiosidades

A primeira não é uma curiosidade: é uma impropriedade, já que não foi um descobrimento lato sensu (salvo de uma perspectiva lusocêntrica), porque o território já existia e era habitado por milhares de povos originários.

Mas a segunda já é: Cabral não era um malucão que resolveu atravessar o oceano para ver o que tinha do outro lado, e nem as Grandes Navegações foram um impulso apenas romântico, para dar novos mundos ao mundo. Quando bem sucedidas, o sujeito ganhava uma boa grana e Portugal abria novas rotas para o seu comércio marítimo e para a dilatar a fé e o império. No caso de Cabral, por exemplo, o jornalista paulista Alexandre Versignassi, autor do livro Crassh (finalista do Prêmio Jabuti) afirma que Cabral foi contratado por negociantes da alta burguesia de Portugal e da Itália para descobrir novas rotas para a índia por 10 mil cruzados, algo como 5 milhões de reais, hoje.

Tanto que ao deixar o litoral baiano em 2 de maio de 1500 atenção: eles só ficaram aqui 11 dias, de 22 de abril a 2 de maio a armada levantou velas rumo ao sul e dali seguiu em direção ao seu objetivo principal: atingir Calcutá, nas Índias.

Adiante: na travessia da Torre de Belém, em Lisboa, para o Monte Pascoal, no sul da Bahia, Cabral veio com 1.500 homens, distribuídos irregularmente em três caravelas (naves menores e mais ágeis) e dez naus, pesando cerca de 250 toneladas o todo.

Cabral foi o primeiro navegador português a utilizar o astrolábio.

E 65 mil litros de vinho Pêra-Manca (*). Até porque a expedição de Cabral (como a de outros conquistadores) era uma aventura de tão alta taxa de risco que para minimizá-la Cabral trouxe também, a bordo, tonéis contendo o fermentado das uvas Antaão Vaz e Arinto. Que que não se destinavam exclusivamente ao brinde da rapaziada! Não. Essa provisão também servia para preparar e higienizar alimentos, consagrar o sangue de Cristo durante as missas diárias celebradas em cada uma das 13 naus da esquadra e, enfim, manter o moral dos oficiais.

Só que o vinho se deteriorou ao sabor dos solavancos de 44 dias (partiram a 9 de março) sobre as ondas e ... sabem quem percebeu de cara que o vinho tinha virado uma zurrapa? Os índios tupis-guaranís que foram recepcionar o bravo navegador português em Porto Seguro. Foi assim: na melhor tradição de Casa Portuguesa, com certeza, Cabral convidou um cacique e alguns originários para subirem a bordo da Nau Capitânea. E lhes ofereceu o Pêra-Manca disponível. Pois bem: o cacique, primeiro, depois os demais,  provaram o mosto fermentado desse corte de uvas Antâo Vaz e Arinto e cuspiram em esguicho pelo tombadilho. Ou seja, mesmo selvagens, eles preferiam o Cauim, o fermentado de mandioca, do que o Pêra-Manca avinagrado!

Epílogo de humor: o Millôr Fernandes garantia que ao gritar terra à vista, Cabral ouviu em uníssono: não, a prazo!

(*) O nome Pêra-Manca deriva de pedra manca (ou oscilante), uma formação granítica de blocos arredondados em desequilíbrio sobre a rocha firme. Trata-se, portanto, de uma toponímia. E o que veio nos visitar em 1500 não é nem de longe o icônico alentejano de hoje, produzido atualmente pela competente Fundação Eugénio de Almeida desde 1990. E custa uma fortuna.

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