COLUNISTA
Por dois motivos, pelo menos: o primeiro, porque ele perdeu a estima do rei D. Manuel I, provavelmente devido às intrigas da Corte (no mundo luso-brasileiro o sucesso é um perigo!). E, o segundo, porque até cerca de 1530 o grande interesse de Portugal era o comércio de especiarias com a Índia. O Brasil, nesse início, foi quase esquecido e, por conseguinte, o seu conquistador também. Só com o declínio dessa rota de negócios com o Oriente é que a Coroa portuguesa se voltou para a “Ilha de Vera Cruz”, como a batizou Pero Vaz de Caminha, e passou a incrementar a produção do açúcar e, na sequência, criando as capitanias hereditárias. Aliás, só 300 anos depois, com D. Pedro II, a epopeia do Descobrimento voltou a ser exaltada.
o primeiro contato com os indígenas
Mas, vamos lá. Cabral chegou ao sul da Bahia na manhã de 22 de abril de 1500, tendo navegado 44 dias, já que partiram a 9 de março. Vieram com ele 1.500 homens, distribuídos em três caravelas (naves menores e mais ágeis, onde viajaram Cabral e os oficiais) e dez naus, pesando cerca de 250 toneladas o todo.
Curiosidades
1) Cabral foi o primeiro navegador português a utilizar o astrolábio, que trouxe à bordo. Ele era um militar de carreira, especialista em navegações e foi a primeira e última vez que esteve no Brasil, aonde permaneceu 11 dias (22/4 a 2/5). Nessa época ele era um homem de 32 anos, forte e bem apessoado. Morreu 20 anos depois, com 52, nas condições que menciono no título.
Cabral chegando ao Brasil
2) A expedição de Cabral, como não é difícil imaginar, era uma aventura de alta taxa de risco e, para minimizá-la de certa forma, Cabral trouxe também, a bordo, tonéis contendo 65 mil litros do vinho Pêra-Manca, que não
eram, apenas, para serem bebidos. Essa provisão também servia para preparar e higienizar alimentos, consagrar o sangue de Cristo durante as missas diárias celebradas em cada uma das 13 naus da esquadra e, enfim, manter o
moral dos oficiais e da marinheirada “mais tranqüila”e sem sair de seus hábitos.
o vinho Pêra-Manca
3) Só que o vinho se deteriorou por causa dos solavancos no trajeto e do sol e chuva, calor e frio e muito se tornou uma zurrapa.
E sabem quem percebeu que o vinho estava imbebível? Os índios tupis-guaranís que foram recepcionar o bravo navegador português no Monte Pascoal. Foi assim: na melhor intenção de saudar “os moradores do terreno”, Cabral convidou um cacique e alguns “originários” para subirem a bordo da Nau Capitânia. E lhes ofereceu Pêra-Manca. Pois o cacique, primeiro, depois os demais, provaram o mosto fermentado desse corte de uvas Antâo Vaz e Arinto e cuspiram o “vinagre” em esguicho pelo tombadilho. Ou seja, mesmo “selvagens”, eles preferiam o Cauim, o fermentado de mandioca, do que o Pêra-Manca avinagrado!
Para continuar com humor, finalizo com a tirada do Millôr Fernandes que jurava que quando algum oficial gritou da proa:
“terra à vista”! A turma de terra respondeu: “não, a prazo!”
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