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quinta-feira, 19 de junho de 2025


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Reinaldo Paes Barreto

COLUNISTA

Reinaldo Paes Barreto

A LÓGICA DO CORPUS CHRISTI




No início, esta festa religiosa era uma primeira resposta do Vaticano à demanda dos católicos europeus, durante a Idade Média. Ou seja, a necessidade de representar o momento maior do rito eucarístico, a consagração do pão e do vinho, para o maior número possível de fiéis, de forma a convidá-los a comungar não só fisicamente, mas também espiritual e até psicologicamente do momento sublime da conexão do sagrado com o humano. Jesus não é mais o único dono do seu corpo e do seu sangue: somos todos os que participamos da missa e do seu “grand finale”.

Mas não bastava. Como as catedrais e grande basílicas são monumentais e frias pela sua arquitetura e amplitude, e os fiéis ficavam muito distante do sacerdote e do “andante” das missas: era preciso ir para as ruas, se expor mais. Donde as procissões, algumas espetáculos quase teatrais. E, através delas, a exposição dos símbolos da Igreja como a hóstia sagrada, carregada pelas ruas em ostensórios, exibindo ao mesmo tempo pompa e a participação de todas das camadas da sociedade: clero, nobres e povo.

Foi o início de uma grande transformação do modus operandi da Igreja, que de hermética e hierárquica do passado, enclausurada nos seus dogmas e falando latim, passou a se apresentar fora dos portões do templo como mediadora entre o divino o popular. Atraindo cada vez mais fiéis. E na vertiginosa disparada das mudanças que a sociedade vem experimentando, o Vaticano está a caminho de uma revisão maior e mais radical ainda do significado para o público do Corpus Christi: o deslocamento do foco no milagre da conversão do pão e do vinho, para a missão eclesial de ir ao encontro das populações em situação de vulnerabilidade.

Tanto que em paróquias que atuam junto a comunidades mais comprometidas com a inclusão social, muitas homilias passaram a incorporar temas como desigualdade de raça e gênero, migração de refugiados, responsabilidade dos pais no balanço entre o “convívio analógico” e o clique no link digital dos filhos menores e, conforme a proximidade de áreas de conflito ambiental, a economia regenerativa, pegada do carbono, hidrogênio e patentes verdes. E mais: a Igreja já oferece plataformas de comunicação com os usuários da sua fé através da Inteligência Artificial na gestão pastoral. Já existem, por exemplos, “chatbots” que tiram dúvidas sobre comportamentos cristãos, decodificam dogmas e explicam textos bíblicos.

Enfim, e no limite, a celebração do Corpus Christi tenta ressignificar não a celebração de um sacrifício extremo, mas a entrega generosa e intencional de Jesus à humanidade para oferecer a cada ser humano perspectiva, plenitude e esperança.

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