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sexta-feira, 17 de maio de 2024


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Reinaldo Paes Barreto

COLUNISTA

Reinaldo Paes Barreto

Seu robô, por favor

Eles estão entre nós já faz tempo. Em São Francisco, nos Estados Unidos, por exemplo, foi inaugurado há alguns anos o Cafe X, em que o único funcionário gente apenas orienta o cliente a clicar no touchscreen  de um terminal  o código do pedido (filtrado, chafé, expresso, cappuccino) e passar a comanda para o robô. Este, solícito, prepara a infusão em 20 segundos, brincando com o freguês.

E aí a pergunta: se serve café, por que não vinho?

Bom, que me conste, não existe ainda o sommelier-robô circulando pelo salão de um restaurante. Mas já existem chatbots (abreviação de robô dos chats), ou seja, um software que gerencia troca de mensagens para atender os clientes. A  Concha y Toro, vinícola chilena do mesmo nome, lançou uma plataforma batizada de Renato, que funciona como um consultor virtual. Em linguagem simples e descomplicada, sugere harmonizações e a melhor relação de preço-produto. Acessível por celular.

Mas a revolução digital na gastronomia (como em dezenas de atividades) não é, em si, novidade e está sempre ganhando espaço. Há cerca de dez anos, surgiu no Soho, em Londres, o restaurante Inamo --  em que as mesas já eram interativas e o cardápio diretamente projetado nelas, a partir de cápsulas no teto. Você usava, então, o seu dedo indicador como um mouse para escolher o pedido da comida e da bebida e, enquanto aguardava, podia conversar com outra mesa, em chat, acessar o Time Out digital e curtir a programação de teatros e cinemas, checar no mapa do metrô a conexão para um outro lugar, além de acompanhar em tempo real o preparo da sua refeição. E a quantas andava a soma das despesas até aquele momento.

Ou jogar xadrez contra o computador.

A seguir, vieram os menus e cartas de vinho consultados via iPads no local, ou pela internet/celular, à distância. Depois, as reservas via aplicativos. Com a pandemia e o perigo do contágio através de papéis e plásticos pré-manipulados, se popularizaram os QR Codes. No entanto, e um pouco na linha da Destruição Criativa, do Schumpeter, mesmo que cada inovação se proponha a revogar a anterior traz, consigo, o seu respectivo problema. No caso do serviço do vinho, sobretudo em restaurantes, o problema é um novo tipo de consumidor, de recente cultura Google, que acha que desnecessita da interlocução humana com o profissional da área: o sommelier. Se ele tiver vocação para enochato, então, é uma festa! É capaz de armar pegadinhas do tipo você sabia ou, então, despejar em voz alta uma enxurrada de sabenças (falar de aromas que lembram antigas gavetas, suor de cavalo, o vinho preferido por Napoleão...) enquanto o pobre robô é obrigado a ouvir calado, amaldiçoando o seu destino! Aliás, detalhe: ninguém se torna enochato.  Já é chato há muito tempo (ou de nascença) e anda pelo mundo à cata de uma linha do conhecimento -- para expressar a sua chatice.

Epílogo: mas enquanto a tirania robótica não inverter os papéis e a gente encontrar sentado em um wine-bar, de taça na mão, um robô estalando os dedos para um sommelier de carne e osso, há esperança...

*Colunista de gastronomia e vinhos, um dos fundadores da confraria Os Companheiros da Boa Mesa, que funciona desde 1982, e um dos embaixadores do Turismo
do Rio.

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