COLUNISTA
É isso. Ao que tudo indica, os vinhos frisantes/espumantes já existiam na Inglaterra, pelo menos vinte ou trinta anos antes de serem produzidos para consumo na Champagne francesa. Ou seja, em dezembro de 1662 seis anos antes, portanto, de Don Pérignon assumir suas funções em Hautvillers e descobrir o método champenoise- o médico e pesquisador inglês Christopher Merret (1614-1695) apresentou à recém-criada Royal Society londrina um trabalho sobre a técnica de produção de vinhos espumantes. Ele havia descoberto que a adição de açúcar aos vinhos tornava-os efervescentes e aumentava o seu teor alcoólico. Importante. Além desse feito, que não é pequeno, foi ele que organizou a primeira lista de pássaros e borboletas do Reino Unido.
Christopher Merret
Vida que segue. Em 2009, na bienal internacional de vinhos espumantes e em que as provas eram feitas às cegas (blind tests) e na qual concorreram mais de cem sparklings do mundo todo -- foi o espumante inglês Nyetimbers Classic Cuvée 2003 o vencedor. É um verdadeiro clone do champagne francês autêntico se atentarmos para a sua elaboração: ele é produzido com as uvas Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Meunier, pelo método tradicional da segunda fermentacão na garrafa, com graduacão alcoólica idêntica a dos seus pares de Epernay e Reims = 12%. E custa, na Fortnum & Mason, que é uma loja tão sofisticada que os sommeliers atendem em um formato estilizado do fraque, 39 libras, ou seja: cerca de R$ 249,00.
Nyetimbers Classic
Segundo pasmem! Levados pela novidade, os nobres ingleses começaram a gostar das bolhinhas em seu vinho branco de aperitivo ou brinde e esse gosto rapidamente atravessou a Mancha e se expandiu pela Corte de Versailles. Resultado: no final do século XVII, algum cardeal de prestígio em Paris fez saber a Dom Pérignon que a ordem era continuar pesquisando métodos para incrementar a efervescência do vinho. E ao que tudo indica, o ilustre monge teve sucesso e é aceito como o primeiro enólogo (empírico) a obter um espumante com essas características. Mas além disso, Don Pérignon descobriu que as rolhas de cortiça eram as mais adequadas para vedar as garrafas e, como remate, desenvolvido a arte do (em francês é masculino) assemblage, isto é, a mistura de vinhos de castas e safras diferentes, diferencial importante para a qualidade do Champagne. Ou seja (de novo): teria sido a corte inglesa que influenciou a corte francesa a gostar de Champagne...
Don Pérignon
Não é pouca coisa. Por isso, se não é totalmente verdade que o simpático monge foi o pai do champanhe, também não há motivo para negar seus méritos. Até porque como dizia o célebre diretor e produtor de cinema John Ford, no final de seu genial faroeste O Homem que Matou o Facínora, quando a lenda se transforma em fato, melhor publicar a lenda.
Santé!
Veja também: