Edição: domingo, 04 de maio de 2025

Ronaldo Fiani

COLUNISTA

Ronaldo Fiani

O Euro e a União Europeia Também Estão na Mira de Trump (e Não Apenas a China)


Ronaldo Fiani


Viktor Orban, primeiro-ministro da Hungria, relatou recentemente que todas as vezes que conversa com o presidente dos Estados Unidos Donald Trump, este pergunta quando ele vai abandonar a União Europeia ( https://pt.euronews.com/2025/04/25/quando-vai-deixar-a-uniao-europeia-pergunta-donald-trump-a-viktor-orban ). O antagonismo de Trump em relação à União Europeia não é novidade: em uma entrevista à CBS News em 15 de junho de 2018, ainda em seu primeiro mandato, Trump se referiu à União Europeia como um inimigo dos Estados Unidos (foe em inglês: https://www.cbsnews.com/news/donald-trump-interview-cbs-news-european-union-is-a-foe-ahead-of-putin-meeting-in-helsinki-jeff-glor/ ). Durante o chamado Brexit, isto é, a saída da Grã-Bretanha da União Europeia em 2019-2020, Trump se intitulava “Mr. Brexit”, apoiando a separação politicamente e economicamente.

Os comentaristas do cenário internacional, contudo, têm enfatizado somente a animosidade de Trump com relação à China. Na verdade, a estratégia de Trump também exige o desmonte da União Europeia, para ser coerente.
Já tive a oportunidade de explicar em outro artigo (“Há Estratégia nas Tarifas de Trump”, publicado no Diário de Petrópolis em 16 de março deste ano, disponível em: https://diariodepetropolis.com.br/integra/colunista-ronaldo-fiani-20814 ), a natureza da estratégia de Trump para o dólar. Trump e sua equipe querem recolocar os Estados Unidos no papel de motor dinâmico da economia mundial. Para isto, segundo eles, é preciso reindustrializar o país, o que somente será possível se as exportações de manufaturados norte-americanos voltarem a ser competitivas.

Para que as exportações dos Estados Unidos se tornem novamente competitivas seria preciso desvalorizar o dólar, que estaria, ainda segundo eles, sobrevalorizado porque vários bancos centrais de países com grandes superávits comerciais (diferença entre exportações e importações) com os Estados Unidos estão retendo dólares em suas reservas e, desta forma, valorizando-o para favorecer as suas exportações. Um dos principais objetivos da elevação de tarifas seria, então, forçar os bancos centrais dos países a se desfazerem de uma parte de suas reservas em dólares, para desvalorizar a moeda.

O problema é que, à medida que o dólar comece a se desvalorizar, ele também vai perder sua atratividade como moeda internacional, o que Trump e sua equipe não desejam que aconteça. A razão para esta possível perda de atratividade é simples: bancos centrais de outros países, bancos internacionais e empresas multinacionais não retêm dólares norte-americanos apenas para honrar as transações comerciais que são faturadas em dólares e o serviço das dívidas que possuam, mas também como reserva internacional de valor. Como qualquer reserva internacional de valor, o volume de dólares que é mantido é determinado pelas perspectivas de ganho do dólar, seja pela valorização cambial, seja por uma taxa de juros norte-americana elevada.

Se o dólar se desvaloriza e a taxa de juros nos Estados Unidos se mantém baixa (dois objetivos declarados de Trump e sua equipe), o dólar deixa de ser interessante como reserva internacional de valor. Com isto, outra moeda pode passar exercer a função de reserva de valor internacional, superando o dólar e, eventualmente, até mesmo assumindo o papel de principal moeda global. O renminbi chinês não é um candidato viável, pois ainda tem uma participação muito baixa nas transações internacionais: apenas 3,75%, segundo o relatório Swift divulgado em janeiro ( https://exame.com/economia/rmb-se-mantem-como-4a-moeda-mais-ativa-do-mundo-em-pagamentos-globais/) .

Mas o euro é um candidato a substituir o dólar bastante viável. Segundo a página da União Europeia, a participação do euro nos pagamentos internacionais é praticamente igual à do dólar, e o euro é “a segunda moeda mais utilizada em todo o mundo para a contratação e concessão de empréstimos e a constituição de reservas pelos bancos centrais” ( https://european-union.europa.eu/institutions-law-budget/euro/euro-internationally_pt#:~:text=O%20euro%20%C3%A9%20a%20segunda,de%20reservas%20pelos%20bancos%20centrais) .

A única forma de garantir que o dólar continue sendo a moeda global, mesmo desvalorizado, e remunerando aplicações financeiras com taxas de juros baixas é eliminando a concorrência, e a única moeda que pode representar uma concorrência séria ao dólar é o euro. Portanto, a única opção estratégica coerente que resulta dos objetivos contraditórios de um dólar desvalorizado e ao mesmo tempo moeda global, continuando a ser reserva internacional de valor é desbancar o euro, e a única forma de desbancar o euro é reduzindo significativamente o tamanho da União Europeia, ou mesmo implodindo-a.
A China não é o único “inimigo”.

Edição: domingo, 04 de maio de 2025

Veja também:




• Home
• Expediente
• Contato
 (24) 99993-1390
redacao@diariodepetropolis.com.br
Rua Joaquim Moreira, 106
Centro - Petrópolis
Cep: 25600-000

 Telefones:
(24) 98864-0574 - Administração
(24) 98865-1296 - Comercial
(24) 98864-0573 - Financeiro
(24) 99993-1390 - Redação
(24) 2235-7165 - Geral