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Ronaldo Fiani

COLUNISTA

Ronaldo Fiani

A Nova Rota da Seda é a Vítima Invisível da Guerra entre Israel e Irã


Ronaldo Fiani


Há uma vítima invisível das trocas de mísseis e bombas entre Israel e Irã: a Nova Rota da Seda. Em razão disto, as consequências desta guerra serão severas para o crescimento chinês e, desta forma, devem afetar a economia mundial, cujas perspectivas já não são boas, como destaquei no meu artigo da semana passada. A chamada Nova Rota da Seda, cujo nome oficial é Cinturão Econômico da Rota da Seda e Estratégia de Desenvolvimento da Rota da Seda Marítima do Século XXI (Silk Road Economic Belt and 21st-Century Maritime Silk Road Development Strategy em inglês) é uma estratégia de desenvolvimento internacional implementada pela China, iniciada ainda em 2013, e que prevê investimentos em vários países da Ásia, África, Europa e até América, em setores de infraestrutura, energia e mineração (especialmente em minérios associados à transição para fontes de energia que reduzam a emissão de carbono).

O nome desta iniciativa se inspira na chamada rota da seda, um conjunto de rotas que integrava comercialmente o Extremo Oriente (em particular a China) com o Oriente Médio e a Europa, desde o século II a.C. até o final da Idade Média. Assim como a antiga rota da seda, a Nova Rota visa a acelerar e ampliar o comércio entre a China, a Ásia, a África, a América do Sul e Central e, principalmente, a Europa, ao mesmo tempo em que favorece a transferência e o desenvolvimento de novas tecnologias, amplia a disponibilidade de crédito e estreita os laços entre os países envolvidos.

Trata-se, portanto, de um projeto muito mais ambicioso do que apenas favorecer transações comerciais. Contudo, a facilitação do comércio é, sem dúvida, o objetivo central da Nova Rota da Seda, em particular o aumento da integração comercial entre a China e a Europa, unindo desta forma dois grandes mercados mundiais. Em 2024 a China foi o maior exportador para a União Europeia (UE), respondendo por 21,3% das importações da UE. A UE apresentou um déficit comercial com a China em 2024 de 304,5 bilhões de euros (aproximadamente 356 bilhões de dólares em valores atuais). A UE respondeu por pouco mais de 16% do valor total das exportações chinesas em 2024, o que faz da UE o segundo maior importador da China, atrás apenas dos Estados Unidos. As principais mercadorias exportadas da China para a UE foram equipamentos de telecomunicação e áudio, computadores pessoais e máquinas e equipamentos elétricos. Entre 2014 e 2024, as importações da UE provenientes da China mais do que dobraram (veja: https://www.consilium.europa.eu/en/infographics/eu-china-trade/ ).

A Europa é, portanto, um mercado fundamental para sustentar o crescimento chinês e, nesta integração, o Irã desempenha um papel estratégico. Em primeiro lugar, as rotas de passagem pelo Irã na Nova Rota da Seda (como o Corredor Ferroviário China-Irã) podem reduzir em até quase a metade o tempo de transporte, quando comparado com a via marítima pelo Canal de Suez, rumo ao Mediterrâneo e ao Mar do Norte. Trata-se de um resultado
importante, embora o transporte ferroviário seja mais barato do que o marítimo para grandes volumes, dado o menor tempo e o gargalo representado pelo canal de Suez (sem mencionar a atuação de piratas no Golfo de Aden).
Embora não haja um levantamento oficial dos danos causados pelos conflitos entre Israel e Irã neste último, uma parte significativa da infraestrutura deste último foi atingida. Nada menos do que 28 províncias do Irã (de um total de 31) foram atingidas, algumas delas abrigando entroncamentos ferroviários, portos secos e estações de energia essenciais para a Nova Rota da Seda, tendo havido, por exemplo, destruição na área do porto seco de Aprin e interrupção nas linhas de transmissão de Karaj, centros importantes na logística da Nova Rota da Seda. Isto sem mencionar a insegurança que está afetando toda a região, e que vai desestimular o fluxo de mercadorias pela parte terrestre da Nova Rota da Seda.

Em consequência, a perspectiva de uma maior integração comercial entre a China e a Europa vai ficar mais distante e, desta forma, o país asiático ainda vai depender do transporte marítimo para suas exportações para o continente europeu, o que é preocupante para Pequim, pois suas rotas marítimas dependem crucialmente do congestionado e politicamente tenso Mar do Sul da China, o que deve limitar bastante o crescimento das exportações chinesas para o seu segundo maior mercado, a UE. Essa nova realidade, junto com as barreiras comerciais nos Estados Unidos (ainda que possam ser amenizadas com a perspectiva de um acordo), devem limitar o crescimento chinês daqui em diante.

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