Edição: domingo, 27 de julho de 2025

Ronaldo Fiani

COLUNISTA

Ronaldo Fiani

O Ciclo das Commodities Acabou


Ronaldo Fiani


A ameaça do aumento de 50% nas tarifas de importação dos produtos brasileiros pela atual administração norte-americana tem provocado grande preocupação nos produtores do agronegócio brasileiro e nos gestores econômicos. Contudo, as tarifas de Donald Trump não deveriam ser a nossa única preocupação. Na verdade, a fase de expansão dos preços das commodities, que vem sustentando em boa medida a economia brasileira desde 2000 está terminando, e o aumento de tarifa de 50% em 1º de agosto para as exportações de produtos brasileiros para os Estados Unidos apenas agravaria um processo, que já está em curso.

Destaquei em artigos anteriores (veja, por exemplo, Depois do Fim do Ciclo das Commodities, o Que Nos Resta? Diário de Petrópolis, 9 de fevereiro de 2025), que o ciclo das commodities (matérias-primas, que são exportadas com pouca ou nenhuma elaboração) iniciado no começo de 2000 está em sua agonia final, e que economias como a brasileira, que se tornaram dependentes deste tipo de mercadoria nas suas exportações enfrentariam problemas crescentes.

Isto não significa que uma ou outra commodity não possa apresentar valorizações passageiras. Com efeito, até o momento os alimentos têm tido um bom desempenho no ano: aumento de 2,9% nos preços das exportações brasileiras. Isso não foi suficiente, contudo, para gerar um crescimento positivo, quando se considera sua evolução em 12 meses, com variação de - 1%. Olhando os demais tipos de commodities, a reversão do desempenho é evidente. As matérias-primas agrícolas (produtos como algodão, borracha, celulose, couro, madeira, tabaco etc.) ainda que apresentem valorização de 7% nos últimos 12 meses, registram queda de preços de 7,6% neste ano, e de 19,6% quando se compara junho deste ano com junho do ano passado. Mais interessante ainda é observar os dados sobre os preços de minérios e metais. Trata-se de um tipo de produto cuja valorização responde rapidamente tanto ao crescimento quanto ao declínio da atividade econômica global, devido à sua ampla utilização como insumo industrial.

Isso porque, embora os preços internacionais das commodities sejam todos muito sensíveis às flutuações da atividade econômica global, de uma forma geral alimentos respondem um pouco mais lentamente, pois padrões alimentares tendem a ser um pouco mais estáveis, uma vez que se cristalizam em hábitos de consumo. Quando olhamos para minérios e metais, os preços das exportações brasileiras têm tido um desempenho fortemente negativo há algum tempo: - 4,8% nos últimos 12 meses, - 6,9% acumulado só este ano. A comparação de junho deste ano com junho do ano passado revela também uma queda de 8,7%. Se olharmos os preços das exportações brasileiras de combustíveis, que também são sensíveis ao nível de atividade econômica global, os resultados são igualmente negativos: - 7,8% em 12 meses, - 7,4% acumulado no ano, e - 15,7% se junho deste ano for comparado com junho do ano passado.

O que tudo isto significa? Significa que, para além das tarifas norte-americanas, não podemos mais confiar o futuro da economia do país apenas às exportações de commodities, como temos feito desde o início deste século. Este ciclo favorável nos preços das commodities foi fruto do crescimento espetacular da China nos últimos 40 anos, fato que não deve se repetir, pelos motivos que venho explicando em artigos anteriores (veja, por exemplo, A Nova Rota da Seda é a Vítima Invisível da Guerra entre Israel e Irã, Diário de Petrópolis, 7 de julho de 2025).

Precisamos investir na exportação de produtos industrializados mais elaborados. Estes produtos não são tão suscetíveis às flutuações na economia mundial, pois em geral envolvem setores economicamente mais concentrados (ou seja, com um menor número de firmas competindo, pela sua maior complexidade tecnológica), cujas margens de lucro são maiores e os preços tendem a ser mais estáveis. Não se trata de um esforço simples nem fácil, pois a
conquista de mercados estrangeiros para estes produtos leva tempo e exige muito investimento comercial.

Mas se permanecermos como estamos, confiando apenas no agronegócio e em outras commodities estaremos na rota para o desastre, com as tarifas norte-americanas apenas antecipando o que já é inevitável.

Edição: domingo, 27 de julho de 2025

Veja também:




• Home
• Expediente
• Contato
 (24) 99993-1390
redacao@diariodepetropolis.com.br
Rua Joaquim Moreira, 106
Centro - Petrópolis
Cep: 25600-000

 Telefones:
(24) 98864-0574 - Administração
(24) 98865-1296 - Comercial
(24) 98864-0573 - Financeiro
(24) 99993-1390 - Redação
(24) 2235-7165 - Geral