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Ronaldo Fiani

COLUNISTA

Ronaldo Fiani

Por Que a Competição na Economia Moderna Acontece Por Inovação, Muito Mais do Que Por Preço?

As pessoas normalmente têm uma ideia de competição que se aproxima muito da realidade da economia moderna, bem mais até do que o conceito de competição formulado pela teoria econômica convencional. O senso comum entende competir como superar seus concorrentes, por exemplo, oferecendo um produto melhor, ou desenvolvendo uma nova forma de produzir. Trata-se de uma compreensão bastante correta do sentido da competição na economia moderna.

O conceito de competição na teoria econômica tradicional, ensinado nas faculdades de economia é diferente deste sentido que vimos acima. Este conceito deveria servir apenas como uma abordagem preliminar do funcionamento da economia, e ser empregado somente como uma ferramenta didática para alunos em estágios iniciais de seus estudos de economia.

De acordo com a teoria convencional, a competição não ocorre diretamente, como no caso em que cada empresa tenta superar as demais, porque a teoria convencional parte do princípio de que cada empresa é muito pequena, de forma que sua participação no mercado é irrisória e, portanto, suas decisões são ignoradas pelas demais empresas, já que estas decisões não possuem a capacidade de afetar o preço vigente no mercado. Trata-se de uma suposição que não pretende ser realista (dada a importância das grandes empresas na economia moderna), mas apenas facilitar a análise, o que possui o seu valor didático.

O problema está no fato de que muitos economistas se limitam à teoria convencional como forma de analisar o mundo, e ao se limitarem à teoria convencional são induzidos ao erro, especialmente quando se considera a maneira pela qual a competição efetivamente ocorre na economia moderna, pois a teoria convencional aborda a questão da competição de um modo muito distante da realidade.

Para a teoria convencional, a competição ocorre de forma indireta, pelo mecanismo de preços. De acordo com esta abordagem, quando há poucas empresas em um mercado, a oferta é pequena e, com isto, o preço é elevado e os lucros são maiores do que em outros mercados. Como resultado, empresas que se encontravam nos outros mercados (obtendo lucros menores) se transferem para o mercado em questão, aumentando a oferta neste mercado. A única forma que estas novas empresas conseguem vender seu produto é cobrando um preço menor do que as empresas estabelecidas, o que acaba reduzindo o preço no mercado e os lucros. Nos outros mercados, de onde saíram as empresas, a oferta se reduz, os preços e os lucros aumentam. O processo ocorre até que os lucros se igualem em todos os mercados. Quando os lucros se igualam em todos os mercados, os economistas dizem que eles estão em equilíbrio. Os economistas dizem que há equilíbrio quando ninguém deseja mudar sua situação.

Esta descrição do processo de competição é didaticamente útil para que o estudante de economia entenda como os recursos (isto é, capital e mão de obra) fluem na economia, indo de mercados onde há muita oferta para pouca demanda, para os mercados em que há pouca oferta para muita demanda, se não houver nada que impeça este movimento. Mas é uma descrição muito simplista, que desconsidera características fundamentais da competição na economia moderna.

Na economia moderna, a competição mais importante não se dá porque uma empresa que está entrando em um mercado precisa cobrar preços menores para vender, conforme supõe a teoria convencional, mas porque as empresas inovam: elas desenvolvem novos produtos, ou novos processos produtivos, ou novos mercados, ou novas formas de organização empresarial, ou utilizam novas matérias-primas, ou ainda combinam algumas destas inovações. Com isto as empresas inovadoras obtêm lucros que suas concorrentes não conseguem obter, que os economistas chamam de lucros extraordinários, lucros que superam aqueles que são obtidos com operações rotineiras.

As concorrentes da empresa inovadora não conseguem imitá-la de imediato porque, entre outros fatores, a capacidade para inovar ou imitar uma inovação demanda um processo de aprendizagem, o que leva tempo (sem mencionar proteções legais como as patentes e as marcas comerciais, que impedem a imitação de um produto). Assim, a empresa inovadora pode acumular lucros extraordinários por algum tempo, antes que estes concorrentes consigam imitá-la. Ao contrário da competição por preços da teoria convencional, trata-se de uma competição direta, em que as empresas tentam superar-se mutuamente.

Esta acumulação de lucros extraordinários permite não apenas que a empresa inovadora cresça mais rapidamente; mas também possibilita investir em mais inovações e, assim, sustentar sua posição dominante no mercado. Daí resulta que a competição por preços é pouco importante para as empresas, quando comparada à competição por meio de inovações; e que os lucros dificilmente se igualam nos vários mercados, de modo que a situação de equilíbrio descrita anteriormente na teoria tradicional nunca é alcançada.

O processo de competição por meio de inovações na economia moderna que acabamos de descrever é uma força dinâmica, que se iniciou no final do século XVIII com o aproveitamento da energia a vapor, e nos proporcionou novas tecnologias como a eletricidade, a química, a eletrônica, a aeronáutica, a computação, a biotecnologia, a comunicação digital etc. Esta força dinâmica nunca será compreendida por aqueles que supõem que a competição é somente competição por preços.

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