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Ronaldo Fiani

COLUNISTA

Ronaldo Fiani

O Que o Nobel de Economia Deste Ano Nos Ensina Com a Volta da Destruição Criadora (e Que Muitos Economistas Ignoram)


Ronaldo Fiani

Em geral, o Prêmio Nobel de Economia que é concedido todos os anos pelo Banco Central da Suécia atrai uma atenção apenas passageira (quando muito) do público. Realmente, em alguns casos esta atenção superficial é justificada, mas não é o caso neste ano. O prêmio de 2025 reconhece contribuições que estão diretamente relacionadas à economia tal como a estamos vivendo, embora muitos não saibam e até mesmo muitos economistas não as reconheçam.

De fato, muitos economistas se mantêm presos a uma visão da economia de manual, esquecendo (por conveniência ou mesmo por miopia) que aquilo que os manuais trazem é uma visão muito simplificada e, principalmente, estática da economia. A razão disto é simples: os manuais se destinam a ensinar os conceitos básicos e, com este fim, apresentações simplificadas e estáticas são muito úteis. Mas uma análise concreta exige uma aplicação dinâmica destes conceitos, até porque, sem dúvida, o mundo em que vivemos é radicalmente dinâmico, onde as mudanças se sucedem cada vez mais rapidamente. É fundamental abandonar visões estáticas.

Na visão estática de manual em que muitos economistas se fecham, assume-se que não há inovações tecnológicas, e que os gostos dos consumidores não mudam. Neste mundo ideal e estático, tudo é previsível e todos já sabem de todas as informações de que precisam. Pode-se produzir qualquer coisa, pois as tecnologias de produção são todas conhecidas. Também se assume que as empresas são todas pequenas. Desta forma, a competição só pode acontecer reduzindo-se o desperdício na produção para minimizar os custos e, assim, baixando os preços até o nível que for possível. Não há outra forma de competir.

Em consequência, todas as oportunidades para produzir qualquer coisa que ofereça lucro são exploradas, e as margens de lucro se reduzem ao estritamente necessário para repor os investimentos realizados: ninguém obtém lucros minimamente significativos. Os economistas chamam esta situação de concorrência perfeita. O leitor deve estar surpreso com esta descrição, pela distância que ela apresenta dos fatos, e ele não está errado. A  concorrência perfeita é um bom instrumento para introduzir os conceitos econômicos, mas apenas isto. O problema é que muitos economistas fazem suas recomendações baseados nela!

Vejamos alguns dados sobre o mundo real. No ano passado, a Amazon teve vendas líquidas de US$ 638 bilhões, anos-luz de distância do que seria uma empresa pequena. Seus lucros líquidos no último trimestre do ano passado foram de US$ 20 bilhões. No mesmo período, a Apple registrou um lucro líquido recorde de US$ 36,33 bilhões. A NVIDIA teve um lucro líquido anual no ano passado de US$ 72,9 bilhões.

O que há em comum entre estas empresas, e outras que deixo de mencionar por falta de espaço? Em primeiro lugar, trata-se de empresas gigantescas, que cresceram graças aos lucros proporcionados pelas suas inovações, e não reduzindo preços para competir com as demais. Empresas que inovam a se tornam grandes empresas têm uma enorme vantagem em relação a empresas que buscam apenas ser mais eficientes, reduzindo seus custos e produzindo sempre o  mesmo, porque as grandes empresas desfrutam do que os economistas chamam de economias de escala, ou seja, os custos caem quando a escala de produção aumenta.

Isto acontece, por uma série de razões, entre elas o fato de que maiores escalas de produção permitem maior divisão de tarefas dentro da empresa, o que faz com que as pessoas que trabalham nelas se especializem e, com isso, a produtividade aumente; conforme o fundador da teoria econômica Adam Smith (1723-1790) descobriu ainda no século XVIII, quando publicou em 1776 seu famoso livro A Riqueza das Nações.

Joel Mokyr, um dos vencedores do Nobel desta ano, professor da Northwestern University e da Universidade de Tel Aviv mostrou a importância da combinação do conhecimento prático com o conhecimento científico para a inovação e o crescimento, ou seja, somente aqueles que produzem e acumulam conhecimento técnico e científico conseguem crescer e progredir e, portanto, é preciso competência para gerar novas informações e incorporá-
las em uma sociedade. Portanto, nem todos podem produzir qualquer coisa, nem as tecnologias de produção são todas conhecidas.

Os outros dois agraciados com o Nobel deste ano, Philippe Aghion (professor do INSEAD, o Instituto Europeu de Administração de Empresas) e Peter Howitt (professor da Universidade de Brown) estudaram o processo de destruição criadora na economia moderna: novas atividades econômicas são criadas, com oportunidades de grandes lucros, e desbancam outras atividades que se tornam obsoletas (o lado da destruição). O primeiro economista a
empregar o termo “destruição criadora” foi Joseph A Schumpeter (1883-1950), em seu livro Capitalismo, Socialismo e Democracia (publicado originalmente em 1942). Desta forma, a economia está em permanente transformação, as tecnologias estão em constante transformação e os gostos dos consumidores estão mudando a todo instante.

Qual a lição? Há várias. Uma lição é que o mundo da concorrência perfeita é uma abstração, que serve apenas para introduzir conceitos econômicos, e que a realidade é radicalmente diferente. Também que é preciso produzir conhecimento, inclusive conhecimento científico, para gerar inovações. Talvez a lição mais importante é a de que as inovações são verdadeira a base da competição na economia moderna. Se não aprendermos estas lições, no
mundo da destruição criadora vamos viver apenas a “destruição”.

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