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Ronaldo Fiani

COLUNISTA

Ronaldo Fiani

As Fintechs e a Nova Competição Digital

Ronaldo Fiani

Tenho escrito sobre a nova economia digital, e acerca de como ela vai transformar as formas de competição daqui em diante, mas talvez poucos exemplos recentes sejam tão ilustrativos das mudanças a caminho como crescimento das chamadas fintechs, as empresas financeiras digitais. Estas empresas oferecem serviços inovadores em relação aos bancos tradicionais, em geral com custos mais baixos, podendo atuar em vários segmentos financeiros, como bancos comerciais e seguros.

Este tipo de empresa vem crescendo aceleradamente, inclusive no Brasil. Exemplos deste tipo de empresa são o Nubank, que concorre com bancos comerciais oferecendo contas correntes e cartões de crédito, PickPay, uma plataforma de pagamentos e transferências, PagSeguro, que oferece uma plataforma de pagamentos para o comércio etc.

A nova economia digital explica este crescimento, e a compreensão acerca de como isto acontece ajuda a perceber como as novas tecnologias digitais vão afetar a competição, especialmente em setores onde economias de escala até aqui eram essenciais para a operação em condições competitivas, como é o caso dos bancos comerciais.

Mas o que são economias de escala?

Economias de escala surgem quando há a necessidade de grandes investimentos em instalações, máquinas e equipamentos, que os economistas chamam de capital fixo, para que se possa operar. Quando isso acontece, é preciso atender um grande volume de demanda, como forma de diluir estes custos em capital fixo.

Apenas como uma mera ilustração de como as economias de escala funcionam, suponha que para se instalar, um banco precise investir 100 milhões de reais em agências e instalações administrativas. Se ele tiver uma base de 50 mil clientes, eles terão de gerar uma receita de 2 mil reais em média cada um, para cobrirem os custos de instalação. Já se a base de clientes for de 200 mil, a receita que cada um terá de gerar em média para cobrir os custos fixos se reduzirá para 500 reais, uma receita substancialmente menor, que permitiria ao banco cobrar tarifas mais reduzidas. Quanto maior o número de clientes, menor a necessidade de receita por cliente e, assim, menores as tarifas.

Mas por que os bancos tradicionais precisavam investir tanto em capital fixo (instalações, máquinas e equipamentos)? Essencialmente para coletar, processar e administrar as informações de seus clientes: seus dados pessoais, suas movimentações financeiras e suas condições de solvência, de forma a ajustar a oferta de crédito às condições de pagamento de cada cliente, reduzindo o risco de inadimplência.

A revolução digital em curso, como o armazenamento de dados na nuvem reduziu dramaticamente as exigências de capital fixo, permitindo às fintechs administrar um volume enorme de informações com poucos recursos administrativos. Isto permite que pequenas empresas com capital fixo reduzido ofereçam serviços com custos mais baixos, em comparação até mesmo com os grandes bancos comerciais, apesar destes últimos diluírem seus custos em uma grande base de clientes. Além disso, estas tecnologias digitais também estão possibilitando adequar os serviços ao perfil de cada cliente, atraindo pequenos clientes que não se sentem à vontade com as exigências padronizadas dos bancos.

Assim, temos que, de uma forma geral, as novas tecnologias digitais tendem a reduzir as barreiras à entrada produzidas pelas economias de escala. Barreiras à entrada são limitações ao número de empresas que competem em um setor, mesmo que o setor apresente lucratividade elevada. No caso do sistema financeiro, tínhamos antes da revolução digital as barreiras à entrada causadas pelas economias de escala, que resultavam da necessidade de grandes investimentos em capital fixo.

Isto quer dizer que o futuro são as fintechs? Previsões são ofício de videntes e cartomantes, não de economistas. O que o economista deve fazer é apontar tendências, e chamar a atenção para o risco que elas podem envolver. Na medida em que as novas tecnologias digitais estão reduzindo as barreiras à entrada no sistema financeiro, elas estão permitindo a entrada de empresas com uma base de clientes mais reduzida e menos diversificada do que as bases dos grandes bancos comerciais.

Ocorre que o grande número e a diversificação são essenciais para reduzir o risco: quando se empresta para um grupo grande e diversificado de clientes, os clientes de menor risco compensam os clientes que representam um risco mais elevado. Uma base de clientes menor e menos diversificada representa, desta forma, maior risco. As agências reguladoras do sistema financeiro, o Banco Central, a Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) terão de estar atentas a isto.

Devemos nos preparar: as novas tecnologias digitais vão reduzir as barreiras à competição nos setores que forem usuários das novas tecnologias.

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