Edição: sábado, 15 de março de 2025

Sabor em cena

Marcelus Fassano

Sabor em cena

ROLHA OU TAMPA DE ROSCA? A VERDADE QUE NINGUÉM CONTA

Você já torceu o nariz ao ganhar um vinho com tampa de rosca? Se a res- posta for sim, saiba que não está sozinho. Muita gente ainda acredita que a qualidade de um vinho está diretamente ligada ao tipo de rolha, e que apenas a cortiça é capaz de preservar e valorizar a bebida. Mas será que isso é mesmo verdade?

Outro dia, assistindo a um filme, que agora não lembro o nome, vi uma cena que me chamou a atenção. A personagem principal, uma apressada executiva, presenteia a mãe ou a sogra milionária com uma garrafa de vinho. Ao notar que tem tampa de rosca (screw cap), a senhora reage com um olhar de desaprovação, como se aquele detalhe fosse suficiente para desqualificar a bebida.

Essa cena reflete um preconceito real: a crença de que bons vinhos sempre têm rolha de cortiça. Mas a realidade é mais interessante e menos previsível.

Cortiça: a tradição que respira e evolui

A rolha de cortiça é a mais clássica e conhecida. Extraída da casca do sobreiro, árvore encontrada principalmente em Portugal, tem sua maior vantagem na micro-oxigenação: uma troca sutil de ar entre o exterior e
o vinho, permitindo que ele amadureça e se desenvolva ao longo dos anos. Mas nem todas as rolhas de cortiça são iguais.

Para vinhos de guarda, que podem envelhecer por décadas, utiliza-se cortiça maciça e longa, garantindo uma vedação eficaz e evolução gradual. Já para vinhos mais jovens e de consumo rápido, são mais comuns as rolhas menores ou compactadas, feitas de partículas de cortiça aglutinadas, que permitem menos troca de oxigênio.

Tampa de rosca (screw cap): inovação a favor do frescor

Muito comum em países como Austrália e Nova Zelândia, a tampa de rosca (screw cap) foi desenvolvida como uma solução moderna para vedação. Diferente da cortiça, ela impede a entrada de oxigênio, mantendo a bebida fresca e vibrante por mais tempo. Isso faz com que seja uma escolha perfeita para vinhos brancos, rosés e tintos jovens, que não precisam de oxigenação para evoluir. Além disso, o screw cap elimina o risco de contaminação por fungos, garantindo que o vinho chegue ao consumidor exatamente como o enólogo planejou.

A resistência a essa tampa vem do passado, quando vedação metálica era associada a vinhos baratos. Mas grandes produtores já comprovaram que a screw cap pode preservar vinhos
tão bem quanto a cortiça  apenas com um efeito diferente.

Outras vedações: equilíbrio entre custo e desempenho

Além da cortiça e da screw cap, há ainda as rolhas técnicas e sintéticas. As técnicas, feitas de cortiça moída e colada, sendo comuns em vinhos de médio prazo. Já as sintéticas, feitas de polímeros plásticos, eliminam riscos de contaminação, mas não permitem oxigenação, sendo indicadas para vinhos de consumo rápido.

O que realmente importa?

No fim das contas, a vedação do vinho não define sua qualidade, mas sim sua proposta e o tempo de consumo ideal. Então, na próxima vez que abrir uma garrafa, antes de julgar a rolha, preste atenção no vinho. Ele sempre terá algo a dizer, independentemente de como foi vedado.

Ah...se souber o nome do filme, manda no @tchelofassano que vou adorar.

Edição: sábado, 15 de março de 2025

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