Marcelus Fassano
Fazia tempo que uma estreia não me causava tanta expectativa e, neste caso, ela tinha nome e sobrenome: Rafa Costa e Silva.
O chef do Lasai, um dos restaurantes mais premiados do país, escolheu Petrópolis para realizar um antigo desejo: abrir uma casa com alma italiana. E o resultado é o Bonaccia Osteria.
“Bonaccia quer dizer calmaria, e é isso que a gente quer passar”, me disse Rafa, em áudio enviado direto da cozinha. “Que a pessoa chegue, respire o verde, olhe para o jardim, se desconecte, tudo isso com muito sabor.”
Fui conhecer o Bonaccia ao lado da minha esposa, Isabela, num almoço muito especial. Desde a chegada, recebidos pelo próprio Rafa com sua simpatia tranquila, até o serviço impecável do início ao fim. E o melhor: não escolhemos nada do que comemos. O chef nos conduziu por uma sequência pensada por ele, prato a prato.
Começamos com Salumi e Formaggi, que são os embutidos feitos na casa e fatiados ali mesmo pelo Rafa. Sabores incríveis, acompanhados de queijos bem selecionados.
Na sequência, o Raviolo all’Uovo e Spinaci. Uma gema caipira no centro da massa, que escorre ao ser cortada e se funde ao creme de espinafre, formando um molho aveludado. Foi servido com pão artesanal, ainda morno. Prato de textura delicada e sabor marcante.
Logo depois, um crudo de atum com avelã e stracciatella, aquela parte cremosa que fica no interior da burrata, que trouxe acidez, untuosidade e crocância ao mesmo tempo. Um prato leve e bem resolvido, que equilibrou a sequência.
Circulando pelo restaurante, notei o cuidado com a estrutura. Forno a lenha, Josper, aquele com carvão, câmara de cura, fábrica de massas, tudo funcional, tudo em operação. A nova área externa, cercada de verde, traz um respiro à experiência e comprova que ali nada é apenas para foto.
O polvo na brasa com batata-doce caramelizada, prato da Isabela, tinha aroma, cor e crocância que só o fogo de verdade entrega. Um dos muitos indícios de que os fornos não são apenas decorativos eles dão sabor, textura, marcam.
O meu prato principal foi um tortelli recheado com carne Angus, moldado à mão, servido com molho encorpado e uma salada de ervas frescas. A massa, como todas ali é feita na casa. Textura perfeita, recheio suculento e molho profundo, daqueles que te fazem pausar entre garfadas.
Na harmonização, a sommelière Maíra montou uma carta enxuta, precisa, com rótulos italianos, brasileiros e uma seleção bem pensada de vinhos em taça, algo raro nesse padrão de gastronomia e que fez toda diferença na experiência. Pudemos harmonizar cada prato com o vinho ideal, sem precisar abrir uma garrafa inteira.
E o serviço? Afinado. Discreto, gentil, competente, à altura da proposta.
Fechamos com um tiramisù feito na hora, montado com pão de ló, café e cacau. Acompanhado de um cálice de Porto LBV.
Durante a conversa, Rafa disse algo que resume bem a proposta:
“A gente não veio competir, veio somar. Já tem muita coisa boa na serra. Queremos contribuir, fazer parte, e fazer diferente.”
E conseguiu. O Bonaccia já nasceu grande e com alma.
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