Marcelus Fassano
A ideia começou simples: entrevistar a petropolitana que conquistou o Brasil ao vencer o MasterChef. Mas nada é tão simples quando o assunto é TV. Antes de falar com a Dani, precisei mandar e-mail para a Endemol, dona do formato. Só depois da autorização é que ela pôde sentar comigo para conversar.
Ela vinha ao Rio e combinamos de nos encontrar no Le Pulê, em Ipanema, um restaurante francês com toques brasileiros, charmoso, cheio de personalidade e cenário perfeito para receber uma campeã. Assim que entrei, vi a cena: ela já estava sentada. E, claro, todo mundo no restaurante sabia quem era. Passavam, olhavam, cochichavam. As meninas da mesa ao lado comentaram: “É a vencedora do MasterChef”. Esse é o poder do programa: transforma cozinheiros em celebridades quase instantaneamente.
Na TV, a imagem que passou foi de uma mulher séria, focada, até dura. E ela é focada mesmo. Mas fora das câmeras, Dani é outra história: falante, divertida, cheia de tiradas engraçadas. Eu, que sou conhecido por não parar de falar, descobri alguém que me superou. Rimos muito. Descobrimos amigos em comum de Petrópolis. Foi daqueles encontros leves, em que o tempo passa sem você perceber.
Aí ela abriu o jogo. Foram 78 dias em São Paulo, rotina de metrô, estudo e estúdio. Cansativo, puxado, quase três meses fora de casa. “Tem que estar com a vida toda ajustada para encarar isso”, confessou. E ainda tinha a pressão da competição.
A história começa bem antes, na Rua Teresa, quando passava tardes observando a avó Lourdes preparar doces em panelas de cobre. O cheiro do açúcar queimando marcou a memória. Sua primeira experiência foi tentando reproduzir os caramelos que mais amava: os da Casa D’Angelo. “Foi ali que entendi que cozinhar é também guardar memórias”, disse.
Dali em diante, veio a paixão pelos frutos do mar, especialidade que virou sua marca. E foi justamente uma lula de Arraial, famosa pelo sabor e maciez, que abriu as portas do MasterChef. Mas não na primeira vez. Na primeira tentativa, um ano antes da vitória, Dani foi reprovada: não conseguiu se adaptar ao fogão de indução. O fracasso na primeira tentativa poderia ter sido o fim. Para ela, foi só o começo. Comprou um fogão de indução, instalou na churrasqueira de casa, treinou meses e, quando voltou no ano seguinte, estava pronta. E entrou.
Nos bastidores, nada do clima hostil que a edição sugeria. “Eles tinham grupos mais fechados, mas comigo a relação era bem tranquila. Não éramos melhores amigos, mas também não havia ódio.”, revelou.
O maior baque veio na prova do sushi. Desempenho ruim, nervos à flor da pele, e a sensação de que o sonho tinha acabado. Só não saiu porque uma concorrente usou ingrediente proibido. “Naquele dia, o destino me deu uma segunda chance”, disse.
A virada veio logo depois. Sua mousse de cambuci com pimenta e hortelã enlouqueceu os jurados. Criativa, autoral, inesperada. Foi mais que um prato: foi a volta da menina da Rua Teresa, que descobriu nos doces da avó o poder de transformar lembranças em alta gastronomia.
Hoje, vivendo de frente para a Lagoa de Araruama, Dani se diverte com a fama. “Sou muito reconhecida nas ruas e adoro”, admite. Mas seu olhar já está em Petrópolis. O sonho agora é abrir um restaurante de frutos do mar na cidade natal. Uma volta para casa, fechando o ciclo que começou com os caramelos da infância e culminou no título mais cobiçado da gastronomia brasileira.
Uma última curiosidade: perguntei qual o chef que ela mais gostou no programa. A resposta veio sem pensar duas vezes Erick Jacquin, claro! ‘muito tompero’. Foi impossível não rir. Um final perfeito para uma tarde deliciosa.
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