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Sabor em cena

Marcelus Fassano

Sabor em cena

A culinária italiana como patrimônio histórico da humanidade

Foto 1
A culinária italiana acaba de receber um reconhecimento histórico: foi oficialmente declarada Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Uma decisão inédita que vai muito além da gastronomia. Ela reconhece um modo de viver, de cozinhar, de sentar à mesa, de transmitir valores. Aquele jeito italiano que muitas vezes chega a ser caricato. Me incluo nessa. Inclusive, comprei até uma camisa que me define bem: “Não estou gritando sou italiano”.

Quando falamos de cozinha italiana, falamos de memória afetiva. De receitas que passam das nonas para os netos, de ingredientes simples, de tempo, de conversa e de amor pela família. É exatamente isso que a Unesco reconhece: não apenas pratos famosos, mas a cultura e a história de um povo.

No Brasil, essa herança encontrou terreno fértil. Somos um dos países com a maior comunidade italiana fora da Itália. Estima-se que mais de 30 milhões de brasileiros tenham ascendência italiana, o que ajuda a explicar por que massas, pães, queijos, vinhos e os rituais à mesa fazem parte do nosso cotidiano de forma tão natural.

Em São Paulo, essa presença é tão marcante que o estado instituiu o Dia Estadual da Imigração Italiana, celebrado em 16 de abril, data da chegada do navio La Sofia ao porto de Santos, em 1874. Sofia é também o nome da minha filha caçula, um nome de origem italiana que mais tarde seria eleito um dos mais bonitos do mundo. No Rio de Janeiro, embora a presença italiana também seja profundamente relevante, a celebração oficial acontece no Dia Nacional do Imigrante Italiano, em 21 de fevereiro, reconhecendo a contribuição dessa comunidade para a formação cultural e econômica do país.

Foto 2
E é impossível falar dessa herança sem olhar para Petrópolis. Nossa cidade abriga excelentes restaurantes italianos, que vão muito além da simples reprodução de receitas. Na minha memória, o primeiro restaurante italiano foi o Farfarello. Lembro de sair do centro em direção a Itaipava com toda a família para curtir as massas artesanais. Muito mais que um almoço, era o programa do fim de semana. Depois vieram Da Zaldine, Zafferano, Il Perugino, Locanda e o mais recente Dom Eloy, que é em Areal, mas já está em casa.

São casas que respeitam a técnica, os ingredientes e a tradição, sem deixar de dialogar com o contemporâneo. Restaurantes que entendem que cozinha italiana não é exagero, é equilíbrio. É a simplicidade bem tratada dos produtos.

Temos também um grande símbolo dessa ligação cultural: a Casa d’Italia de Petrópolis, comandada pela minha amiga e professora Grazia Vescovini. Um espaço que atua como verdadeiro centro de preservação cultural. Além de eventos e encontros, a Casa d’Italia oferece aulas gratuitas para a população, mantendo viva a língua, os costumes e a identidade italiana de forma generosa e acessível.

Esse reconhecimento internacional chega em um momento importante. Ele nos convida a valorizar ainda mais aquilo que muitas vezes tratamos como óbvio: a comida que reúne, que acolhe, que conta histórias. A culinária italiana não foi reconhecida apenas pelo que está no prato, mas pelo que acontece ao redor da mesa.

E talvez seja exatamente por isso que ela seja tão universal. Porque, no fundo, fala sobre algo que todos entendemos muito bem: amor e pertencimento.

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