Bruna Nazareth
O ambiente de trabalho, muitas vezes, é estressante devido a carga excessiva, a pressão e as relações interpessoais desgastantes, o que pode levar a problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade, síndrome de Burnout e transtorno de pânico. Por isso, o bem-estar se tornou um dos principais critérios na escolha de um emprego.
Delegar tarefas de forma estratégica e promover um equilíbrio entre corpo e mente não beneficia apenas os funcionários, mas também representa um investimento positivo para as empresas. Para isso, novas tecnologias estão sendo desenvolvidas para aprimorar as relações de trabalho, como aplicativos de Inteligência Artificial (IA) que monitoram as horas trabalhadas, oferecem técnicas para descanso e relaxamento e auxiliam na busca imediata de soluções para crises emergentes.
“A IA tem um potencial gigantesco para personalizar o bem-estar no ambiente corporativo. Com base em dados individuais, como padrões de produtividade, interações e até sentimentos expressos em comunicações internas, a IA pode criar recomendações personalizadas, indicando pausas estratégicas, ajustes de carga de trabalho e até sugestões de conteúdo para desenvolvimento emocional. Mas o mais importante é que essa tecnologia não pode ser fria e mecânica ela deve servir como um guia que potencializa o autoconhecimento e a humanização das relações no trabalho. O segredo não é apenas coletar dados, mas usar essas informações para criar um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo”, esclarece a especialista em gestão de pessoas, Tânia Zambon.
Ética
Para que a junção da Inteligência Artificial e bem-estar seja eficaz, as empresas precisam agir de forma ética, garantindo que essa tecnologia seja usada de forma benéfica, sem transformar o bem-estar emocional em mais um produto digital.
“O grande erro que muitas empresas cometem ao adotar novas tecnologias é usá-las apenas como um check-list para parecerem inovadoras. Bem-estar emocional não pode ser tratado como um produto digital automatizado, mas sim como uma ferramenta para gerar transformação real”
Para a especialista, a ética no uso da IA precisa passar por três pilares, são eles:
Transparência: Os funcionários precisam saber como a tecnologia está sendo usada e qual o objetivo por trás dela.
Consentimento: A participação em programas de IA para bem-estar deve ser voluntária, nunca imposta.
Humanização: A IA deve servir para ampliar o suporte emocional, e não substituir a conexão humana no ambiente de trabalho.
Uma nova fonte de estresse?
Para muitos, a Inteligência Artificial pode trazer novas pressões e expectativas, tornando-se uma fonte adicional de estresse. Entretanto, o seu propósito é justamente o oposto, é facilitar a rotina e não gerar sobrecarga. O problema não está na tecnologia, mas na forma como ela é inserida na cultura da empresa.
“Se a empresa automatiza tarefas, mas ao mesmo tempo aumenta a pressão por resultados, a IA deixa de ser um facilitador e vira uma fonte de esgotamento. Para evitar isso, a implementação da IA precisa vir acompanhada de mudança na mentalidade de liderança”
De acordo com Zambon, é essencial equilibrar produtividade e bem-estar, garantindo que as expectativas de desempenho sejam claras e realistas.
“A IA deve ser um suporte e não um substituto da capacidade humana. Se bem utilizada, a IA pode até reduzir a carga mental e permitir que os profissionais se concentrem no que realmente importa, ao invés de ficarem presos em tarefas mecânicas”, frisa.
Estou sendo monitorado?
Os funcionários podem enxergar essa nova tecnologia como uma ferramenta de monitoramento, o que de fato pode acontecer. No entanto, a maneira como a IA será interpretada, como suporte ou mecanismo de vigilância, vai depender diretamente de sua implementação na empresa.
“Quando uma empresa usa IA apenas para medir produtividade e analisar padrões de comportamento, o funcionário sente que está sendo vigiado. Mas quando a tecnologia é usada para potencializar o bem-estar e facilitar a rotina, ela passa a ser um diferencial positivo. A chave para garantir essa percepção está em oferecer controle ao funcionário. Ele deve ter acesso e autonomia sobre os dados coletados, podendo escolher como e quando interagir com a IA. Dessa forma, a tecnologia se torna um aliado e não um fiscal do desempenho”, explica Zambon.
IA pode substituir os profissionais de saúde mental?
O receio de qualquer profissional é que a Inteligência Artificial venha “tomar” os seus empregos. Contudo, é importante ressaltar que essa tecnologia nunca substituirá a experiência humana, especialmente no campo da saúde mental.
“Um algoritmo pode analisar padrões de comportamento, sugerir pausas e até oferecer insights sobre emoções mas ele nunca substituirá a empatia, o olhar clínico e a inteligência emocional de um profissional de verdade. O ideal é que a IA funcione como um complemento, ajudando a identificar padrões antes que se tornem problemas críticos. Por exemplo: Se a IA percebe que um funcionário está apresentando sinais de burnout (baseado em mudanças no ritmo de trabalho e padrões de comunicação), ela pode sugerir um acompanhamento humano antes que a situação se agrave. Portanto, a IA pode ser um radar poderoso, mas a tomada de decisão final sempre deve ser humana”, conclui.
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